Thiago Braz e Alison dos Santos lideram atletismo brasileiro em Tóquio 2020

Como chegam nos Jogos Olímpicos as referências do atletismo brasileiro? Meta para Tóquio 2020 é atingir 13 finais. Ouro de Thiago Braz no salto com vara foi a única medalha do atletismo na Rio 2016.

9 minPor Gonçalo Moreira
Thiago Braz da Silva of Brazil competes in the Men's Pole Vault final on Day 10 of the Rio 2016 Olympic Games at the Olympic Stadium on August 15, 2016 in Rio de Janeiro, Brazil. 
(2016 Getty Images)

O atletismo brasileiro terá 51 representantes em Tóquio 2020, que acontece em 2021.

Em retrospetiva, o Brasil soma 17 medalhas Olímpicas no atletismo, entre as quais se destacam cinco medalhas de ouro:

  • No salto triplo em Helsinque 1952 e Melbourne 1956 com Adhemar Ferreira da Silva
  • Nos 800m rasos em Los Angeles 1984 com Joaquim Cruz
  • No salto em distância em Beijing 2008 com Maurren Maggi
  • No salto com vara na Rio 2016 com Thiago Braz

É possível melhorar o resultado da Rio 2016? Como chegam os brasileiros nos Jogos Olímpicos?

É inevitável começar por Thiago Braz, que em junho saltou 5,82m fazendo sua melhor marca na temporada no salto com vara em evento realizado na Polônia e oitava a nível mundial em 2021. O atleta do Esporte Clube Pinheiros ainda está longe dos 6,03m que na Rio 2016 deram ouro, recorde Olímpico e recorde sul-americano. A subida de forma durante as últimas semanas mostram que quer chegar em Tóquio 2020 para defender o título.

O campeão brasileiro, Augusto Dutra, também estará competindo em Tóquio 2020, em um evento onde o favorito é Armand Duplantis. O sueco venceu 23 provas consecutivas, até que perdeu na abertura da Liga de Diamante para o bicampeão mundial Sam Kendricks; já Renaud Lavillenie tentará corrigir a desilusão dos Jogos anteriores vencendo em Tóquio 2020. E por que não mais um choque Olímpico no salto com vara? Sem medalhas no atletismo há 85 anos, as Filipinas sonham com um dia memorável de Ernest John Obiena, que na temporada indoor saltou esperançosos 5,86m.

Alison dos Santos cresce na hora certa

A surpresa para o Brasil pode acontecer nos 400m com barreiras com Alison dos Santos, o “PB”, em alusão à constante melhoria de suas marcas na distância – PB em inglês significa “personal best”. Alison dos Santos cresce na hora certa: acaba de estabelecer dois recordes sul-americanos (47,38 em Oslo e dois dias 47,34 em Estocolomo) na Liga de Diamante e se apresenta em Tóquio 2020 com o terceiro melhor tempo da temporada, se posicionando na luta pelas medalhas. Para saber mais sobre os rivais de Alison dos Santos em Tóquio 2020 clique aqui.

Falando de 400m com barreiras, no feminino cuidado com Sydney McLaughlin, que nas seletivas norte-americanas se tornou a primeira mulher a correr abaixo dos 52 segundos. Ao fazer 51,90 quebrou o recorde do mundo da campeã do mundo e olímpica Dalilah Muhammad. Em Tóquio 2020 se prevê um duelo de gerações: Dalilah Muhammad tem mais 10 anos que Sydney McLaughlin.

(Photo by Stephen Pond/Getty Images for IAAF)

Expectativa na velocidade masculina quanto ao sucessor de Usain Bolt

Nas provas icônicas da velocidade o Brasil terá vários representantes. Paulo André de Oliveira e Felipe Bardi estarão nos 100m rasos para tentarem baixar de 10 segundo, algo que nenhum brasileito conseguiu. Em Tóquio 2020 vão ainda participar no revezamento 4x100m após o 4º lugar no Mundial de 2019 e o título no Campeonato do Mundo por revezamentos em no mesmo ano - poderiam ter sido dois ouros consecutivos, mas o time foi desclassificado por pisar a raia. O quinteto chega com a quarta melhor marca do ano: 38,45.

