Ricardo Brancal e Manuel Ramos disputam a vaga portuguesa do esqui alpino em Beijing 2022
Portugal tem dois lugares garantidos na competição Olímpica do esqui alpino em Pequim, um em cada gênero. Entre os homens, a disputa está entre Ricardo Brancal e Manuel Ramos. O Olympics.com conta a trajetória desses dois covilhanenses rumo aos Jogos Olímpicos de Inverno.
Covilhã é uma cidade com pouco mais de 30 mil habitantes e bem próxima à Serra da Estrela, lugar bastante conhecido entre os portugueses para a prática dos esportes de inverno, entre eles o esqui alpino. Foi nessa modalidade que Portugal debutou em Jogos de Inverno, na edição de Oslo 1952, com Duarte Espírito Santo.
Sete décadas depois, Portugal já tem duas vagas garantidas em Beijing 2022 no esqui alpino, uma para cada gênero. Entre as mulheres, Vanina Guerillot encaminha-se para representar o país. Já entre os homens, Ricardo Brancal e Manuel Ramos seguem na disputa pela vaga. Ambos da Covilhã, apesar da diferença de idade possuem origens semelhantes no esporte que remetem à cadeia montanhosa perto de onde nasceram.
Com pouco mais de 20 dias para os Jogos Olímpicos de Inverno, o Olympics.com conta a trajetória de Manuel e Ricardo na modalidade e a busca dos dois por um lugar em Pequim.
Manuel Ramos: "Só está nas minhas mãos o meu trabalho"
"Comecei a esquiar em Andorra nas férias em família, e regularmente passei a esquiar com o meu pai na estação da Serra da Estrela. Isso deu a mim o gosto pelo esqui", lembra Manuel Ramos sobre como começou e como o lugar o influenciou a seguir no esporte.
Esse começo foi logo cedo, aos três anos de idade. Aos sete, algo curioso aconteceu: muito ao acaso participou de uma prova que, também por acaso, era o campeonato português. Isso era no começo do ano. Meses depois, entraram em contato com o seu pai e convidaram-no para voltar a participar da mesma prova, já que tinha sido campeão nacional. Foi aí que Manuel se deu conta de que podia levar o esporte mais a sério. Era o início de um projeto Olímpico.
Passou a treinar de maneira mais intensa, somou pódios e conquistas. Adquiriu experiência, com três a quatro provas por ano fora de Portugal. "Desde muito novo o objetivo principal foram os Jogos Olímpicos," lembra Manuel, que se recorda de ter acompanhado Sochi 2014. Hoje com 19 anos de idade, tem no currículo a participação nos Jogos Olímpicos de Inverno da Juventude Lausanne 2020 e 10 títulos nacionais, no slalom e no slalom gigante.
A preparação
Concilia treinos e competições com a universidade. É estudante de Gestão, em Lisboa, no ISCTE (Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa). A temporada 2021/2022 começou bem no slalom gigante, tendo ficado abaixo dos 160 pontos FIS (sigla em francês para Federação Internacional de Esqui) em cinco provas. Já no slalom, não foi muito bem, mas tem melhorado. No geral, ele sublinha: "Estou a esquiar bem, estou a conseguir a pôr em prática um nível bastante coerente em relação aos treinos."
Entretanto, a pandemia da Covid-19 alterou a preparação de muitos atletas, quer seja na temporada 2020/2021, ou na atual. No caso de Manuel, testou positivo para o vírus logo depois no Natal, quando voltou do campeonato nacional de Montenegro, em Kolasin. "Era para estar em Andorra agora a treinar, mas testei positivo para Covid. Tinha algumas provas até a data limite (em 16 de janeiro divulgam os classificados para os Jogos), mas agora tudo ficou embaralhado, preciso ver como tudo vai correr, estou em quarentena. Tenho que adaptar o calendário," colocou. Desde então, não voltou a competir.
Apesar do contratempo, Manuel sabe que ainda há muito por vir e enfim realizar o seu sonho Olímpico. Afinal, para ele o esqui é vida. Quer desfrutar da modalidade e contribuir para seu avanço em Portugal. Demonstra maturidade, experiência e, para isso, conta com a juventude a seu favor. Sabe onde quer chegar: "Só está nas minhas mãos o meu trabalho."
