Dia do Treinador: relembre técnicos do Brasil que se destacaram em Paris 2024

De campeã Olímpica a mãe de atleta, muitos técnicos do Brasil se destacaram nos Jogos Olímpicos Paris 2024, seja coroando longas trajetórias, ou começando de forma certeira novas carreiras. Neste Dia do Treinador, celebramos alguns dos principais nomes do Brasil nos Jogos Olímpicos Paris 2024.

13 minPor Mateus Nagime
Rebeca Andrade e Chico Porath Neto nos Jogos Olímpicos Paris 2024
(Ricardo Bufolin/CBG)

Cada atleta chega a uma edição dos Jogos Olímpicos com sua jornada própria e única em busca de uma medalha. Porém, se todos têm algo em comum é o fato de terem por trás treinadores que se dedicam incansavelmente para extrair o melhor de cada atleta ou equipe rumo à glória Olímpica. Neste dia 25 de setembro comemora-se o Dia do Treinador e o Olympics.com destacou alguns dos treinadores que fizeram bonito e brilharam nos Jogos Olímpicos Paris 2024.

Alguns são famosos e já estão associados diretamente aos atletas. Outros fazem um trabalho mais de bastidores e não aparecem muito nos grandes eventos. Tem aqueles que comandam uma mesma seleção há décadas, enquanto outros recém-chegaram. Há também aqueles que são famosos pelo grande público por conta de suas comemorações efusivas - ou mesmo um modo comedido de expressar alegria. Enquanto alguns atletas preferem ter um nome para servir de norte, outros preferem trabalhar com uma grande equipe em que cada peça se complementa de forma perfeita.

Não podemos deixar de mencionar os casos em que membros da família exercem a função de treinador - ainda que na maioria dos outros, os treinadores estão há tanto tempo no convívio dos esportistas que praticamente já são considerados da família. Sem mais delongas, vamos à nossa lista de técnicos do Brasil que se destacaram nos Jogos Olímpicos Paris 2024.

Francisco Porath Neto e Iryna Ilyashenko, ginástica artística feminina

“Sou como um pai que pode estar na arena de competição”; é assim que se define Francisco Porath Neto, técnico de Rebeca Andrade e da seleção brasileira feminina de ginástica artística com exclusividade ao Olympics.com durante os Jogos Pan-Americanos Santiago 2023. “Eu participei dessa criação, desse desenvolvimento da Rebeca criança, adolescente e agora mulher com uma personalidade forte. São duas emoções, a do treinador e da pessoa que cuida dela”, explicou Chico Porath, o técnico principal da seleção brasileira feminina.

Se depender do treinador, ela estará em LA28 e ele seguirá ao seu lado. “A Rebeca tem possibilidades de ir para uma próxima Olimpíada, vou fazer de tudo para que ela continue num alto nível e possa aumentar ainda mais os números dela, ela merece”, declarou o técnico da seleção de ginástica após os Jogos Olímpicos Paris 2024 ao Olympics.com.

Ele começou como um estagiário de educação física em 2000 e, atualmente, divide o comando da seleção feminina de ginástica artística com Iryna Ilyashenko, ucraniana que permaneceu em Curitiba após revolucionar o treinamento do esporte no Brasil ao lado de Oleg Ostapenko.

Após a conquista da medalha por equipes, Iryna valorizou o desempenho das atletas como um ápice de sua carreira ao jornal O Globo. “Estou super feliz, eu já não sei se eu posso já ter, já aposentar, porque essa medalha foi um pique na minha carreira, com certeza”, comentou, ressaltando a liderança de Rebeca Andrade dentro da equipe, mas sugerindo que uma das estrelas da ginástica artística feminina pode logo mais também virar uma treinadora.

Jade (Barbosa) é como uma mãe para elas. Ela cuida. (...) Essa é uma parte muito importante da Jade: ela juntou a equipe. Vou falar mil vezes que eu agradeço de coração que ela está aqui com 33 anos e com outra cabeça. Praticamente a gente tem um(a) treinador(a) lá dentro (do tablado)”, afirmou a técnica.

