Carol Solberg chega ao Mundial de vôlei de praia no auge: "Me sinto outra jogadora" 

No primeiro ano da parceria com Bárbara, um ciclo Olímpico que começou com excelentes resultados. Em entrevista exclusiva para o Olympics.com, Carol Solberg falou sobre as expectativas para o Mundial de vôlei de praia, de 10 a 19 de junho, em Roma, e como enxerga Paris 2024.

9 minPor Virgílio Franceschi Neto
Carol Solberg em ação durante o Elite 16 em Jurmala, na Letônia.
(FIVB)

Carol Solberg é uma das grandes referências no vôlei de praia do Brasil. Uma relação com o esporte que começou desde muito cedo, por influência da mãe, que atuou pela seleção brasileira de voleibol, Isabel, e também dos irmãos, Maria Clara (que foi sua parceira por muitos anos) e Pedro Solberg, também grandes nomes do vôlei de praia.

Atleta, mãe e idealizadora do Projeto Levante, que leva a modalidade para crianças em condições de vulnerabilidade. Uma agenda bastante cheia. Soma-se a isso estar em meio a um ciclo Olímpico e o sonho de disputar os Jogos Paris 2024.

No final de 2020 anunciou a medalhista de prata na Rio 2016, Bárbara, como sua nova dupla nas areias. Na primeira temporada, terminaram em terceiro lugar na etapa de Ostrava da série internacional. Ainda em 2021, duas medalhas de prata nas últimas duas competições que encerraram o calendário doméstico. Sabiam que poderiam mais e 2022 tem mostrado isso.

Atualmente Carol e Bárbara são vice-líderes no ranking mundial da Federação Internacional de Voleibol (FIVB), as melhores brasileiras na lista. Faturaram as etapas de Tlaxcala e Doha, do torneio Challenge do circuito mundial. No último fim de semana, ficaram em segundo lugar no Elite 16 em Jurmala, Letônia. Excelentes resultados em ano de Mundial, dentro de um ciclo Olímpico que pode ser o último de Carol Solberg.

Para falar sobre a temporada, as expectativas para o Mundial de Roma - que acontece entre 10 e 19 de junho - e a preparação para Paris 2024, um pouco antes de embarcar para as competições europeias (Ostrava e Jurmala) Carol Solberg conversou com o Olympics.com.

(FIVB)

Olympics.com (OC): Na sua opinião, quais são os fatores que têm levado você e a Bárbara para uma grande temporada atual, com as duas conquistas do Challenge esse ano?

Carol Solberg (CS): Olha, é uma coisa que tem sido muito bacana, é muito bom. Primeiro, é muito bom trabalhar em equipe. Acho que quando a gente decidiu jogar junto, havia o mesmo olhar para a forma de trabalhar e independente. Estávamos sem patrocínio nenhum e a gente acreditava num formato de equipe. Eu acho que isso é muito importante em um time, nesse mesmo tipo de investimento. Independente se vai vir ou não, claro que é muito difícil como atleta você bancar essa estrutura, mas a gente acredita muito nessa coisa do time, de ter uma infra estrutura, que é fundamental. Tem psicólogo, a gente tem preparador físico, estatístico. A gente tem dois assistentes, uma técnica e está todo mundo muito alinhado, trabalha junto e está todo dia juntos na praia. Então, o nosso olhar para a forma de trabalhar é muito parecido. Eu olho para a Bárbara e tenho certeza que em cada treino, em cada jogo, ela está dando tudo ali 100% e é muito bom saber que a outra não tá economizando.

OC: E a expectativa para o Mundial?

CS: Eu estou muito animada para jogar o Mundial. Acho que um torneio diferente. Eu estou treinando, pensando muito nisso. É claro que a gente tem antes Jurmala e a República Tcheca (Ostrava), um torneio em super importante. E a gente vai abrir esse bloco grande agora na Europa, ficar quatro semanas e meia fora de casa. Vai ser um tempão. Eu nunca fiquei tanto tempo longe dos meus filhos. Vai ser a primeira vez que eu fico tanto tempo, porque sempre coincidiu, graças a Deus, sempre coincidiu de eu conseguir voltar para casa, nem que fosse por cinco dias para vê-los. E dessa vez não vai rolar.

OC: E como é que você lida com tudo isso?

CS: Eu vou te falar que eu estava sofrendo muito, quando eu cheguei agora de Doha, sofria por antecipação, encarando..."meu Deus e ficar quatro semanas longe deles?" O meu filho menor (Salvador, de 5 anos) está sentindo muito, assim, os dois na verdade, mas o José, que é mais velho (9 anos) tem mais consciência, ele sabe que é o meu trabalho. Então, eu lidar com a saudade é até fácil, o problema é imaginar que eles estão sofrendo por saudade de mim é muito pior. E eu chego da Copa do Mundo e e viajo direto. Minha mãe (Isabel, ex-atleta da seleção brasileira de vôlei) estava sempre em campeonato, viajando, e é claro o fato de eu ter muitos irmãos, isso ajuda, né? Na minha época eu tinha saudade da minha mãe, mas vamos embora, ela está lá fazendo o que ama. E eu acho que eu tento passar isso pra eles assim. É óbvio que eu sofro de estar indo, de saudade, mas eu amo o que eu faço, sabe? Eu acho que é importante eles saberem que eu estou fazendo uma coisa que eu gosto, que me preenche, que é o meu sonho. E acho que é legal, e é a vida, né?

