Vôlei: Leal carrega seu orgulho para a fase final da VNL 2024

Por Leandro Stein
8 min|
Yoandy Leal
Foto por 2021 Getty Images

Yoandy Leal se prepara à sua segunda participação nos Jogos Olímpicos com a seleção brasileira. Se a chegada do ponteiro representou um marco em 2019, como primeiro atleta nascido fora do país a atuar pelo time de vôlei do Brasil, a torcida está mais do que acostumada com sua presença em quadra. É um jogador fundamental para as perspectivas da equipe - algo que se nota nesta Liga das Nações de Vôlei (VNL) 2024. E é bastante orgulhoso de ser brasileiro, como tantas vezes faz questão de exaltar.

“Para mim, é e sempre será um prazer defender a camisa da seleção brasileira. País que abracei e que me abraçou com todo o amor do mundo! O abração que me fez ser brasileiro. Gratidão, e muita, muita felicidade é o que habita em mim com essa convocação. Prometo dar o meu melhor para levar essas medalhas a vocês, e assim, poder retribuir todo carinho que eu recebo diariamente do povo do meu Brasil! Tá chegando a hora de tirar a canarinha do armário e torcer com a gente!”, escreveu Leal, antes da VNL, em seu Instagram.

A VNL 2024 auxilia Leal a recuperar seu espaço na seleção. O ponteiro sofreu com as lesões no último ano e por conta disso pediu dispensa do Pré-Olímpico, realizado no Rio de Janeiro. A volta com tudo vem em boa hora. O ponteiro é um dos jogadores mais efetivos do Brasil na Liga das Nações e reafirma seu protagonismo antes de Paris 2024. Constrói também uma relação mais próxima com Bernardinho, com quem nunca tinha trabalhado, apesar da influência do treinador em sua chegada à seleção.

O Brasil entra em quadra nesta quinta-feira, 27 de junho, em seu primeiro desafio na etapa final da VNL 2024. Sétima colocada na fase de classificação, a seleção terá um compromisso duro contra a Polônia - que, além do mais, contará com o apoio da torcida em Lodz. A campanha na Liga das Nações é marcada por vários testes feitos por Bernardinho, com a equipe em busca de sua melhor sintonia. Leal segue como uma referência.

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Leal: “Carrego muito de Brasil em meu sangue”

A história de Leal já é bem conhecida. Nascido em Havana, o ponteiro esteve entre as revelações da seleção cubana que foi vice-campeã mundial em 2010, derrotada pelo Brasil. Contudo, sem boas relações com seu treinador e em busca de melhores condições de trabalho, o jovem decidiu deixar Cuba pouco depois. “Voltamos a Cuba com a ideia de que a coisa ia melhorar para os jogadores em termos financeiros e de estrutura, mas não aconteceu nada”, contou em 2016, à Folha de S. Paulo.

Quando decidiu defender um clube no exterior, Leal precisou deixar a seleção de Cuba e ficou dois anos sem atuar. O ponteiro recebeu uma proposta do Sada Cruzeiro e se mudou para Belo Horizonte em agosto de 2012. Não seria uma adaptação fácil, ao chegar 18 quilos acima do peso e deixar a esposa grávida em Havana. Todavia, tinha um objetivo claro nesse recomeço. “Queria ajudar minha família a ter uma vida melhor com meu trabalho", afirmou o jogador, à BBC, em 2021.

Leal logo passou a brilhar no Sada Cruzeiro e acumulou conquistas com o novo clube. O ponteiro criou uma relação especial sobretudo com o técnico Marcelo Mendez, a quem considera como uma figura paterna. "O Sada Cruzeiro me fez amadurecer como atleta, elevou o meu nível”, disse, ao site Saque Viagem, em 2019. “Graças ao clube e a ele [Mendez], meu nível aumentou muito. Eu sou muito grato a isso. Agradeço sempre ao Sada Cruzeiro por me acolher.”

A mudança não afastou Leal de suas raízes em Cuba. "É onde nasci, o país que me deu uma bandeira que levarei comigo pelo resto da vida", disse à BBC, em 2021. A vida construída no Brasil, entretanto, também permitiu amar seu novo país, conforme relatou à Folha em 2016: "Tenho uma bandeira cubana tatuada no punho direito, mas carrego muito de Brasil no meu sangue."

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Leal veste a camisa 9 da seleção brasileira masculina de vôlei.

Foto por Divulgação/FIVB

O apoio de Bernardinho rumo à seleção

Leal se sentia em casa no Brasil, mas ainda seguiu por um tempo considerando defender a seleção de Cuba. A questão é que a federação de vôlei local não convoca atletas em atividade fora do país. "Você tem que cumprir seus sonhos e o meu é ser campeão Olímpico. Se não é por Cuba, tentarei pelo Brasil", contou, ao site OnCubaNews, em 2014. Meses depois, o ponteiro iniciou o processo para obter a nova nacionalidade.