Sarah Menezes, Leandro Guilheiro e Kiko Pereira, judô

Sarah Menezes assumiu o comando da Seleção Brasileira de Judô em dezembro de 2021, substituindo um ícone da modalidade, Rosicleia Campos. No início de 2022, ela começou muito bem, conquistando várias medalhas no circuito mundial da Federação Internacional de Judô (IJF). Em outubro, o judô feminino do Brasil chegou ao ápice com o bicampeonato mundial de Rafaela Silva e o inédito tricampeonato mundial de Mayra Aguiar. Além disso, Beatriz Souza levou a prata, um pódio inédito na categoria +78kg.

Em 2023, a seleção feminina de judô do Brasil sob o comando de Sarah conquistou resultados marcantes, como o título de Mayra Aguiar no tradicional Grand Slam de Tóquio, feito anteriormente alcançado apenas por Sérgio Pessoa, da categoria 60kg, ainda em 1986. Já no Mundial de Judô em 2023, Bia Souza foi bronze, além de ter conquistado o Grand Slam de Baku.

Com o título de Beatriz Souza, Sarah Menezes se tornou a primeira judoca campeã Olímpica como atleta e depois treinadora de uma campanha dourada. Mas além dela que estava no canto do tatame, outro ex-judoca medalhista Olímpico e agora treinador teve um papel fundamental na conquista de Bia: Leandro Guilheiro, treinador do Pinheiros, clube paulista, que contou com quatro atletas na seleção.

Ao Olympics.com em março deste ano, Bia foi só elogios a respeito de Leandro Guilheiro, de quem é próxima: "Ele é dedicação e disciplina em pessoa".

Além de Beatriz Souza (+78kg), os outros dois judocas medalhistas individuais do Time Brasil treinam com Guilheiro durante todo o ano: Larissa Pimenta (52 kg) e Willian Lima (66 kg). Rafael Silva, o 'Baby' (+100 kg) completa o clube de atletas do Pinheiros. Medalhista de bronze na prova por equipes mistas, 'Baby' se tornou o judoca mais velho a subir ao pódio na história dos Jogos Olímpicos. Ele foi bronze na categoria +100kg tanto em Londres 2012 quanto na Rio 2016.

Em entrevista exclusiva ao Olympics.com durante o camping da Confederação Brasileira de Judô (CBJ) em Pindamonhangaba em maio deste ano, Leandro Guilheiro já havia destacado Beatriz Souza como uma das principais chances de medalha, relembrando que ela já era uma das melhores judocas do mundo em sua categoria em 2021, mas enfrentava concorrência interna forte de Maria Suelen Altheman.

“A Bia já estava pronta também para ir aos Jogos lá de Tóquio. Foi importante esse período de maturidade pra ela, conquistou medalha em todos os Mundiais que participou neste ciclo Olímpico. Então, ela chega pronta”, afirmou.

Sobre Willian Lima, medalhista de prata na categoria 66kg, ele já havia cravado que “é um cara que gosta dos grandes eventos, da grande pressão, da grande visibilidade do evento”.

Willian Lima se tornou o primeiro judoca masculino do Brasil a chegar em uma final Olímpica no século XXI. Ele fez uma boa luta, mas caiu para o japonês Abe Hifumi, bicampeão Olímpico e tetracampeão mundial.

Auxiliando o gaúcho nos Jogos Olímpicos Paris 2024 estava o técnico da seleção masculina de Judô, Antônio Carlos Pereira, mais conhecido como Kiko Pereira. Técnico do Sogipa, ele ficou conhecido do grande público pela comemoração efusiva durante a vitória de Willian na semifinal diante de Gusman Kyrgyzbayev, do Cazaquistão. Juntos, Kiko e Sarah comandaram a conquista da primeira medalha em Jogos Olímpicos por uma equipe mista, em qualquer esporte, na história.

Lucas Palermo, vôlei de praia

Se no vôlei de quadra, o técnico está sempre nos holofotes, no vôlei de praia o seu trabalho é mais discreto, mas não menos importante. A conquista do ouro por parte de Ana Patrícia e Duda teve um apoio fundamental de Lucas Palermo, treinador da equipe desde 2022. Ele também é treinador do Praia Clube Uberlândia, na qual as campeãs Olímpicas treinam. Antes disso, ele já tinha ido aos Jogos Olímpicos Tóquio 2020, quando foi analista de desempenho da dupla Ágatha e Duda.

