Diogo Ribeiro está só começando: 'Pressão é normal quando os resultados aparecem'
Promissor nadador português contou em entrevista para o Olympics.com sobre sua história, do acidente que quase o fez interromper a carreira nas piscinas aos fatores que o conduziram ao excelente ano de 2022, em que colecionou medalhas internacionais, como as três de ouro no Mundial Júnior.
Diogo Ribeiro é uma das grandes revelações da natação portuguesa e teve em 2022 um dos melhores anos da carreira, senão o melhor. Foi ao pódio nos Jogos do Mediterrâneo, no Campeonato Europeu e faturou três medalhas de ouro no Mundial Júnior, em Lima, no Peru.
Impossível imaginar que há pouco mais de um ano, o jovem coimbrense de 18 anos - completados em 27 de outubro - quase teve sua carreira interrompida em função de um acidente automobilístico. "Foi uma semana no hospital e, de cadeira de rodas, foi bem difícil", lembrou.
Entretanto, era o começo de uma virada que o projetou. Deixou a cidade natal e em setembro de 2021 partiu para a capital, Lisboa, a dedicar-se ao tratamento das lesões causadas pelo acidente. "Demorei apenas dois meses para voltar aos treinos. Os médicos apontavam 10 meses", disse. "À medida que eu me recuperava mais rápido, passei a acreditar outra vez", acrescentou.
O Olympics.com entrevistou Diogo Ribeiro, que tratou de acreditar e foi medalhista de bronze nos 50m borboleta do Campeonato Europeu, ouro nos 50m e 100m borboleta e nos 50m livre do Mundial Júnior.
A mudança para Lisboa: um recomeço
Em Lisboa assumiu o compromisso com o Sport Lisboa e Benfica, com quem já tinha um acordo antes do acidente. O clube deu-lhe o que precisava. Não era somente a questão financeira, mas a estrutura para os treinos e para que realizasse a sua recuperação. "Eu já tinha um contrato, já havia uma conversa com a Federação de vir para Lisboa. Houve o acidente e o Benfica acreditou em mim. Devo-lhes muito", relembrou.
Fã de futebol e torcedor do clube, representá-lo significa muito para Diogo, que declarou: "Existe muita coisa que, para mim, faz a diferença, como o espírito de equipe, a mística, o clube em si é muito grande e os atletas de todas as modalidades estão nas bancadas a te apoiar."
O retorno aos treinos coincide com a chegada do treinador brasileiro Alberto Silva - que trabalhou por muitos anos com os medalhistas Olímpicos César Cielo e Thiago Pereira - à Federação Portuguesa de Natação (FPN). 'Albertinho', como é conhecido, passou a atuar com a elite da natação de Portugal, entre eles, o recém-incorporado Diogo Ribeiro. “Quero trabalhar com atletas que aceitem o desafio como eu aceitei. Eu larguei a minha casa, os meus amigos e a minha família", disse Albertinho para o jornal 'Observador'.
Assim como Albertinho, Diogo também tinha deixado tudo para trás em Coimbra. "Viver sozinho...não há a proteção dos pais...é obrigatório mudar o estilo de vida e viver como adulto", refletiu.
Natação dentro e fora d'água
Lançou-se aos treinamentos e, ao mesmo tempo, passou a estudar mais a natação, além de conversar mais com a comissão técnica. As reuniões com o biomecânico Samie Elias, o preparador físico Igor Silveira, além do próprio Albertinho, fizeram-no a levar tudo mais a sério e a acreditar mais ainda. "Eles acreditaram em mim e, se calhar, eu não teria sido tão forte. Gosto muito do método de treinamento, estou a fazer séries mais longas e de resistência, acho que têm dado resultado", colocou.
Acreditar o fez deixar de ter medo e, assim, arriscar nas provas. Em abril deste ano, no Campeonato Nacional, realizado na sua natal Coimbra, deixou o recado do que estava por vir, ao superar quatro recordes adultos durante o torneio: "Todos os recordes são especiais. Mas o dos 100m livres é o mais...eu nem tinha grandes expectativas para essa prova", comentou para o site 'MaisFutebol'.
Logo em seguida foi para a Dinamarca, onde conseguiu abaixar consideravelmente suas parciais, tempos que permitiram com que ele acreditasse ainda mais. "Foram indicativos de um possível recorde do mundo", comentou.
Pódio nos Jogos do Mediterrâneo e histórica medalha no Europeu
Nome confirmado para os Jogos do Mediterrâneo, entre junho e julho, na Argélia, foi ouro nos 50m borboleta e prata nos 100m livre. "Eu estava bem em nível psicológico. Disse ao Albertinho que iria raspar os pêlos e ganharia o ouro. O Albertinho disse 'raspa e vai pra cima'. Tirei os pêlos e ganhei o ouro nos 50m borboleta. Depois a prata nos 100m livres", recordou em meio às risadas.
Perguntado se as medalhas na Argélia deram a ele confiança, Diogo discorda. "Confiança não exatamente, mas continuar a acreditar no processo. Acho que me deu motivação, estava apenas a treinar, não competia muito...mas isso foi algo que aprendi, porque treinar é preciso."
