Michel Macedo: "Vou fazer de tudo para estar nos Jogos de Inverno e fazer bonito pelo Brasil"

Com duas décadas vivendo nos Estados Unidos, o Olympics.com conversou com o brasileiro de 23 anos, que neste fim de semana dá a largada na temporada para somar pontos e garantir sua segunda participação Olímpica no esqui alpino, em Beijing 2022. 

6 minPor Virgílio Franceschi Neto
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(2021 Getty Images)

Dono de um leve semblante, um bocado introvertido, fala calma, porém concentrada e de alguém que sabe o que quer e do que é capaz, Michel Macedo nasceu em Fortaleza e é o filho do meio de três irmãos. O mais velho, Tobias, vive em São Paulo e a mais nova, Clara, é estudante universitária nos Estados Unidos. Eles se mudaram muito cedo com os pais para o Oregon, estado do noroeste norte-americano.

Ele tinha três anos de idade.

Não muito tempo depois e não muito longe de onde viviam, Portland (cidade da franquia dos Trailblazers do basquete profissional da NBA), por influência do pai (Alfredo, que havia aprendido a esquiar no Chile) ele foi inscrito na escola de esqui de monte Hood, um dos melhores lugares no país para a prática da modalidade.

O gosto pelo esporte foi imediato.

O princípio na neve

Passou-se o tempo e, aos seis anos, começou a querer fazer parte de torneios. Não parou mais. Somou troféus e medalhas pelos Estados Unidos e outros países, sempre representando o clube de esqui local. Ao completar 18 anos, foi exigida uma licença internacional para poder competir, concedida pela Federação Internacional de Esqui (sigla FIS em francês). Era preciso escolher um país para representar.

Não teve dúvidas, escolheu o Brasil: "Eu sou brasileiro, não quero competir por outra bandeira. Tenho muito orgulho disso," ele completa. Ao mesmo tempo, começaram os contatos com a Confederação Brasileira de Desportos na Neve (CBDN) para poder disputar as provas pelo país mundo afora.

O trabalho e os treinos levaram-no a disputar os Jogos Olímpicos de Inverno da Juventude Lillehammer 2016 e, dois anos depois, vindo de uma lesão, participou dos Jogos Olímpicos de Inverno PyeongChang 2018.

De lá pra cá, muita coisa mudou, na vida e no esporte. Michel se mudou para o Vermont, estado do extremo nordeste dos Estados Unidos, onde atualmente está no terceiro ano de economia na Middlebury College. Ser aluno de curso superior deu a ele a oportunidade de competir pela instituição nos campeonatos universitários, como o circuito da NCAA (sigla em inglês para Associação Atlética Nacional Universitária).

Pouco a pouco Michel foi conquistando bons resultados, como o "Dartmouth Winter Carnival" em fevereiro de 2019, quando obteve uma das melhores pontuações da história do esqui alpino brasileiro. No mês seguinte, em março, foi ouro em torneio universitário em Québec, no Canadá.

A temporada 2020/2021

O último torneio que Michel disputou foi em abril passado, na etapa do campeonato nacional dos Estados Unidos. Reconhece que não teve um bom resultado: "A temporada anterior foi complicada por conta da pandemia, me atrapalhou em algumas coisas, como por exemplo o número de competições. Não teve a Copa América e a NCAA, que eu gostaria muito de participar," completou.

Sem torneios importantes para somar pontos, Michel não esconde o desapontamento depois de uma sequência de bons torneios e grandes resultados: "Estava difícil melhorar os pontos porque o nível dos torneios que aconteciam era baixo, não foi possível mostrar o progresso que obtive nos treinos," afirmou o brasileiro que aproveitou a ausência de provas para aprimorar a prática e testar novos equipamentos.

Mesmo com a temporada prejudicada, Michel foi o vencedor do Prêmio Brasil Olímpico de 2021 na categoria esportes na neve pela votação dos especialistas.