No ensaio antes dos Jogos se apresentaram em Gateshead (Grã-Bretanha) com Derick de Souza e Jorge Vides (no lugar de Rodrigo Nascimento) e finalizaram no 4º lugar com 38,57. O revezamento 4x100m já deu ao Brasil a prata emSydney 2000 e duas medalhas de bronze em Atlanta 1996 e Pequim 2008.

Nota também para Gabriel Constantino, que em 110m com barreiras venceu o Meeting de Lucerna com 13,60 e faz parte de um trio composto por Eduardo de Deus e Rafael Henrique. O norte-americano Grant Holloway tentará, em Tóquio 2020, atacar o recorde do mundo que falhou por um centésimo de segundo nas seletivas.

A final de 100m rasos voltará a ser das mais aguardadas. Há enorme expectativa quanto ao sucessor de Usain Bolt, dominador do sprint desde Beijing 2008. Trayvon Bromell chega em Tóquio 2020 como o mais rápido dos norte-americanos (9,80 nas seletivas) e em 2021 correu duas vezes abaixo de 9,77 se tornando o sétimo mais rápido da história. Caso vença no Japão, Trayvon Bromell escreve mais um capítulo no livro da superação, já que na Rio 2016 seu potencial foi limitado por problemas físicos, terminando último na final dos 100m e saindo da pista em cadeira de rodas no revezamento por lesão no tendão de Aquiles. O principal rival poderá ser o sul-africano Akani Simbine vem de cravar o recorde de África correndo em 9,84 no Memorial Gyulai István (Hungria).

Nos 200m o campeão mundial Noah Lyles correu em 19,74 – melhor marca do ano – nas seletivas norte-americanas, onde a notícia foi o precoce Erriyon Knighton, de 17 anos de idade, 2º com 19,84 batendo o recorde do mundo júnior que era de Usain Bolt desde 2004. A ameaça aos norte-americanos nos 200m virá do canadiano Andre De Grasse, prata na Rio 2016.

Rosângela Santos disputa a prova de 100m com Shelly-Ann Fraser-Pryce

No feminino, Rosângela Santos disputa a prova de 100m com Shelly-Ann Fraser-Pryce, a mulher mais rápida do mundo na atualidade. A atleta criada no Rio de Janeiro é um dos elementos mais experientes entre as velocistas, tendo no seu histórico a medalha de bronze em Beijing 2008 com o revezamento 4x100m. Individualmente espera se apresentar bem nos 100m rasos onde é recordista sul-americana com 10,91 – se tornando a primeira brasileira a baixar dos 11 segundos. No 4x100m feminino o Brasil terá chances de brigar pela final.

O contexto dos 100m é motivador para as atletas, já que poderemos assistir a história Olímpica. A favorita é a jamaicana Fraser-Pryce que nas seletivas fez 10,71 dias após correr em 10,63 – segunda melhor marca da história apenas atrás inalcançável Florence Griffith-Joyner. Em caso de vitória a jamaicana será a primeira mulher com três medalhas de ouro nos 100m.

Flo Jo também foi recordada na América pela performance nos 200 m de Gabrielle Thomas, a mais rápida desde Seúl 1988 quando Griffith-Joyner venceu a final Olímpica em 21,34. Gabrielle Thomas correu em 21,61 que é a segunda melhor marca de todos os tempos, mas deve esperar resposta das rivais: Dina Asher-Smith, campeã mundial, e Dafne Schippers, vice-campeã Olímpica. A incógnita no sprint feminino é Elaine Thompson-Herah, que na Rio 2016 fez a dobradinha 100m/200m e que recentemente correu em 10,71 se apresentando bem em um ciclo Olímpico marcado por lesões.

(Alexander Hassenstein/Getty Images for IAAF)

Núbia Soares ficou a um centímetro do recorde brasileiro

No salto triplo o destaque vai para Núbia Soares. Na última chance de tirar o bilhete para os Jogos Olímpicos, a triplista fez 14,68m num evento na Espanha e conseguiu a classificação com a sexta melhor marca da temporada a nível mundial. Núbia Soares ficou a um centímetro do recorde brasileiro! A venezuelana Yulimar Rojas é a favorita para Tóquio 2020 e ameaça o recorde mundial da ucraniana Inessa Kravets (15,50 – vigente desde 1995).

