Seleção de bobsled homenageia Odirlei Pessoni, membro da equipe que faleceu em acidente
Odirlei Pessoni, atleta da seleção brasileira de bobsled e que disputou duas edições de Jogos Olímpicos de Inverno, se preparava para Beijing 2022 e acabou falecendo em março, vítima de acidente de moto. Colegas da equipe resolveram lembrá-lo e o Olympics.com conta sobre a homenagem que fizeram.
O final do mês de março traz uma triste recordação para os esportes de inverno do Brasil. Foi quando um dos seus mais ilustres atletas, integrante da seleção brasileira de bobsled, Odirlei Pessoni, faleceu em um acidente de moto.
Sua vida de atleta começou como futebolista das categorias de base da Francana, clube da sua cidade natal (Franca, no interior de São Paulo). Foi para o atletismo, especializou-se no decatlo. Levado para o bobsled pelo capitão da equipe e amigo, Edson Bindilatti, Pessoni tinha 38 anos e era um dos mais experientes da equipe. Disputou duas edições de Jogos de Inverno, Sochi 2014 e PyeongChang 2018.
Uma pessoa bastante importante para o esporte quer seja no trenó e fora dele. Deixou uma marca e os colegas recordam-se dele com carinho. Por isso resolveram deixar permanente sua lembrança nesta reta final de competições, em busca de uma vaga em Beijing 2022.
O Olympics.com conta sobre a relação de Odirlei com o bobsled e a homenagem dos colegas.
Mais que um atleta
Muito mudou na realidade da seleção brasileira de bobsled ao longo dos anos. Pessoni viveu bastante os tempos sem tantos recursos do esporte, mas sempre esteve disposto a mudar a situação. Um desses esforços dele foi viabilizar os treinos do time para os Jogos de PyeongChang 2018.
Construiu na garagem de casa uma pista de largada que viria a ser montada depois no Núcleo de Alto Rendimento, em São Paulo, e seria o ponto-de-partida do projeto de pista fixa para treinos de saída, ainda a ser finalizada em São Caetano do Sul. Em apenas 15 dias, a pista por ele construída ficou pronta. "Comprei madeira, borracha, ferragens, cortei o aço, parafusei e soldei. Precisava ser leve, de encaixe. Sempre fui curioso. Vivia em oficina...montei e desmontei motor de carro. Legal saber que a minha pista, feita na garagem de casa, ajudou o país," declarou Pessoni em entrevista de 2018 para o Globo Esporte.
Por "viver em oficina" não à toa Pessoni também era o mecânico dos trenós da seleção.
Em 2013 a seleção ia bem para garantir a classificação para Sochi 2014, quando a notícia do falecimento da mãe de Odirlei chegou dois dias antes de competir. A ausência do francano poderia comprometer o desempenho da equipe. Logo, a vaga poderia escapar, depois da ausência em Vancouver 2010. Para surpresa de todos, ele resolveu permanecer. Não só ficou para competir, como ajudou a dar à equipe um lugar nos Jogos Olímpicos. "Foi uma das competições mais importantes que a gente teve na vida", relembra Emílio Strapasson, ex-presidente da Confederação Brasileira de Desportos no Gelo (CBDG).
A homenagem a Odirlei Pessoni
Durante a apresentação da equipe brasileira de bobsled no início de outubro, para digressão na América do Norte em busca de pontos para alcançar a vaga nos Jogos, foi revelada a homenagem a Odirlei. Uma foto dele irá nos capacetes dos integrantes do time, mais uma outra que estará no trenó. Uma maneira de deixar permanente a lembrança de alguém que dedicou toda uma vida ao esporte e ao bobsled, que partilhava e vivia o Olimpismo e seus valores.
"Falar do Odirlei é difícil para mim. Convivi com ele no atletismo e no bobsled. Ele era o coração do time e fazia a equipe subir no 220 (ficar enérgica). Nas horas mais tensas era ele que controlava a situação. Quando precisava mexer no trenó era ele que colocava a 'mão na massa'. Ele amava o que fazia e fazia com amor. Sentimos a falta dele, foi uma perda muito grande, mas estamos fazendo de tudo pela sua memória e fazer com que ele seja bem representado. Um exemplo de cumplicidade e humildade," comentou o capitão da equipe, Edson Bindilatti, que o apresentou para a modalidade em 2008.
Além das atividades que envolviam o trenó, Pessoni era membro da Comissão de Atletas da CBDG. Nas pistas, foi bicampeão da Copa América com o Brasil nos anos de 2015 e 2018.
Sua relação com o bobsled foi tão grande que ela se confunde com a vida. Isso é inegável. Fica difícil separar seu lado pessoal das atividades de rendimento. O esporte era a sua vida e o bobsled acabou sendo. Provavelmente é uma mais uma declaração do amigo e capitão da equipe, Edson Bindilatti, que sintetiza a ligação de Pessoni com os trenós: “Tudo passava por ele. Tudo tinha o dedo dele.”
Rumo a Pequim: Brasil na última etapa da Copa América
Lake Placid, nos Estados Unidos, recebeu entre os dias 18 e 20 de dezembro, a última etapa da Copa América de bobsled, e o Brasil participou no trenó de quatro atletas.
O quarteto composto por Edson Bindilatti, Edson Martins, Erick Vianna e Rafael Souza obteve o quarto lugar parcial na sexta-feira (18), repetindo o resultado no sábado (19). Na manhã de segunda-feira, dia 20, a quinta colocação, mesmo tendo feito o seu melhor tempo nos três dias de competição, abaixo dos 56 segundos. Ao todo nove equipes participaram.
Com o resultado, o Brasil vai a 572 pontos e está em 23º lugar no ranking da IBSF (sigla em inglês para Federação Internacional de Bobsled e Skeleton). Para o trenó de quatro atletas, para Beijing 2022 são 30 vagas disponíveis, sendo 8 delas para países com apenas um conjunto, o que é o caso brasileiro.
O bobsled dos Jogos Olímpicos de Inverno Beijing 2022 acontecerá de 13 a 20 de fevereiro, no Centro Nacional de Pistas de Yanqing. Os quartetos competem dias 19 e 20.