Na Liga das Nações de Vôlei 2023, Brasil e Itália se enfrentam sob legado de Bebeto de Freitas
Brasil e Itália jogam nesta terça-feira, 4 de julho, às 4h, pela terceira semana da Liga das Nações de Vôlei masculino 2023. Mais do que conquistas, em comum entre eles está a trajetória de Bebeto de Freitas, falecido em 2018 e que ainda exerce grande influência nas duas seleções.
Brasil e Itália se enfrentam na abertura da terceira semana da Liga das Nações de Vôlei Masculino 2023 nesta terça-feira, às 4h. Porém, mais do que um clássico da modalidade, a partida também coloca em evidência o legado de um dos maiores treinadores e com passagens marcantes nos dois países: Bebeto de Freitas.
O treinador, falecido em 2018, foi o comandante do Brasil na formação da ‘Geração de Prata’ dos anos 1980, com vice-campeonato mundial e olímpico na primeira metade da década. Depois, nos anos 1990, assumiu uma já vitoriosa geração de jogadores na Itália e a levou ao título mundial de 1998.
Tanto Renan Dal Zotto, atual técnico da equipe brasileira, quanto Ferdinando De Giorgi, treinador do time italiano, foram orientados por Bebeto nessas ocasiões. Renan, por exemplo, era justamente uma das estrelas do Brasil nos anos 1980 e pai do icônico saque viagem (na época chamado de viagem ao fundo do mar).
“Ele foi um dos caras que mais me inspiraram como atleta e treinador”, afirmou Renan ao Sportv em 2018. Ele, que fazia anotações dos treinos naquela época, incorpora muitas dessas orientações, como treinos de fundamentos e encaixes em conceitos táticos. “São questões que continuam atuais”, comentou ao jornal O Globo.
De Giorgi, por sua vez, era um dos levantadores de 1998, já veterano, que conquistou o Mundial com Bebeto de Freitas. Seria o último do país até 2022, quando a seleção italiana voltou ao topo com o ex-jogador no comando. A conquista só foi possível graças à capacidade de extrair o máximo de seus atletas dentro de quadra – outra característica marcante do ex-treinador brasileiro.
São esses conceitos que estarão em quadra novamente durante o confronto entre brasileiros e italianos pela Liga das Nações de Vôlei masculino 2023. Os dois países ganharam cinco dos últimos sete títulos mundiais, e em todos o trabalho (ou legado) de Bebeto de Freitas esteve presente.
Não à toa, ele mesmo fez questão de salientar que a conquista da Itália em 1998 era, também, uma vitória para o vôlei brasileiro. “Eu não quero ser banal. Quero dizer que estou muito feliz. Essa não é uma conquista pessoal. Creiam, é uma conquista de todo o voleibol brasileiro”, afirmou em entrevista à Folha de S.Paulo após a final do Mundial.
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No Brasil, Bebeto de Freitas mudou status do vôlei
Se hoje o vôlei é um dos esportes mais vitoriosos no Brasil e atrai uma legião de fãs, deve-se sobretudo ao trabalho de Bebeto de Freitas nos anos 1980. Ele assumiu o comando técnico da equipe masculina no início daquela década. Foi vice-campeão mundial em 1982, campeão pan-americano em 1983 e medalhista de prata nos Jogos Olímpicos Los Angeles 1984.
Mais do que os resultados inéditos, seu trabalho moldou as conquistas que vieram depois. Nos Jogos Olímpicos Seul 1988, quando assumiu a seleção às vésperas da competição, ele convidou Bernardinho para ser auxiliar, iniciando a trajetória do técnico que seria bronze em Atlanta 1996 e Sydney 2000 com as mulheres e depois ouro com os homens em Atenas 2004 e Rio 2016.
“Admirava-o desde os tempos em que era jogador, principalmente por sua postura, seu modo de orientar os companheiros durante o jogo, liderando-os, sendo quase um técnico dentro da quadra. Para mim Bebeto era um exemplo”, escreveu Bernardinho em seu livro ‘Transformando o suor em ouro’.
Bebeto de Freitas ficou na seleção brasileira até 1990, quando perdeu para a Itália na semifinal do Mundial de Vôlei realizado no Brasil. Seu assistente naquela época? José Roberto Guimarães, que seria campeão olímpico pelo Brasil com os homens em Barcelona 1992 e com as mulheres em Beijing 2008 e Londres 2012.
“O Bebeto era meu mentor. Foi quem me ensinou, me deu oportunidade, me incentivou, com quem aprendi tudo. Eu venho da escola dele”, afirmou o atual treinador da seleção feminina à TV Gazeta em 2018.
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Na Itália, Bebeto de Freitas finalmente ganhou o mundo
Após a frustração no Mundial de 1990, Bebeto de Freitas seguiu para a Itália. Foram cinco anos treinando – e empilhando troféus – pelo Parma. Tal desempenho o fez ser chamado em 1997 para substituir Julio Velasco, responsável pela ‘geração de fenômenos’ do vôlei italiano, campeão mundial em 1990 e 1994 e prata em Atlanta 1996.
Contratado inicialmente até os Jogos de Sydney 2000, o brasileiro ficou apenas dois anos. Pediu demissão antes mesmo do Mundial de 1998 por discordar de decisões da federação italiana. Mesmo assim, garantiu o título da Liga Mundial em 1997 e o tricampeonato mundial para a seleção da Itália após um confronto histórico contra o Brasil pela semifinal.
“Sempre o considerei o melhor treinador que conheci. Sabia ler os jogos com muita lucidez. Ele também tinha a grande capacidade de ver o talento e as habilidades técnicas dos jogadores, sendo capaz de fazer o mesmo atleta exercer mais funções”, comentou Carlo Magri, ex-presidente da Federação Italiana de Vôlei na nota oficial da entidade após a morte de Bebeto.
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Após vôlei, Bebeto de Freitas atuou como gestor esportivo
Curiosamente, o título mundial de 1998 com a Itália foi sua última experiência no vôlei. A partir de 1999, ele iniciou uma nova trajetória em sua vida: gestor esportivo. Entre 1999 e 2001, esteve no Atlético Mineiro, onde foi vice-campeão brasileiro de futebol em 1999 e campeão mineiro.
Em 2002, foi eleito presidente do Botafogo, clube em que tinha profunda ligação: além de ser torcedor na infância, foi jogador de vôlei e era primo de Heleno de Freitas e sobrinho de João Saldanha, dois botafoguenses históricos. Ficou no cargo até 2008, recolocando a equipe na primeira divisão do Campeonato Brasileiro e conquistando o título carioca de 2006.
Depois, atuou por diversas entidades e órgãos públicos, como a Secretaria Municipal de Esporte e Lazer de Belo Horizonte. Também acumulou mais duas passagens pelo Atlético Mineiro: em 2009 e 2018, quando faleceu após passar mal e sofrer uma parada cardíaca durante evento no complexo da Cidade do Galo.