Stephanie Balduccini atinge maioridade e vai à NCAA: ‘Vai me deixar mais forte’

Revelação da natação feminina brasileira se prepara para um novo desafio nos EUA, enquanto lida com as expectativas externas e os bons resultados. Confira a entrevista para o Olympics.com a poucos dias do Mundial de Piscina Curta.

6 minPor Sheila Vieira
Stephanie Balduccini
(Wander Roberto/COB)

Stephanie Balduccini está acostumada a andar (e nadar) com os mais velhos. Em Tóquio 2020, a promessa da natação brasileira estreou em Jogos Olímpicos aos 16 anos, nos revezamentos 4x100m livre feminino e misto. Quando voltou ao Brasil, queria fazer uma tatuagem dos aros olímpicos, mas precisou de autorização especial.

“Tive que assinar um monte de termo para poder fazer, mas fiquei muito feliz. As pessoas olham e falam ‘nossa, você é olímpica!’”, contou Stephanie ao Olympics.com, antes do Mundial de Piscina Curta, de 13 a 18 de dezembro, em Melbourne, na Austrália.

Com 18 anos recém completados, Stephanie despontou em 2022, com 11 medalhas nos Jogos Sul-americanos da Juventude (oito de ouro) e oito na competição adulta (sete de ouro). No Mundial deste ano, em Budapeste, foi 10a nos 100m livre e 12a nos 200m.

“Depois de Budapeste, fiquei com a sensação de quero mais”, afirmou.

No próximo ano, ela vai encarar um novo desafio: a NCAA, liga universitária americana, pela Universidade de Michigan. Como conciliar os estudos com a busca pela vaga em Paris 2024? De que forma lidar com a pressão de ser um prodígio? Descubra abaixo.

(Wander Roberto/COB)

Stephanie Balduccini rumo à NCAA

A mudança para os EUA - no meio do ano que vem - não é novidade entre nadadoras brasileiros, mas o foco de Stephanie também é fora do esporte.

“Foi uma escolha bem difícil. Estava conversando com várias universidades e levei muito em consideração a parte dos estudos também. A carreira de nadador acaba com 35, 40 anos, depois a vida segue”, afirmou.

Nas piscinas de 25 jardas (22,86 metros), a brasileira pretende trabalhar em alguns pontos em que ainda vê espaço para evolução.

“Vai me deixar mais forte e melhorar minha ondulação e minha virada, que são elementos que eu ainda preciso melhorar muito. Vai me deixar mais veloz e isso vai refletir nas piscinas de 50 metros também.”

Mas não pense que ela vai ficar só por lá. A nadadora pretende continuar participando dos eventos mais importantes do calendário brasileiro e internacional.

“Por mais que a NCAA seja em jardas, eu quero vir para o Maria Lenk, para o Finkel, para o Mundial, e se eu classificar e para as Olimpíadas vai ser em 50 metros também. Vai ser bom mesclar os dois.”

Apesar de ter nascido e crescido em São Paulo, Stephanie é de família britânica e italiana, sempre falando inglês em casa e na escola bilíngue. Sua maior conexão com o Brasil veio justamente pela água.

“Foi a natação que fez surgir mais o meu lado brasileiro, porque me obrigou a falar mais português, aprender mais sobre o Brasil. Representar o Brasil é muito especial para mim.”

Ir além em Paris 2024

Com a bagagem de Tóquio 2020 e do Mundial de Budapeste, Stephanie acredita que estará preparada para dar mais um passo em Paris 2024.

“[Paris 2024] está no pensamento de todo mundo. Depois de Tóquio, penso o quanto ia doer não viver aquilo de novo. Na primeira vez, você fica meio perdido, porque é muita coisa acontecendo”, lembrou.

“Na Olimpíada, eu não conseguia controlar o meu corpo, eu chacoalhava, é muito estressante, mas isso te ajuda a evoluir como pessoa. Saí de lá mais independente, sabendo me virar melhor. Fui me acostumando a competir com as meninas mais velhas, que são bem mais fortes fisicamente.”

O objetivo principal é a classificação em uma prova individual.

“Ano passado eu estava bem longe e agora estou a centésimos do índice de 100 e 200 livre. Queria muito uma semifinal e quem sabe uma final olímpica individual, além de nadar o revezamento, que está muito forte”, disse.

‘Desliguei as notificações do Instagram’

Como boa representante da geração Z, Stephanie gosta de postar danças nas redes sociais. Mas a interação com o público nessas plataformas também pode ser cruel para os atletas.

“Desliguei todas as minhas notificações do Instagram”, revelou. “Essa coisa das redes foi algo que me abalou muito, bem mais do que as pessoas imaginam. O medo de ser cancelada é enorme por falar algo errado, porque português não é minha primeira língua. Tenho medo de me expressar mal.”

No entanto, as redes também trouxeram boas vibrações para Stephanie. Ela tem aprendido bastante com o perfil da psicóloga de natação Susannah Muller, além de fazer terapia.

“Quando sentia que não treinei bem, isso acabava comigo, e eu parava de acreditar no meu potencial. Tinha muito medo de não evoluir mais e ficar presa”, acrescentou.

A jovem recordou de um conselho de Bruno Fratus, medalhista olímpico de bronze nos 50m livre.

“O Bruno disse que se as pessoas falam de mim, é porque dei um motivo para eles ficarem de olho. Estou aprendendo devagar a não ligar para a opinião dos outros, porque ninguém sabe o quanto a gente se esforça para estar ali.”

(CBDA)

Inspiração em outras mulheres

Neste ano, Stephanie teve a chance de nadar na raia ao lado de Katie Ledecky, dona de 10 medalhas olímpicas. A maior lição que a brasileira tirou da lenda da natação foi o seu comportamento.

“Ela [Ledecky] está sempre sorrindo e, mesmo se não estiver feliz, ela continua sorrindo para não passar a mensagem de tristeza”, comentou.

Na seleção brasileira, Stephanie também tem aprendido bastante. Inicialmente, ela achou as nadadoras mais experientes muito sérias, mas logo entendeu o porquê.

“Eu queria imitar as meninas, mas elas me ensinaram a fazer a minha parte. Elas são mais sérias porque estão focadas. Tem que saber a hora certa de soltar uma piada ou de ficar mais na sua”, afirmou Stephanie.

O importante é ter o apoio das companheiras nos momentos mais importantes.

“Quando fiz 1:57 nos 200m, a Gigi [Giovanna Diamante] veio me abraçar, a Aline [Rodrigues] também. Elas estavam felizes por eu ter feito o índice. A gente se ajuda a crescer e evoluir. É bom ter essa amizade, porque você pode contar com elas quando uma não está 100% psicologicamente”, disse a brasileira, que também contou com o apoio da campeã mundial Etiene Medeiros em Tóquio.

Além de Stephanie, o Brasil tem crescido na natação feminina, com direito a seis finais em Budapeste. Houve a primeira decisão com duas brasileiras – Beatriz Dizotti e Viviane Jungblut nos 1500m livre – e sexto lugar para os revezamentos 4x100m e 4x200m, com Stephanie na água.

“Lembro no passado que, se a gente batesse um recorde, não ia ganhar tanta atenção quanto os meninos batendo um recorde”, opinou. “A natação feminina está cada vez mais respeitada e admirada. Também estamos crescendo em outros esportes e fico feliz, porque merecemos esse reconhecimento.”

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