OC: Quais são as características de uma boa parceira no voleibol de praia para você?

CS: Parceira pra mim, eu acho que ser verdadeira é fundamental. Encarar com verdade os seus sentimentos, ter capacidade de você dizer como está se sentindo naquele dia. E eu acho que para mim, é você se conseguir se abrir pra se ajudar, ser ajudado. No geral, eu acho que você tem a capacidade de adaptação...o vôlei de praia tem muitas variantes. Mas eu acho que tem que ser pé no chão, de saber que você ganha, aquilo ali vai passar, você perde aquilo ali também vai passar. Ter essa leveza é muito fundamental. Não sei nem se só para o resultado, mas assim é um processo longo. Então eu quero que essa caminhada seja prazerosa também.

(FIVB)

OC: Além dos títulos, quais são os objetivos desta temporada?

CS: Olha, eu acho que meu objetivo com a Bárbara nesse ano e a gente pensar em estar muito bem nesse ranking mundial para iniciar a corrida no ano que vem, com um lugar não de segurança. Porque o novo, esse novo formato é muito dinâmico, muda muito rápido. Mas eu acho que o nosso objetivo desse ano é estar, assim, estar ali no bolo o tempo inteiro, pensar em estar, em quero estar em todas as semifinais. O objetivo é estar ali é jogar, pensar em estar ganhando, e manter a cabeça boa, segurar a onda nos momentos difíceis que virão.

OC: O que a Carol Solberg de hoje se difere da Carol Solberg de outros ciclos Olímpicos?

CS: Eu acho que muda muito, né? Eu acho que a cada ano eu amadureço um pouco mais. Eu me sinto outra jogadora. Acho que a cada ano a gente vivencia novas experiências. Acho que cada parceria traz coisas muito novas. Aprendo muito a cada parceria. Tem essa dinâmica de treinamento com pessoas que eu joguei nesses últimos seis anos, com várias jogadoras. Isso foi muito enriquecedor para mim. Joguei muito tempo com a minha irmã, 13 anos jogando com a Maria (Maria Clara)...então eu acho que eu amadureci muito. Eu me vejo hoje em dia uma jogadora muito mais madura, mais agressiva e com mais consciência do que eu preciso fazer, tudo o que eu preciso cuidar.

OC: E como é que você vê a possibilidade de disputar os Jogos de Paris mais perto do que nunca? Faltam pouco mais de dois anos. Como é que você vê essa jornada até lá?

CS: Eu penso muito, quero, sonho em ir para os Jogos. Quero demais estar lá. Mas é o que eu te falei, eu acho que tem essa disputa dessa vaga no Brasil é sempre muito difícil. São vários times muito bons. Então eu quero...eu quero ter certeza, que quero fazer esse ciclo e no dia que definir essa vaga, eu quero estar muito tranquila, sabe? De dizer que eu dei 100%, eu dei meu sangue e agora vamos curtir. Claro que tudo o que eu quero é ir para as Olimpíadas. Para mim é demais estar lá e provavelmente deve ser minha última chance assim também. Eu realmente quero curtir esse processo e estou curtindo.

OC: Você acha que o Brasil entra com mais pressão em Paris por conta de não ter ficado, não ter conseguido, pode em Tóquio?

CS: Acho que eu acho que não, sinceramente. Eu acho que...assim, já foi o tempo. Eu não acho que o Brasil seja favorito, sabe? A expectativa dos outros, não tem como lidar, não tem como lidar com a expectativa de outras pessoas e o que cada um pensa. Eu acho que sim, claro que tem. O Brasileiro tem essa coisa com os Jogos. Foi para os Jogos, não foi para os Jogos. Acho que no Brasil tem esse peso. Não está na minha mão controlar o que cada um está pensando. Então, essa pressão no Brasil acho que sempre vai existir, mas o fato é que não somos favoritos...tem dez times que podem ganhar.

OC: Quem te inspira?

CS: Muita gente me inspira, minha mãe me inspira muito. Eu acho que o Lewis Hamilton, Marta, Fabizinha, LeBron James, Colin Kaepernick, Aida dos Santos. Pouco reverenciada no nosso esporte, uma mulher que venceu tanto preconceito e que fez história.

OC: Carol, dentro das quadras e fora das quadras, seu principal sonho?

CS: Meu sonho é ir para os Jogos de Paris, sem dúvida nenhuma. Fora das quadras eu tenho dois filhos que são meus, eu me sinto muito realizada e me sinto muito sortuda mesmo de ter uma família. Isso me preenche tanto e é muito legal. Às vezes eu chego em casa e você ganhou, mas não muda nada, ninguém não está nem aí se você ganhou..."mamãe, e aí ganhou, perdeu?" Não muda nada. Meu marido não vai gostar mais, menos de mim, se eu ganhei, se eu não ganhei, sabe? Pelo contrário. Claro estão torcendo, vão vibrar pelas suas conquistas, pelas suas alegrias. Então meu sonho é ter uma família como eu tenho mesmo, assim, de ver meus filhos crescerem, serem pessoas bacanas e felizes.

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