Podcast: Daiane dos Santos e seu legado de representatividade 20 anos após título mundial
Primeira brasileira campeã mundial na ginástica artística, ela relembra no 12º episódio do podcast do Olympics.com, a conquista do título no solo em 2003 e reflete sobre o impacto de sua carreira no esporte e na cultura brasileira.
Há duas décadas, Daiane dos Santos (BRA) escrevia um dos mais belos capítulos do esporte brasileiro, ao conquistar, com uma exibição impecável no solo, o Mundial de Ginástica Artística, em Anaheim, nos Estados Unidos.
Uma vitória que não se limita ao esporte. Daiane rompeu barreiras e derrubou tabus também na sociedade. Sua personalidade e amor pela ginástica são exemplo para milhões de jovens Brasil afora. Serviu de - e ainda é - inspiração para uma geração de ginastas brasileiros que seguem a encantar o planeta, como Rebeca Andrade.
Com uma história de vida de muito trabalho e dedicação, repleta de vitórias, dona de três participações Olímpicas e movimentos na ginástica que levam o seu nome, Daiane é a convidada do 12º episódio do podcast em português do Olympics.com.
Durante a conversa de uma hora, ela volta àquele 24 de agosto de 2003 e celebra os 20 anos de quando foi campeã do mundo. Não apenas relembra a conquista, como também a preparação para aquele Mundial, além de resgatar como começou no esporte. Falou das rivais à época e lembrou-se com carinho dos professores e treinadores.
No episódio, ela compartilhou sobre as estrelas de hoje e analisou as recentes conquistas da ginástica do país. Posicionou-se sobre temas que fazem parte do universo do esporte de alta competição, como as lesões e a saúde mental. Com plena consciência do seu legado, refletiu sobre o impacto da sua carreira no cotidiano do Brasil, sem se esquecer das músicas que marcaram a sua carreira.
Confira abaixo as melhores frases de Daiane dos Santos, durante a 12ª edição do podcast, que você pode ouvir aqui ou nas mais diversas plataformas.
Eu acho que o título do Mundial ele vem como uma presença de representatividade de várias questões, né? Mostrar que uma brasileira ou um brasileiro pode ser sim o melhor no que se faz, pessoas pretas no Brasil também e no mundo podem ser campeãs. Eu acho que esse título do Mundial mostra muito isso, que uma menina que começa aos 11 anos pode ser campeã do mundo. Uma mulher preta, um homem preto, uma brasileira, um brasileiro podem ser sim melhores no mundo do que fazem.
Quando perguntada sobre quais barreiras ela acha que seu título de 20 anos atrás rompeu.
É uma coisa que eu tenho muito falado sobre isso, sobre esporte, que o esporte é pra todos, independente da cor da pele, independente da classe social, é independente do seu corpo. Enfim, é pra quem gosta e pra quem ama e pra quem quer estar ali, é pra quem quer viver diferente. Eu acho que o legado é isso. A minha história dentro da ginástica é muito diferente da grande maioria. Comecei com 11 anos e fui campeã do mundo em nove anos de trabalho, porque com 20 anos eu fui campeã do mundo. Então imagina, pra uma menina que muita gente falou que nunca seria uma ginasta. Não só fui, como fui a melhor. Então eu acho que isso é muito legal, sabe? De as pessoas acreditarem, acho que o legado é esse, de as pessoas acreditarem e entenderem que o sonho da gente, quem faz é a gente.
Em resposta ao que acredita ser seu principal legado para o esporte.
Bom no Brasil, enfrentei algumas questões, questões raciais, apesar de ser um país de 62% de uma nação considerada negra, a gente ainda tem problemas com questões raciais no Brasil, como a gente tem no mundo inteiro. Tinham outras meninas pretas que também treinavam, inclusive comigo, mas a gente não tinha tantas assim. Hoje a gente tem um número muito maior, né? Inclusive as últimas campeãs Olímpicas, tirando a Sunisa Lee, foram pretas. Então, acho que isso é muito interessante da gente ver essa evolução quanto questão racial dentro da ginástica.
Em relação a como foi o seu início na ginástica artística.
A preparação do Mundial foi um pouco conturbada, conturbada porque ela foi não uma preparação convencional, porque dois meses antes do Mundial, um pouquinho menos eu operei meu joelho, eu tive uma lesão de menisco do joelho direito e não tinha como não operar para poder competir. Como o nosso principal objetivo era ter a equipe mais completa e mais forte no Mundial para a gente conseguir alcançar nosso objetivo, que era classificar o Brasil pela primeira vez para os Jogos Olímpicos com seis ginastas, então eu já sabia que para eu poder estar na equipe junto nesse momento, eu precisaria fazer a cirurgia. Foi uma decisão que a gente precisou tomar ali todo o conjunto da seleção para eu poder ter condições de competir. Porque sem essa cirurgia, não teria como. Para que fazendo a cirurgia, teria também que ter esse tempo para recuperar a cirurgia e também estar preparada para o Mundial. Então, essa preparação para o Mundial foi um pouco diferente do convencional, né? Ali eu não estava 100% para poder executar todas as séries e isso fez com que a gente mudasse algumas questões dentro da série, entre elas o duplo twist carpado, que acabou entrando
Ao relembrar a preparação para o Mundial de 2003.
Eu acho que todos nós nos vemos nela. Eu falo que ela é a gente hoje, ali dentro. E quando eu falo, não só nós de nossas, eu falo no Brasil todo. Mas é óbvio que quando eu, quando eu penso eu, Dayane, conectada diretamente com ela, eu vejo várias associações. Não só por sermos meninas negras, mas por sermos meninas de comunidade. A gente é movida a desafios. Eu sei que a Rebeca também tem isso. Assim, esse olhar para sempre querer mais, desafio novo, estar sempre melhor. E eu acho que isso a gente tem muito parecida, eu e ela. Mas ela é muito mais madura do que eu. Ela tem me surpreendido assim. A maturidade da Rebeca, a sabedoria dela, a tranquilidade dela nas competições. Isso é tão legal da gente ver. Eu acho que eu era muito mais impulsiva do que ela. Eu não era tão controlada assim, eu era mais emocional do que ela, com certeza.
Em uma reflexão sobre ela também se vê em Rebeca Andrade.
Podcasts do Olympics.com
Confira os dez primeiros episódios do podcast em português do Olympics.com no Spotify:
- Episódio 1 | José Roberto Guimarães fala sobre a expectativa para o Pré-Olímpico de vôlei
- Episódio 2 | Debinha analisa atual momento da seleção brasileira feminina de futebol
- Episódio 3 | Augusto Akio explica como chocou o mundo do skate com vice mundial
- Episódio 4 | Ketleyn Quadros e os segredos da longevidade no judô
- Episódio 5 | Carol Solberg, um sonho Olímpico em família
- Episódio 6 | Tatiana Weston-Webb, a embaixadora do surfe feminino brasileiro em busca da medalha Olímpica
- Episódio 7 | Bruno Fratus, as braçadas de um brasileiro pela glória em Paris 2024
- Episódio 8 | Carol Gattaz luta contra burnout, lesões e o 'etarismo' no esporte feminino
- Episódio 9 | O que esperar do Mundial de Esportes Aquáticos 2023, por Alex Pussieldi
- Episódio 10 | Copa do Mundo Feminina: Renata Mendonça analisa Brasil e favoritas
- Episódio 11 | Darlan Romani, o homem de família em busca dos feitos mais incríveis
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