Augustinho Teixeira: o snowboarder brasileiro que veio do fim do mundo

Nascido na cidade mais meridional do planeta, Augustinho Teixeira desde muito pequeno sempre soube o que queria fazer na neve: voar. Optou pelo snowboard e pelo Brasil, e agora é uma das esperanças do país na busca por um lugar em Beijing 2022. O Olympics.com falou com esta jovem promessa brasileira dos esportes de inverno.

6 minPor Virgilio Franceschi Neto
Augustinho Teixeira (BRA) compete no slopestyle no Campeonato Mundial de Esqui Estilo Livre em março de 2021, em Aspen, EUA.
(2021 Getty Images)

Ushuaia, Terra do Fogo, Argentina. Aos 54 graus de latitude sul está a cidade mais ao sul do planeta, terra natal de Augustinho Teixeira. Por isso recebe a alcunha de ser "o fim do mundo". De pai argentino e mãe brasileira, aos dois anos de idade teve uma experiência com o sandboard, durante férias com a família no Ceará.

Tomou gosto.

Quando voltou à Terra do Fogo, começou a esquiar com três anos no Glacial Martial. Pouco tempo depois, aos quatro anos, já filiado ao local Club Andino, viu alguns garotos brincarem com o snowboard e pediu à mãe. "Eu brincava com a prancha, no colchão do meu quarto. De vez em quando escapava pelas montanhas para poder praticar." relembra Augustinho.

Com bom sul-americano, é apaixonado pelo futebol. O coração dele é dividido entre Boca Juniors e São Paulo. Aos 16 anos, com uma introversão comum para quem está nessa faixa etária, um jeito simples que mistura compromisso e diversão, Augustinho conversou com o Olympics.com e contou como está a preparação em busca de uma vaga nos Jogos Beijing 2022.

(2021 Getty Images)

Os primeiros passos

Já muito pequeno estava matriculado em escola de esqui. Aos cinco anos praticava o surfe quando das férias da família, junto com o snowboard, na Terra do Fogo. Entretanto, antes disso, aos quatro, Augustinho ficou em 2º lugar em um campeonato local de esqui. Um estopim. Foi aí que a mãe, Elenilda, entrou em contato com a Confederação Brasileira de Desportos de Neve (CBDN). Começava ali uma parceria que dura até hoje.

Conciliava o esqui com o snowboard no Club Andino, em Ushuaia. No esqui, foi-lhe permitido fazer o slalom e o slalom gigante, mas quando se deu conta, viu que queria mesmo o snowboard. "Tive a sensação das manobras e dos voos. Era isso que eu queria. Muito por influência do sandboard," diz Augustinho.

Ele ainda complementa sobre o que sente durante a execução de um salto: "É nada e tudo ao mesmo tempo. Fico ligado no meu próximo movimento, mas estou com o fone de ouvido e curtindo tudo aquilo."

A família ainda achava bastante perigoso o jovem atleta praticar os saltos, mas foi através de uma declaração de Diego Linares, referência argentina do snowboard, que ela se convenceu. Com poucas horas de treino, Augustinho tinha o sorriso escancarado no rosto e o aval de Linares: "Ele aposentou os esquis. Deixa ele no snowboard. Ele é muito bom."

As competições

Aos nove anos de idade, começou a competir contra a vontade dos pais. No entanto, ainda criança, conversava às escondidas com os treinadores e organizadores dos torneios, para saber das agendas das competições. Pouco a pouco a família foi cedendo e Augustinho passou a disputar inúmeras provas pelo sul da Argentina e do Chile. Acumulou incontáveis troféus, títulos e medalhas internacionais.

Chegava em um ponto em que, para crescer ainda mais no esporte e vislumbrar uma participação em Jogos, era preciso sair daquele rincão do globo, o extremo sul das Américas.

A mudança para o Canadá

Era preciso também escolher um país para competir. A família de Augustinho não esconde o quanto a CBDN foi próxima a eles durante o tempo todo, fator determinante para o jovem atleta optar disputar os torneios pelo Brasil: "A minha família deve estar orgulhosa de mim, mas ainda preciso ter a dimensão do que é representar o Brasil," reflete Augustinho.

Em 2015 a mãe dele foi ao Canadá para ver lugar para os filhos poderem morar. No ano seguinte, Augustinho chegou com um treinador já contratado pelos próprios familiares. Foi feito um planejamento de treinos e competições. O acompanhamento é diário.

Sossego já não é mais uma palavra do dicionário de Augustinho. Do Canadá ele se desloca com facilidade para as diversas estações, a fim de aprimorar a prática e disputar as mais diversas provas, quer seja pela América do Norte como também pela Europa.

A temporada 2020/2021

O semblante de Augustinho muda para um certo desapontamento quando comenta que não houve muitas competições na última temporada por conta da pandemia da Covid-19, assim como em muitas modalidades.

O seu ponto mais alto, foi um 24º lugar no halfpipe em etapa do Campeonato Mundial, em Aspen, nos Estados Unidos, no passado mês de março. Augustinho se sente confiante: "Confio em mim e na minha habilidade, mas sei da capacidade dos meus adversários, sei que tenho muito ainda para fazer".

Quando perguntado de qual variante mais gosta, ele afirma ser de todas. Chegou a disputar provas do slopestyle no mês de novembro, mas foca no halfpipe, que é a que tem mais chances de pontuação para os Jogos.

Rumo a Beijing 2022

Por se falar em Jogos, Augustinho tem pela frente três etapas de Copas do Mundo FIS (sigla em francês para Federação Internacional de Esqui), a fim de somar pontos rumo aos Jogos de Inverno em Pequim. A primeira delas vai acontecer em Copper Mountain, no Colorado, dia 8 de dezembro. Em janeiro do próximo ano duas paradas: em Mammoth, na Califórnia, dia 8 de janeiro e em Laax, na Suíça, no dia 15 do mesmo mês.

A lista final dos atletas classificados para os Jogos será divulgada pela FIS em meados do mês de janeiro. As 238 vagas disponíveis serão distribuídas entre aqueles que fizeram um top 30 em evento de Copa do Mundo até o dia 16 de janeiro de 2022. Além disso, é preciso ter um índice mínimo de pontos FIS (50). No caso de Augustinho, ele tem esse top 30, mas não tem ainda o número de pontos.

Seu jeito calmo e despretensioso oculta uma faceta competitiva e vencedora que possui. Segundo ele, afinal, "o snowboard é uma maneira de se expressar". Se é assim mesmo, o seu estilo é coerente com os seus sonhos, que são: "Vencer tudo o que tem pela frente, me divertir e fazer amigos," completa Augustinho.

Se for assim, o país estará muito bem representado por esse brasileiro que veio lá do fim do mundo, Ushuaia.

O snowboard dos Jogos Beijing 2022 vai acontecer de 5 a 15 de fevereiro, no Parque de Neve Genting, em Zhangjiakou.

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