No dia 3 de agosto de 2016 o Comitê Olímpico Internacional aprovou a inclusão do skate no Programa Olímpico para os Jogos de Tóquio 2020 em 2021. Com milhares de praticantes pelo mundo todo entre homens e mulheres, está bastante associado à juventude e ao urbano.
"O skate contribui para tornar o programa dos Jogos Olímpicos mais equilibrado em termos de gênero, mais jovem e mais urbano. Oferece a oportunidade de se conectar com a geração mais jovem."
-Thomas Bach, Presidente do Comitê Olímpico Internacional para a World Skate
Em inglês o esporte é conhecido como skateboarding, que passada para uma tradução livre podemos imaginar "patins em uma prancha". No Brasil ficou conhecido como, simplesmente, skate, modalidade que há aproximadamente 50 anos é praticada no país e que possui uma rica história, que passa desde proibições da sua prática em áreas públicas até a formação de uma vencedora geração capaz de fazer bonito em Tóquio.
Histórico do skate
Na Califórnia (Estados Unidos) dos anos 50 e 60 do século passado, na ausência das ondas do mar, surfistas adaptaram suas manobras em pranchas com eixos e rodas. Nascia o skate. Na década de 1970 uma grave seca atingiu a Costa Oeste dos Estados Unidos. Houve racionamento de água. Como consequência, as piscinas ficaram vazias e os praticantes do skate passaram a andar dentro delas. Surgia, de maneira despretensiosa, o bowl (cuja tradução é "tijela", como se andassem mesmo dentro de uma), que mais tarde deu origem à variante do park que, junto com o street, são os eventos do skate que fazem parte dos Jogos.
Outro marco na modalidade foi a criação da roda de poliuretano, em 1972, o que fez com que o equipamento ficasse mais leve e permitisse rapidez nos movimentos e manobras mais arrojadas. No entanto, acidentes com os praticantes eram constantes e muitos locais públicos passaram a proibi-lo. A partir de então passam a surgir pistas e rampas particulares. Paulatinamente o número de praticantes e adeptos vai crescendo, ao passo que a tecnologia também, com equipamentos de segurança e inovações para o esporte. Pouco a pouco o skate ganha o cinema, como no filme "De volta para o futuro" (1985).
O mesmo aconteceu no Brasil, difundido em um primeiro momento entre jovens que tinham contato com o cotidiano norte-americano, quer seja através de viagens, mas também pelos filmes e pela imprensa. Em 1988 chegou a ser proibido na cidade de São Paulo pelo então prefeito Jânio Quadros. O veto foi uma resposta a um protesto de skatistas à não permissão de praticarem o esporte no Parque do Ibirapuera. Meses depois, com a capital paulista sob administração da prefeita Luiza Erundina, a proibição caiu e os seus adeptos voltaram às ruas.
Nos anos 1990 o skate já estava organizado em uma federação internacional, a atual "World Skate". No entanto foram necessários mais de 20 anos para que o esporte fosse incluído no Programa Olímpico.
Muita coisa aconteceu nestes 33 anos, desde essa proibição em São Paulo. O surgimento no Brasil e no mundo de ídolos locais e internacionais influenciou muito a difusão do esporte, bem como o seu vínculo com a música voltada para o público jovem. Ademais, locais para a prática são cada vez mais comuns, assim como mais presentes a moda e o estilo de vida relacionado ao skate.
O Brasil possui grandes chances de medalha no skate durante os Jogos Olímpicos, com destaque para Letícia Bufoni, Rayssa Leal e Pâmela Rosa.
Letícia Bufoni
Sem dúvida alguma ela é um dos maiores nomes do esporte do Brasil. Com 28 anos e apelidada de "Princesa do Skate" começou aos 9 e aos 14 partiu para os Estados Unidos, para competir nos "X Games" de 2007, em Los Angeles.
Não voltou.
Das práticas nas ruas da Vila Matilde, ela estava certa de que a metrópole californiana era o lugar para ficar e seguir uma carreira profissional. Enfrentou a resistência do pai, que uma vez chegou a ameaçar quebrar o skate de Letícia com uma serra elétrica. Assim que viu o seu talento e empenho, mudou de ideia e hoje é um dos maiores incentivadores.
A paulistana também enfrenou resistência de todo um ambiente que considerava que o skate não era para mulheres. Foi preciso bastante determinação para superar esses adversários invisíveis e conquistar o devido reconhecimento.