Uma das primeiras pessoas com quem Leal conversou neste momento foi Bernardinho, então técnico da seleção brasileira. Segundo o ponteiro, o comandante deu seu apoio e deixou claro que contaria com ele. Companheiros de seleção também demonstraram sua solidariedade, a exemplo do central Lucão, que na época jogava na Itália e escreveu para o colega, na intenção de incentivá-lo.

A transição de Leal para defender o Brasil levou um tempo. Embora tenha iniciado o processo em 2015, em meio a idas e vindas, apenas em 2017 se ratificou a mudança de nacionalidade. Além disso, o ponteiro precisou esperar mais dois anos de “quarentena” para ganhar a permissão de entrar em quadra. Em 2019, enfim, Leal recebeu a primeira convocação de Renan Dal Zotto, que substituíra Bernardinho no comando da seleção. Perguntado se tinha vontade de jogar pelo Brasil, o ponteiro respondeu que “estava pronto”.

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O entrosamento com Bruninho no clube

Obviamente, nem tudo foram flores para Leal na seleção. De início, alguns jogadores indicaram certa resistência ao ponteiro, como se o Brasil “não precisasse” de um atleta estrangeiro. O próprio novato admitiu certo receio, à Folha: "Essa é a primeira vez que um jogador estrangeiro está jogando na seleção brasileira, não sei como vai ser essa situação, mas é um fato que vai ser realidade e a gente tem que enfrentar isso. Quero muito, então tenho que enfrentar as consequências e mostrar que posso ajudá-los a ganhar títulos."

Outro ponto eram as críticas de torcedores: "Acho normal que algumas pessoas não estejam de acordo. Elas falam que não sei falar bem o português e que não sou nativo brasileiro, mas no mundo que a gente vive hoje não tem mais que ser nativo de um país para defendê-lo. Espero que aqueles que não estão de acordo possam mudar de ideia, mas acho que eles não são torcedores. Os torcedores de verdade sabem que estou indo para ajudar e que não quero tomar o posto de ninguém."

Leal já conhecia alguns companheiros de seleção após seis anos no Cruzeiro. O ponteiro se firmou como um dos melhores jogadores em atividade no Brasil, com 25 títulos - isso sem contar os muitos prêmios individuais. Levou três Mundiais e cinco Superligas. Curiosamente, quando a convocação veio, Leal já atuava fora do país, algo que também o beneficiou. O ponteiro estava no Volley Lube, da Itália, no qual se entrosava com o levantador Bruninho. Juntos, foram campeões do Campeonato Italiano e da Champions League em 2019.

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Protagonista e motivado após se recuperar

Leal já era um jogador que fez história no vôlei brasileiro de clubes e passou a atuar em um nível ainda mais alto na Itália. Chegou à seleção pronto a assumir a condição de destaque. Prova disso veio na VNL 2021, conquistada pelo Brasil. Leal anotou 17 pontos na final contra a Polônia e foi eleito o melhor ponteiro do torneio. Mas, apesar das expectativas, a estreia Olímpica não saiu como o planejado, com o quarto lugar em Tóquio 2020. O ponteiro foi o segundo maior pontuador do time, o que não se tornou suficiente.

O Campeonato Mundial 2022 permitiu que Leal voltasse aos holofotes, dominante na medalha de bronze do Brasil. O ponteiro foi o maior pontuador da competição e o único brasileiro eleito para o time ideal do torneio. Uma pena que a sua boa sequência tenha sido quebrada em 2023, com lesões no ombro e no joelho. Por conta das condições físicas, Leal pediu dispensa do Pré-Olímpico para focar na recuperação e viu de longe os companheiros assegurarem a vaga em Paris 2024. Prometeu voltar mais forte e cumpriu.

Leal evidenciou sua motivação rumo à atual VNL, ainda mais com os primeiros jogos no Rio de Janeiro. "Vestir a camisa da seleção brasileira me enche de orgulho e alegria. Iniciar a VNL no país que escolhi e que me abraçou com todo amor é extremamente desafiador, mas na mesma proporção, indescritível! Torcida brasileira, minha gratidão a vocês”, escreveu, nas redes sociais, após a primeira semana do torneio. “Finalizo essa primeira etapa ainda mais motivado e certo de que fiz a melhor escolha da minha vida, ser atleta do Brasil."

A VNL 2024 mostra como Leal está recuperado. O brasileiro anotou 108 pontos na fase de classificação, abaixo apenas de Darlan e Lucarelli entre os companheiros de time. Sua principal atuação aconteceu na vitória sobre a Polônia, contra a qual anotou 22 pontos, sendo três aces. É justamente o primeiro adversário nesta fase final. A presença ofensiva do ponteiro será crucial.

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