"Ele é acima da média", contou Márcio Oliveira, professor de Educação Física de Lucas, ao Correio Popular em julho deste ano. "Tem um conhecimento profundo do vôlei de praia, além de saber trabalhar com pessoas e superar dificuldades com sabedoria e inteligência".

Ao contrário de Zé Roberto Guimarães e Bernardinho, Lucas Palermo não fica próximo das jogadoras durante a partida e portanto o trabalho precisa também oferecer um excelente apoio psicológico. Essa mentalidade ajuda para que as jogadoras saibam a hora certa de uma parada técnica e também para o que falar nestes momentos. “Nosso trabalho é sempre prévio. Todo na gestão do treinamento, na teorização até ali na hora que as meninas entram no aquecimento”, conta Lucas.

Arthur Elias, futebol

Em 2023, Arthur Elias comandou um ano quase perfeito do Corinthians. Em primeiro de setembro de 2023, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) acertou com o técnico e ele começou um trabalho visando os Jogos Olímpicos Paris 2024 e a Copa do Mundo 2027 que será disputada no Brasil.

Formado em educação física pela USP, apaixonado por futebol, começou a trabalhar no futsal universitário, antes de migrar para o campo e ser técnico do Nacional do Acre por dois anos a partir de 2009.

A campanha do futebol feminino do Brasil foi de altos e baixos. Após uma vitória por 1 a 0 sobre a Nigéria, o Brasil caiu para o Japão (2 a 1) e Espanha (2 a 0). Com um saldo de gol ligeiramente melhor que o da Austrália, o Brasil foi às quartas, onde brilhou. Venceu a França por 1 a 0, goleou a Espanha por 4 a 2, antes de cair numa final disputada diante dos EUA por 1 a 0 e conquistar a medalha de prata.

Em entrevista à CazéTV ele se disse orgulhoso que as jogadoras se identificam e entendem seus planos táticos e aposta nesta confiança rumo ao título na Copa do Mundo e quem sabe o ouro em LA28.

Curiosamente, ele é primo de Lula Ferreira, técnico do basquete masculino bicampeão nos Jogos Pan-americanos Santo Domingo 2003 e Rio 2007. Lula chegou a ser professor dele e foi só elogios ao primo em entrevista ao ge.com. “Ele fazia as coisas que no alto rendimento é normal fazer, só que com recurso, com dinheiro para investir, tecnologia. Ele não tinha isso, mas ia atrás. Ele é muito dedicado, muito firme nas atitudes dele”, avalia.

Pelo trabalho no Corinthians e na Seleção Brasileira, Arthur Elias foi indicado ao prêmio Bola de Ouro, oferecido pela France Football.

Gianetti Sena, atletismo

A história de Caio Bonfim rumo à inédita medalha na marcha atlética começou antes mesmo dele nascer. Seu pai, João Sena, treinava a disciplina e assim conheceu Gianetti Sena, que era sua aluna. Gianetti, mãe de Caio, virou atleta de destaque na marcha atlética brasileira, sendo campeã brasileira múltiplas vezes na prova do atletismo. No fim de sua carreira como atleta, os dois uniram forças e passaram a treinar Caio, sendo que hoje a mãe assume a figura principal nos treinos.

"Não tem como separar as relações. Minha mãe também era marchadora e, quando se aposentou, virou técnica junto com meu pai. A gente sempre foi próximo, temos um nível de intimidade muito alto. Desde a escola, quando praticava esportes, ela estava lá me incentivando, cobrando a melhorar", contou Caio ao UOL sobre a relação com Gianetti.

Gianetti esteve em Paris para auxiliar o filho nos últimos preparativos rumo aos Jogos Olímpicos, que disputou pela quarta vez. Após sofrer com pressão baixa devido à sua ansiedade durante a prova, ela se recuperou a tempo de ver Caio Bonfim cruzar a linha de chegada em segundo lugar. Agora, a atleta e treinadora segue com planos de popularizar ainda mais a marcha atlética.