Os resultados não vieram da noite para o dia. Já nos Estados Unidos, em 2009 o título do "Maloof Money Cup". Em 2010, em sua estreia nos "X Games", veio a prata, A dedicação, o envolvimento, o profissionalismo fizeram dela referência na modalidade. Com o tempo ela se tornou 5 vezes campeã dos "X Games", venceu o Campeonato Mundial de street em 2015, tendo conseguido a medalha de prata nos 3 anos seguintes. Sem falar dos inúmeros torneios que faturou ao longo da carreira.
Diante de um palmarés repleto, uma medalha Olímpica certamente terá um lugar mais do que especial na galeria de Letícia. Não esconde a satisfação de estar nos Jogos e competir ao lado das amigas Rayssa Leal e Pâmela Rosa.
"Hoje foi um dia que estou esperando há 4 anos. Chegou o momento decisivo para definir quem iria para as Olimpíadas. Então, hoje era o momento que eu estava mais esperando. Estou muito feliz."
-Letícia Bufoni, para a Confederação Brasileira de Skate, ao conseguir a vaga para os Jogos
Rayssa Leal
No dia da sua estreia em Tóquio - a 26 de Julho - Rayssa terá 13 anos e 203 dias de idade. Isso significa que ela será a mais jovem atleta do Brasil a competir em Jogos Olímpicos. A maranhense de Imperatriz se destaca no street, tendo sido medalha de bronze no mundial realizado em Roma (Itália), no início de junho.
Começou no esporte aos 6 anos de idade e, aos 11, a "Fadinha" (como é carinhosamente conhecida) foi a mais jovem skatista da história a vencer a "Street League Skateboarding World Tour", em Los Angeles (Estados Unidos). Tem muito ainda pela frente em sua carreira, e vê os Jogos Olímpicos Tóquio 2020 em 2021 da seguinte maneira:
"Vou estar junto com a minha mãe. Saber que ela vai estar lá dando segurança para mim e todo o apoio vai ser muito bom, inclusive a CBSk [Confederação Brasileira de Skate] também. E só vou me divertir. É o que seu sei fazer de melhor, andar de skate. Colocar o meu sorriso no rosto que tudo vai dar certo. Como eu sempre falo, vai ser uma diversão com responsabilidade."
-Rayssa Leal, para o site da CBSk
Pâmela Rosa
É a disciplina que tem conduzido Pâmela ao topo por onde passa. Foi paixão à primeira vista quando viu o skate do amigo da irmã, que havia ido para a sua casa fazer um trabalho para a escola. Pâmela tinha menos de 10 anos de idade. Os pais perceberam e não tiveram dúvidas em comprar um para ela. A vida da paulista de São José dos Campos mudaria para sempre.
Em 2012 tornou-se campeã sul-americana. Era só o começo. Nos "X Games", na categoria street são seis pódios, tendo sido dois primeiros lugares, em Oslo (NOR) e Austin (USA), além do título mundial de street em São Paulo, em 2019. O histórico de resultados levaram-na a vencer, em 2019, o Prêmio Brasil Olímpico - concedido anualmente pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB) - na categoria skate.
Tirar o foco do Mundial não tem como porque também é um dos meus sonhos, mas consigo, sim, pensar um pouco nas Olimpíadas agora. Não ficar tranquila, mas focar ainda mais nas Olimpíadas. Porque está chegando. Faltam agora 49 dias para pensar, refletir, ver o que está errando, o que está acertando, e evoluir para chegar nas Olimpíadas com o maior objetivo de trazer a medalha para o Brasil. Estou muito feliz de fazer parte das Olimpíadas junto com as meninas. Eu, Rayssa e Leticia vamos representar muito bem nosso Brasil.
-Pâmela Rosa, para o site da Confederação Brasileira de Skate, quando obteve a classificação para os Jogos
Skate nos Jogos
Os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 em 2021 serão os primeiros em que o skate fará parte. A modalidade será disputada no Ariake Urban Sports Park, na capital japonesa, dias 25 e 26 de julho; 4 e 5 de agosto.
O Brasil tem 12 representantes no skate, que são.
- Categoria Street: Letícia Bufoni, Rayssa Leal, Pâmela Rosa, Kelvin Hoefler, Felipe Gustavo e Giovanni Vianna.
- Categoria Park: Dora Varella, Yndiara Asp, Isadora Pacheco, Pedro Barros, Luiz Francisco e Pedro Quintas.