Em uma época em que sequer havia campeonato profissional de futebol feminino no Brasil, uma geração de craques honrou a camisa amarela com a prata diante do melhor time do mundo, os EUA, em Atenas 2004, 20 anos antes de repetirem o feito em Paris 2024.
Marta, Formiga, Cristiane, Pretinha, Maycon e grande elenco conquistaram a primeira medalha Olímpica da seleção feminina, seguida pelas pratas em Beijing 2008 e Paris.
“Era muito fácil você ir para uma Olimpíada e ficarem te cobrando medalha, ficarem te cobrando resultado sem darem o mínimo pra você trabalhar. A gente recebia 25 reais de diária. Nós usávamos uma chuteira, dávamos para outra jogadora usar, e depois pegávamos o pé de volta. Então, era o básico que a gente queria aquela época”, contou Cristiane à TV Globo.
Relembre quais eram as jogadoras e como foi a campanha da seleção brasileira feminina de futebol.
Elenco da prata do Brasil no futebol feminino em Atenas 2004
As posições em que as jogadoras atuaram naqueles Jogos Olímpicos podem ser diferentes das que elas jogaram em outros momentos da carreira.
- Andréia, goleira
- Maravilha, goleira
- Mônica, zagueira
- Tânia Maranhão, zagueira
- Juliana Cabral, zagueira
- Daniela Alves, lateral direita
- Rosana, lateral esquerda
- Renata Costa, atacante
- Aline Pellegrino, zagueira
- Formiga, volante
- Elaine, atacante
- Maycon, meia
- Pretinha, atacante
- Marta, meia
- Cristiane, atacante
- Roseli, atacante
- Kelly Cristina, atacante
- Grazi, volante
- Treinador: René Simões
Deste grupo, também foram prata em Beijing 2008: Andréia, Tânia Maranhão, Daniela Alves, Rosana, Renata Costa, Formiga, Maycon, Pretinha, Marta e Cristiane. Apenas Marta permaneceu para o vice-campeonato em Paris 2024.
Renata Costa foi naquela época a mais jovem medalhista do futebol, com 18 anos e quatro dias.
“Aquele grupo eu vou levar para o resto da minha vida. Em todos os grupos que passo hoje, tento ajudar a outra companheira, me relacionar melhor. Aprendi isso com o grupo das Olimpíadas de 2004”, afirmou Renata ao site da CBF.
A campanha da prata em Atenas 2004
A seleção brasileira estava no Grupo G, com a anfitriã Grécia, os EUA e a Austrália. Confira os placares da campanha:
- 11 de agosto, Brasil 1x0 Austrália - gol de Marta
- 14 de agosto, Brasil 0x2 EUA - gols de Hamm e Wambach
- 17 de agosto, Brasil 7x0 Grécia - gols de Pretinha, Cristiane (3), Grazi, Marta e Daniela
- 20 de agosto, quartas de final, Brasil 5x0 México – gols de Cristiane (2), Formiga (2) e Marta
- 23 de agosto, semifinal, Brasil 1x0 Suécia - gol de Pretinha
- 26 de agosto, final, Brasil 1x2 EUA - gols de Pretinha, Tarpley e Wambach (na prorrogação)
Uma geração que deixou sua marca no futebol feminino
Como de costume, a pedra no sapato do Brasil foi a seleção americana. Após a derrota na fase de grupos, elas foram novamente as adversárias na decisão.
“Nós estávamos super ansiosas para a final, porque era a primeira decisão Olímpica do futebol feminino brasileiro”, lembrou Juliana ao Estadão. As jogadoras encontraram Adriana e Shelda, medalhistas do vôlei de praia, na véspera, e receberam conselhos.
“Elas viraram para nós e afirmaram que aquele era um momento mágico, o sonho de todo atleta, e que merecia ser desfrutado. Elas nos pediram para entrar em campo e nos divertir, como fazíamos ao brincar na rua e jogar com as amigas. Sempre com muita responsabilidade, mas também com muito prazer e alegria”, recontou Juliana.
O Brasil conseguiu dominar a posse de bola no Estádio Karaiskakis, mas enfrentou dificuldades para concluir as jogadas devido à forte marcação dos EUA.
A partida terminou empatada e foi à prorrogação, na qual Wambach marcou de cabeça aos 7 minutos do segundo tempo.
“Chegar em uma final de Olimpíada era um marco para a gente. Foi a primeira final importante na nossa carreira, na história da seleção feminina também. E chegar contra os Estados Unidos, eram absurdas aquelas meninas, deu um peso muito grande pra gente”, acrescentou Cristiane ao GE. Ela foi a artilheira do torneio, junto à alemã Prinz, e viria a ser a maior de todas as edições, com 14 gols.
Aquela geração simbolizou o início de uma nova era no futebol feminino no Brasil. A partir delas, jogadoras das gerações posteriores puderam sonhar mais e lutar por mais.
“Independente se no nosso país, infelizmente, a gente não considera bronze e prata com a importância que deveria se dar. Mas, internamente, com a nossa família, com os nossos amigos, para a modalidade, a gente sabia o quanto ela era importante. E fez também com que outras meninas olhassem e falassem: 'Caramba, eu quero jogar futebol'", concluiu Cristiane.