A bicampeã mundial e prata na Rio 2016 – primeira medalha de uma mulher venezuelana – tem saltado regularmente acima dos 15 metros e pode ser uma das histórias dos Jogos. Yulimar Rojas cresceu no humilde bairro de Pozuelos, subúrbio da cidade costeira de Puerto La Cruz, mas desde que conheceu o mito cubano Iván Pedroso no Facebook sua história mudou e se consolidou como uma das melhores do mundo.

O salto triplo masculino terá em Tóquio 2020 o estreante Almir Cunha dos Santos, ou como é conhecido no atletismo Almir Junior. Cliente regular dos 17 metros, o objetivo é o mesmo de qualquer jovem triplista: se tornar o primeiro brasileiro a quebrar a barreira dos 18 metros – o recorde nacional é do vice-campeão mundial de Osaka 2007, Jadel Gregório, com 17,90m. Almir Junior chegou ao salto triplo apenas com 23 anos de idade, mas foi vice-campeão mundial em pista coberta em 2018 com a marca de 17,53m. Em Tóquio 2020 se apresenta com 17,14m longe dos favoritos às medalhas: o português Pedro Pichardo (17,92m) e Hugues Fabrice Zango (17,82m), do Burquina Faso.

Historicamente o salto triplo é a melhor disciplina do atletismo Olímpico brasileiro com seis medalhas. Aos dois triunfos de Adhemar Ferreira na década de 1950, Nelson Prudêncio manteve a tradição com a medalha de prata conquistada no México 1968 e o bronze em Munique 1972, enquanto nos seguintes Jogos em Montreal 1976 e Moscou 1980 as subidas no pôdio ficaram por conta de João Carlos de Oliveira, o "João do Pulo", vencedor de duas medalhas de bronze.

(2015 Getty Images)

Contexto de marcas incríveis convida a não excluir nenhum cenário para Darlan Romani

No arremesso do peso, Darlan Romani acabou com 80 anos sem brasileiros na final Olímpica – depois de Antônio Pereira Lira em Berlim 1936 – discutindo os lugares de topo graças aos 21,02m que permitiram encerrar a competição em 5º lugar. Prejudicado pela pandemia e obrigado a superar a COVID-19, na volta às competições tem estado longe dos 22,61m que valeram o recorde sul-americano e o 4º lugar no Mundial de 2019, onde tivemos a melhor final de sempre do peso: o top 3 ficou acima dos 22,90m!

O contexto de marcas incríveis convida a não excluir nenhum cenário para Darlan Romani, mas a perspectiva é de que Ryan Crouser, campeão da Rio 2016, possa sentenciar o ouro se igualar 23,01m ou 23,37m – arremessos obtidos recentemente e que, no caso do último, permitiu quebrar o recorde mundial de Randy Barnes, que não caía desde 1990. Barnes foi duas vezes acima dos 23 metros, enquanto Ulf Timmermann já o tinha feito em 1988 pela Alemanha Oriental; Ryan Crouser é o terceiro homem a quebrar essa barreira mítica.

No lançamento de disco, Andressa Oliveira de Morais melhorou suas opções para Tóquio 2020 após vencer o Meeting Internacional Triveneto, na Itália, com um lançamento de 62,41m. A atleta tem treinado em Portugal com vários companheiros da equipe Olímpica de atletismo com o objetivo de se aproximar dos 65,34m que em 2019 permitiram o apuramento para os Jogos e na altura significaram um novo recorde sul-americano – marca melhorada durante o Pan-Americano de Lima para 65,98m.

Caio Bonfim colocou a marcha atlética do Brasil no mapa mundial

Nas disciplinas de fundo, Érica Sena tem tudo para se destacar na marcha atlética, onde vai tentar melhor o 4º lugar que vem sendo seu nos últimos dois Campeonatos do Mundo na distância de 20 km, disciplina onde se tornou a melhor na história do Brasil em Jogos Olímpicos com um 7º posto. O mesmo é possível afirmar sobre Caio Bonfim, que na Rio 2016 lutou pelo bronze nos 20 km, demonstrando como evoluiu desde o 39º lugar em Londres 2012. O brasiliense vai para os terceiros Jogos Olímpicos e, após obter um histórico bronze no Mundial de 2017 para o Brasil, tentará subir no pódio Olímpico, no que seria um justo tributo ao trabalho desenvolvido por Caio Bonfim que colocou a marcha atlética do Brasil no mapa mundial.

(Andy Lyons/Getty Images for IAAF)
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