Cedo ou tarde, Manuel só depende de si próprio e tem o tempo ao seu lado.
Ricardo Brancal: "Representar Portugal significa tudo"
Aos 25 anos de idade, outro natural da Covilhã, Ricardo Brancal é forte candidato para estar em Pequim. Começou no esqui alpino também aos três, com a ajuda do pai, quando em férias com a família nos Pirineus franceses. Passou a praticar todos os anos, ora por perto na Serra da Estrela, ou um pouco mais longe, na Espanha ou na França. A partir dos quinze, dezesseis anos, já era parte de uma equipe local da localidade francesa de Lamogy. "Era o único português ali e treinava apenas duas semanas por ano," relembra. Ao mesmo tempo também era parte de outra equipe, na Serra Nevada, sul da Espanha. Entretanto, não participava regularmente de treinos e torneios, algo que a alta competição exige.
O cenário mudou a partir de 2018, quando passou a fazer parte do projeto de Portugal para Beijing 2022. Desde 2020 é membro de uma equipe italiana em Alta Badia (sul do Tirol), para onde se mudou em outubro passado, a fim de treinar e competir mais, rumo aos Jogos Olímpicos de Inverno. "Tive uma evolução brutal. Abaixei muito os meus pontos. Consegui fortalecer o meu ritmo para os Jogos," disse Ricardo após participar do nacional de Montenegro, pouco antes do Natal.
Ricardo tem os índices Olímpicos e consegue mantê-los desde janeiro de 2021. "Em um espaço curto de tempo eu tive que mostrar muita evolução," reflete Brancal, para que pudesse se manter na equipe italiana e na disputa por uma vaga em Pequim. Para estar nos Jogos, precisa em 16 de janeiro ser o melhor no ranking de Portugal e estar na média de corte de pontos FIS das últimas cinco provas do slalom e do slalom gigante.
Recentemente, Brancal participou do campeonato nacional cipriota, também em Montenegro e no último fim de semana esteve em Turnau, na Áustria em provas do slalom que contaram pontos para o ranqueamento. Ficou longe da família nas festas de fim de ano: "É um sacrifício que vale a pena...custa sempre um bocado, nunca passei o Natal sem a família, mas é para um bem maior. Vai valer a pena representar Portugal," diz.
Agora, aí quando perguntado sobre representar o país, ele responde imediatamente: "Representar Portugal significa tudo." Ricardo quer participar dos Jogos, mas não só isso, quer obter o melhor resultado de sempre para o país, repetindo um feito como o de fevereiro de 2021, ao terminar entre os 40 melhores do planeta na etapa de Cortina d'Ampezzo (ITA) do Mundial de esqui alpino.
Legado
Ao lado dele, a família e os amigos não economizam apoio. Além disso, reconhece que o suporte aos atletas portugueses tem crescido pouco a pouco e o que ele quer com tudo isso: "Somos um país que tem pouca neve ou praticamente nenhuma, mas temos aqui atletas. Quero dar a entender que qualquer criança que quiser competir nos Jogos pode fazê-lo, não é impossível. Não comecei cedo em alto nível, e se eu consegui, qualquer pessoa em Portugal pode também conseguir," conclui.
Atualmente Ricardo Brancal é o melhor português no ranking do esqui alpino, em 1712º lugar no slalom gigante e 3018º no slalom. Manuel Ramos está em 2578º no slalom gigante e 3309º no slalom.
A lista de atletas classificados para o esqui alpino dos Jogos Olímpicos de Inverno sai no próximo dia 16 de janeiro.
Portugueses pela neve e pelo gelo
Mais atletas lusos estiveram em competições na Europa. Diogo Marreiros ficou em 11º lugar na largada em massa no europeu de patinação de velocidade, disputado em Heerenveen, nos Países Baixos. Diogo já não tem mais chances de classificação para os Jogos em Pequim.
Ainda na briga por um lugar em Beijing 2022, Christian de Oliveira terminou em 59º no slalom gigante paralelo da Taça do Mundo de snowboard, no sábado dia 8, em Scuol (Suíça). Ele ainda terá mais duas competições - desta vez na Áustria - a fim de fazer os índices necessários para a classificação para os Jogos: dias 11 e 12 de janeiro em Bad Gastein e dias 14 e 15 do mesmo mês em Simonhohe.
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