"Além de treinadora, sou mãe. E o que uma mãe quer? Que o filho alcance sucesso, vida longa e êxito nas escolhas. Vejo meus amigos falando que não querem que os filhos sigam suas profissões. Eu me sinto honrada e privilegiada. Se ele escolheu marchar, é porque deixei um bom legado", contou ao Correio Braziliense

Lauro ‘Pinda’ de Souza Júnior, canoagem velocidade

Quando Isaquias Queiroz surgiu para o mundo Olímpico, ficou evidente também a importância de sua parceria com Jesús Morlán. O técnico espanhol foi o responsável pela seleção brasileira de canoagem velocidade a partir de 2013 e seu trabalho deu frutos na Rio 2016: a primeira medalha do Brasil no esporte na história Olímpica. E era só o começo. Isaquias saiu da capital carioca com três medalhas, em um feito até então inédito para atletas do país nos Jogos Olímpicos.

Lauro de Souza Júnior, o ‘Pinda’, era o auxiliar técnico e assumiu o comando da seleção após o falecimento de Morlán no final de 2018. Levando adiante os planos traçados pelo mestre espanhol, Lauro foi fundamental para Isaquias conquistar o sonhado ouro olímpico em Tóquio 2020. Porém, aos poucos, Pinda começa a deixar de forma mais e mais evidente sua própria contribuição para a canoagem do Brasil.

Após um ciclo conturbado, o técnico foi fundamental para que Isaquias mantivesse o alto nível e a dedicação que lhe valeram a quinta medalha em Jogos Olímpicos, com a prata em Paris 2024. Isaquias ainda mira LA28, mas aos poucos a canoagem velocidade do Brasil mostra que há um futuro promissor pela frente.

Em Tóquio, Isaquias disse que o ‘pacto’ com o Comitê Olímpico do Brasil era que a geração de Jesús conquistasse dez medalhas Olímpicas para a canoagem velocidade brasileira. Curiosamente foi esse o número de medalhas do Brasil no Olympic Hopes, uma importante competição juvenil da canoagem velocidade realizada na semana passada em Szeged, Hungria. Nomes como Lorrane Santos Souza, no sub-15, Lucas Espírito Santo Santos, no sub-16, saíram com várias medalhas.

Lidando com uma nova geração que cresce em meio à redes sociais, Pinda tenta orientar para que os seus atletas consigam conquistas similares a de Isaquias. "Eu não peço para não entrar (em redes sociais). Eu só peço para não levar em consideração; nem muito para cima nem muito para baixo. A gente tem que saber equilibrar”, comentou aos repórteres depois da conquista da prata.

Ross Williams, Jessé Mendes e Paulo Moura, surfe

Tatiana Weston-Webb conquistou em Paris 2024 a primeira medalha do surfe feminino do Brasil nos Jogos Olímpicos. Foi o ápice de uma carreira não só vitoriosa no circuito mundial do esporte, onde compete de forma individual, mas também em eventos em que ela defende as cores do Brasil.

Em 2023 ela foi medalhista de ouro nos Jogos Pan-Americanos Santiago 2023 e campeã dos Isa Games, além de ter sido vice em 2024, em uma final que foi fundamental para o Brasil obter a terceira cota do surfe feminino, que iria para a amiga Luana Silva. Para conciliar tantos torneios em todos os cantos do mundo, é claro que é necessária uma equipe grande ao seu redor.

Ross Williams é o treinador principal, mas que conta com a dedicação de muitas outras pessoas, como o marido Jessé Mendes, que esteve em Tóquio 2020 como treinador de sua esposa. Além disso, Paulo Moura, diretor técnico da CBSurf também colaborou nestes últimos anos, em especial em projetos focados aos Jogos Olímpicos

“Toda esta estrutura oferecida mudou, literalmente, a minha vida inteira. Eu nunca tive uma preparação tão forte na minha carreira, especialmente esse ano, antes dos Jogos Olímpicos. E o lado psicológico também. Eu estou me sentindo super forte mentalmente. Uma atleta de alto nível precisa dessas coisas para sobreviver e eu estou sentindo que estou no topo da minha carreira agora. Estou mais mais forte. Estou conseguindo bons resultados”, contou à comunicação do Comitê Olímpico do Brasil.

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