Os resultados colocaram-no na seleção portuguesa para disputar o Campeonato Europeu, em agosto, em Roma. Na 'Cidade Eterna', Diogo deu para Portugal um histórico bronze, o terceiro de sempre do país no evento, com o tempo de 23s07. Recorde nacional e a dois centésimos do recorde mundial júnior.
Antes disso, as medalhas lusas tinham sido as de Alexandre Yokochi, com o bronze nos 200m costas em Sófia 1985 e Alexis Santos, também bronze nos 200m medley, em Londres 2016.
"Todos queriam que eu fizesse o recorde mundial júnior nos 50m borboleta (23s05) e eu fiz 23s07, nem vi que tinha ficado em terceiro. Vi o tempo e fiquei triste, mas eu saía da água e dei-me conta que havia terminado na terceira colocação. Falei para mim mesmo: 'espera, isso é bom'."
Isso foi realmente bom. À medida em que o trabalho era feito, os resultados apareciam e saltavam aos olhos, ou melhor, no peito em forma de medalha.
No entanto, o melhor estava para acontecer.
A glória no Mundial Júnior, em Lima
"Não consegui o recorde no Campeonato Europeu (nos 50m borboleta) e fiquei desapontado. Para o Mundial Junior não fiquei preocupado com recordes e procurei fazer apenas a minha prova", lembrou.
Diogo foi para o Peru com uma semana de antecedência, para adaptar-se ao fuso horário e ao clima. "Fui me habituando e comecei a sentir-me bem à medida em que as provas se aproximavam", observou.
Em 1º de setembro, o primeiro ouro, nos 100m borboleta, com o tempo de 52s03. No dia seguinte voltou às águas do Complexo da Vila Esportiva Nacional para vencer os 50m livre ao fazê-los em 21s92. No dia 3, faturou os 50m borboleta, com o tempo de 22s96 e com a quebra do recorde mundial na categoria.
"Não tenho palavras para este momento. É espetacular, não consigo descrever. Eu queria muito esse título, na minha mente...e o corpo faz aquilo que a mente acredita", disse Diogo para as redes da Fina (Federação Internacional de Natação).
As conquistas valeram ao nadador do SL Benfica o prêmio de melhor atleta do Mundial Júnior Lima 2022. Ao ser questionado se o Campeonato Europeu ajudou na preparação para o Mundial da categoria, não teve dúvidas:
"Sim, sem dúvida, o ritmo do Europeu me ajudou para o Mundial Júnior. Em termos de experiência, para chegar mais confiante. Competir com mais velhos, adquirir experiência, na minha idade, talvez seja o mais importante."
A saúde mental: "O corpo alcança o que a mente acredita"
Entre os fatores que Diogo destaca terem sido fundamentais para as conquistas dentro d'água, ele cita a saúde mental. "O corpo alcança o que a mente acredita. Serve para tudo, treinos, provas e vida. Mente a 100%, corpo a 103%", comentou.
A pouca idade e os bons resultados sugerem objetivos ainda mais altos e, consequentemente, lidar com a pressão para obtê-los. Sobre isso, ele é claro: "Não ligo para o que falam (sobre ser o grande nome da natação portuguesa). Pressão é algo normal quando os resultados aparecem e acho que vai sempre existir, ainda mais dos portugueses, que nunca estiveram muito habituados a ter resultados de nível mundial na natação."
Um ano que consolida Diogo Ribeiro na elite da natação de Portugal e faz dele das esperanças de resultados nos Jogos Paris 2024. Um sonho que ele alimenta desde que começou a acompanhar pela televisão (Londres 2012) e que compartilha: "Um dia, quem sabe, (conquistar) uma medalha Olímpica. Nadar ao lado do Caeleb Dressel e quem sabe subir ao pódio com ele. Gostaria de estar presente em três ou quatro edições de Jogos."
O norte-americano é um dos seus ídolos, o que o fez contar uma curiosa história. Quando criança, por pouco não largou a natação. "Disse à minha treinadora (Rita Gonçalves) que se ela não me ensinasse a nadar borboleta, eu sairia da natação para ir ao futebol. E ela ensinou-me", lembrou.
Por que o estilo borboleta? "Visivelmente era o mais difícil, apaixonei-me rapidamente", respondeu de imediato.
Ao concluir, lembrou outro ídolo: "A partir daí fiquei a ver o Miguel Nascimento, grande nadador português, e eu dizia: 'vou ganhar daquele gajo'. Hoje eu ganho dele algumas vezes e isso hoje deixa-me orgulhoso porque sei que lutei pelos meus sonhos e consegui atingi-los."
Fez uma pausa e finalizou: “Agora faltam os outros sonhos.”
As conquistas internacionais de Diogo Ribeiro em 2022
- Jogos do Mediterrâneo - ouro nos 50m borboleta;
- Jogos do Mediterrâneo - prata nos 100m livre;
- Campeonato Europeu - bronze nos 50m borboleta;
- Mundial Júnior - ouro nos 50m borboleta;
- Mundial Júnior - ouro nos 100m borboleta;
- Mundial Júnior - ouro nos 50m livre;