O Globo de Cristal como campeão do slalom na Copa do Mundo de Esqui Alpino 2022/2023 não foi suficiente para Lucas Braathen. “Eu queria falar uma história maior”, admite. Um desafio que ele encontrou no Brasil e que tentará mostrar na caminhada até os Jogos Olímpicos de Inverno Milão e Cortina d’Ampezzo 2026.
O período pré-Olímpico para a maioria das modalidades começou na última segunda-feira, 1º de julho de 2024, e vai terminar em 18 de janeiro de 2026. Ou seja, a partir de agora, qualquer prova de esqui alpino válida para a pontuação FIS já contará no ranking que determinará as vagas na modalidade.
O evento vai ser o ponto alto nessa parceria entre o esquiador de 24 anos, filho de uma brasileira com um norueguês, e o Brasil. Competindo pela Noruega, ele se destacou como um talento promissor no esporte. Agora, pelo Brasil, quer deixar um legado ainda maior.
“É uma chance de trazer 200 milhões de pessoas para o esporte. Sempre vai vir um novo esquiador norueguês. Mas quantas pessoas já ouviram alguém esquiando a Copa do Mundo pelo Brasil? Ninguém, né? Essa chance para mim foi muito importante”, comentou Lucas Braathen ao Olympics.com.
Isso não significa que ele desconsidera os resultados que pode alcançar nesta temporada. Pelo contrário, quer voltar já em alto nível para obter feitos maiores. “Eu não queria voltar para esse esporte se eu não voltar para ganhar”, comentou.
O primeiro desafio será em Sölden, na Áustria, com a abertura da Copa do Mundo de Esqui Alpino 2024/2025 já valendo pontos para os Jogos Olímpicos de Inverno de 2026. Uma caminhada de um ano e meio que ele pretende coroar com uma medalha inédita em Milão e Cortina d’Ampezzo.
“Quero trazer o primeiro pódio dos Jogos Olímpicos de Inverno para o Brasil. Esse é o objetivo. Eu quero escrever essa história”.
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Lucas Braathen retorna com projeto pessoal e equipe própria
O que fez Lucas Braathen entrar em rota de colisão com a federação norueguesa foi a falta de liberdade para “mostrar a personalidade”, como ele mesmo pontua. Diante disso, ele decidiu retornar ao esporte com um modelo diferente do que se vê no esqui alpino: uma equipe solo**, isto é, montada exclusivamente para ele**.
Com o apoio de seus patrocinadores pessoais, Lucas montou um staff de sete profissionais até o momento – a ideia é chegar a nove pessoas até o início da Copa do Mundo de Esqui Alpino, em outubro de 2024. Assim, o planejamento e preparação serão conduzidos para atender seus objetivos pessoais – e não mais da equipe completa, como era na Noruega.
O Brasil, por meio da Confederação Brasileira de Desportos na Neve, vai contribuir com apoio operacional, ajudando em questões burocráticas, como a licença FIS. Mas na pista de neve, o atleta estará por sua própria conta.
"É um jeito diferente neste esporte, tem mais liberdade para fazer as coisas, é um programa mais individual. Vai ser muito interessante ver como será o nível nesse inverno de muita mudança. Estou animado para mostrar como posso esquiar em um novo jeito”.
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Lucas Braathen manteve os pontos FIS com apoio da Noruega
Em outubro de 2023, Lucas Braathen surpreendeu a Noruega ao anunciar sua aposentadoria após desavenças. Em março de 2024, comunicou seu retorno com o Brasil. Cinco meses suficientes para acalmar os ânimos e ajudar o atleta a voltar com seus pontos FIS, o deixando apto para a etapa de abertura da Copa do Mundo de Esqui Alpino.
"Eu estava muito trabalhando com eles para deixar, para aceitar essas coisas com meus outros sentimentos, mas não dava certo”, comentou. A aposentadoria foi a alternativa encontrada para pôr um ponto final nessa relação já desgastada.
Lucas alugou seu apartamento na Noruega, tirou férias em Ilhabela, aqui no Brasil, mas ao retornar para a Europa, passou a sentir saudade do ambiente do esporte. Convidado regularmente para acompanhar as etapas, resolveu voltar às competições - e contou com o apoio inesperado da federação norueguesa.
“Eles falaram: ‘a gente não tem raiva, é muito triste você não querer voltar para defender a nossa bandeira, mas a gente sabe qual foi o problema e a gente precisa respeitar. Não queremos que você não esquie’. Rompemos como amigos e estou animado para encontrar eles de novo na Copa do Mundo”.
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Lucas Braathen quer ‘sentimento religioso’ do futebol no esqui alpino
Dono de uma personalidade extrovertida, típica do Brasil, Lucas Braathen deixou claro em seu anúncio de retorno que pretende levar essa ‘brasilidade’ para a neve. Com a temática “Vamos Dançar”, ele quer encantar os torcedores brasileiros ao mesmo tempo que torna o ambiente do esqui alpino menos sisudo.
"Recebi muitas mensagens de atletas falando que estão animados para eu trazer mais cores para esse esporte. Ele precisa de outras cores, outras personalidades, do sentimento que a gente experimenta no Brasil com o futebol, esse sentimento de alegria, de relação religiosa com o esporte”, afirma.
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Conversa com Marcel Hirscher trouxe lenda de volta ao esqui alpino
Lucas Braathen não será o único retorno esperado no esqui alpino. Marcel Hirscher, um dos maiores esquiadores de todos os tempos, anunciou que também competirá profissionalmente na próxima temporada após ter se aposentado em 2019. Aos 35 anos, ele ainda precisa estabelecer os critérios de participação da Copa do Mundo.
As semelhanças não param por aí. Hirscher seguiu os passos de Lucas e vai retornar em outra bandeira: Países Baixos, país de origem de sua mãe. Pela Áustria, onde nasceu e tem família paterna, ele foi dominante: oito títulos consecutivos da Copa do Mundo de Esqui Alpino entre 2012 e 2019, com 11 medalhas em Campeonatos Mundiais (sete de ouro) e três Olímpicas (dois ouros em PyeongChang 2018).
Uma decisão que passa justamente a partir de uma conversa com Lucas. “Marcel é uma inspiração para mim. Agora que viu nosso projeto, ele falou ‘nossa, sabe, posso escrever uma história diferente também’. Estamos falando como a gente pode se ajudar. Ele tem mais experiência, eu sou de uma geração nova, é uma combinação muito forte”, concluiu.