Rumo a Pequim

O Brasil já garantiu uma quarta vaga nos Jogos Olímpicos de Beijing 2022, justamente no esqui alpino, em ranking divulgado pela FIS recentemente.

Para chegar aos Jogos, Michel precisa ser o melhor brasileiro deste ranking em relação aos demais compatriotas, que será divulgado em meados de janeiro. Já tem os pontos necessários para poder se classificar, mas se conseguir melhorar os resultados, poderá ainda abrir mais uma vaga para outro brasileiro.

A largada inicial é em 20 de novembro em Copper Mountain, no Colorado (Estados Unidos), com a primeira etapa da Copa América: "Muitos atletas europeus, americanos e canadenses estarão lá em busca de pontos para os Jogos de Beijing 2022", ele comenta. "Já competi muito por lá, conheço bem. É uma grande vantagem," completa Michel.

Depois disso vai haver a "Eastern Cup" durante o mês de dezembro, eventos que contam pontos FIS, importantes na busca de um lugar nos Jogos Beijing 2022.

Já em janeiro começa a aguardada temporada da NCAA do esqui alpino - que também valerá pontuação FIS -, em que ele vai competir tanto pela universidade em que estuda quanto também pelo Brasil.

(Getty Images)

A rotina de treinos e de estudos

Para o cearense, no inverno é um pouco mais fácil de estabelecer uma agenda, uma vez que consegue ter como base os treinos e as competições. Durante o outono é um pouco mais difícil, por conta carga de estudos, além do cotidiano da preparação no esqui.

No entanto, conta com o apoio do corpo docente da universidade para poder se dedicar ao esporte: "Minha programação de aulas é completamente cheia em novembro e eu tenho as competições, tenho muitos trabalhos e preciso falar com os meus professores que terei que perder semanas de aulas, já que vou tentar me classificar para os Jogos. Quando falo isso eles meio que entendem (risos) e trabalhamos juntos para nada ficar prejudicado," acrescenta Michel.

Na preparação para os Jogos, ele vai se dedicar ao slalom gigante, variante que se considera melhor. Entretanto, quando perguntado sobre o que prefere, entre slalom e slalom gigante, responde em meio a um leve sorriso: "Essa é traiçoeira. Essa é uma pergunta que não sei responder. Na verdade eu gosto da que estou melhor naquele momento."

(Christian Dawes/COB)

O Brasil e os sonhos

Há duas décadas fora do país e distante do dia-a-dia do Brasil, é onde nasceu e considera que tem muita conexão com a terra natal: "Não quero competir por outra bandeira...lá está a minha família, a minha torcida, vários amigos...sou muito grato à Confederação Brasileira de Desportos na Neve e ao Comitê Olímpico do Brasil," ele reflete.

Apaixonado por futebol, mesmo à distância acompanha o time do coração, o São Paulo Futebol Clube, além de seguir mais de perto o Portland Timbers, da liga norte-americana. Um dos seus ídolos é Ronaldo Fenômeno, mas também menciona o nadador César Cielo, motivo da primeira lembrança que possui dos Jogos Olímpicos:

"Me lembro de ver os Jogos Olímpicos na casa da minha avó, durante as férias em Piracicaba (estado de São Paulo). Gostava muito de ver a natação. Me lembro de acompanhar o Cielo ganhar a medalha de ouro."

Sobre os sonhos que possui, em curto prazo ele quer garantir a vaga em Pequim e chegar entre os 30 primeiros nos Jogos. Já o sonho de uma vida é a medalha Olímpica. Tal qual um futuro economista - habituado ao curto e ao longo prazo -, trabalha passo a passo para uma evolução sólida - o mais importante de tudo segundo Michel - rumo à conquista deste grande sonho.

"Estou fazendo tudo o que está ao meu alcance. Vou fazer de tudo para estar nos Jogos e fazer bonito pelo Brasil," ele finaliza.

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