Rita Lee levou astros do vôlei brasileiro das quadras ao estúdio e se passou por nadadora americana no Pan
Interesse pelo vôlei aproximou Rita Lee de William e Montanaro, jogadores da histórica seleção brasileira medalhista de prata nos Jogos Olímpicos Los Angeles 1984. Dupla do vôlei fez backing vocal em uma música no álbum “Rita & Roberto” em 1985 para a “Rainha do Rock”, que faleceu nesta terça-feira, 9 de maio.
Cada um a seu modo revolucionou a música e o esporte no Brasil ao longo dos anos 70 e 80. Rita Lee, a “Rainha do Rock”, e a seleção brasileira de vôlei nos anos 1980 tinham muito em comum e se tornaram ícones de uma geração que ansiava por liberdade. A ponto de astros do vôlei brasileiro participarem de uma música da artista.
William e Montanaro, dois dos grandes nomes da seleção que conquistou a primeira medalha Olímpica do vôlei brasileiro em Los Angeles 1984, fizeram backing vocals na música “Noviças do vício”, integrante do álbum “Rita & Roberto” de 1985. Era o auge da popularidade da equipe de vôlei naquela época.
O inesperado convite só foi possível por meio do mútuo interesse entre Rita Lee os ídolos do vôlei. William, que na época também editava a revista Saque ao lado de Montanaro, pioneira na cobertura de vôlei no Brasil, queria entrevistar a cantora, de quem era fã. Ela, por sua vez, também demonstrava admiração pelos feitos da equipe na época.
Desde pequena, Rita Lee sempre demonstrou predileção para a música do que para as práticas esportivas. Contudo, em sua autobiografia (2016), ela mesma sugere, após um colega pianista falecer em acidente de carro durante a adolescência, que chegou a pensar “que meu negócio não era música, e sim o esporte. Ou um convento”.
Rapidamente a música voltou a ganhar atenção principal de sua vida. Dali por diante foram 40 álbuns, 34 solo e 6 com os Mutantes, banda que ela ajudou a formar e que mudou o cenário cultural brasileiro. Rita Lee faleceu nesta terça-feira, 9 de maio, aos 75 anos, em São Paulo (SP).
Torcedora do Corinthians, Rita Lee fez show ao lado de ídolos do clube
A paixão pelo esporte não ficou restrita apenas ao vôlei. Rita Lee era torcedora do Corinthians no futebol e também se tornou símbolo durante uma época importante para a história do clube: a Democracia Corintiana, movimento dos jogadores que prezava por mais liberdade nas tomadas de decisão – e que contrapunha ao fim da ditadura militar no Brasil.
Em 1982, fez um show em que convidou os atletas Casagrande, Wladimir e Sócrates, três dos grandes ídolos da história do Corinthians e líderes do movimento, a subirem no palco. Além disso, compôs a música “Amor Branco e Preto”, em que contava o seu sentimento de torcedor que sofria e se alegrava com a equipe do coração.
Além do Corinthians, Rita Lee também nutria carinho pelo Internacional, do Rio Grande do Sul. Em 2008, ela chegou a ser nomeada consulesa cultural da equipe após realizar um show em Porto Alegre. Antes, em 2003, chegou a receber o "Galo de Prata", uma premiação criada pelo Atlético Mineiro para premiar artistas e autoridades.
Rita Lee fingiu ser nadadora americana durante os Jogos Pan-Americanos de 1963
Nascida na capital de São Paulo, Rita Lee também narrou outra situação esportiva, desta vez mais pitoresca, durante os Jogos Pan-Americanos de 1963, realizados na cidade. Na ocasião, ela foi confundida com a nadadora americana Alice Mary Driscoll (que seria campeã pan-americana nos 200m peito) enquanto acompanhava algumas provas com suas amigas nas arquibancadas do estádio do Pacaembu.
“Uns garotos que também deviam estar gazeteando olham para nós e me “reconhecem” como a nadadora americana Alice Mary Driscoll, da qual nunca ouvira falar. (...) Prometemos voltar no dia seguinte e a garotada combinou de nos encontrar novamente com mais amigos e até uns recuerdos do “Brésil”, como eles pronunciavam. (...) Demos autógrafos, posamos para fotos, trocamos moedas, 'aprendemos' algumas palavras em português, miss simpatia total”, escreveu em sua autobiografia.
Contudo, a farsa não durou muito tempo. No mesmo dia, após entrarem em um ônibus para voltar para casa, reencontraram dois garotos da mesma turma que ela tinha dado autógrafos. “Demos um bye-bye e saltamos com a buzanga andando. Nos esborrachamos na queda, mas evitamos um apedrejamento público”.
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