Na mira pela medalha: conheça o atirador Philipe Chateaubrian, primeiro a garantir vaga individual para o Brasil em Paris 2024
Atleta da pistola de ar 10m obteve o feito em novembro de 2022 agora trabalha para manter a condição até os Jogos da capital francesa. Ele também fala sobre a amizade com Felipe Wu, medalhista Olímpico no mesmo evento no Rio 2016.
"Eu sou o campeão do Campeonato de Tiro das Américas de 2022 e vou conseguir a minha vaga" - a frase tinha sido escrita por Philipe Chateaubrian ainda em fevereiro daquele ano. Nove meses depois, aconteceu: ele se tornou o primeiro atleta a obter uma vaga individual para o Brasil em Paris 2024, na pistola de ar 10m, ao vencer a competição em Lima, no Peru.
"Foi algo muito representativo na minha carreira e a realização de um sonho", comentou com exclusividade ao Olympics.com o atirador, que terminou em sexto lugar no Pan de Lima, em 2019, que garantia duas vagas a Tóquio 2020, e foi terceiro no mesmo Campeonato de Tiro das Américas de 2018, com uma presença nos Jogos em disputa.
Na final do evento na capital peruana, ele superou o americano Nick Mowrer, que esteve presente em Londres 2012 e Tóquio 2020.
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O regulamento da Federação Internacional de Tiro Esportivo (ISSF, na sigla em inglês) é bem claro em relação às classificações: a vaga é para o país, não para o atleta - entretanto, com apoio da confederação e do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Philipe vem intensificando sua preparação nesta temporada para chegar na melhor forma à capital francesa.
"Iniciei um novo trabalho, agora com um técnico (o ex-atirador Julio Almeida). Troquei a minha arma, comprei uma nova pistola porque tenho mais possibilidades com esse novo equipamento esportivo. Mas requer uma fase de adaptação. Ainda assim, estou conseguindo os rendimentos que já tive no ano passado, com uma queda um pouco natural da mudança, mas com grandes projeções futuras de melhoria de resultado", afirmou.
Trocando os pés pelas mãos
O início de Philipe Chateaubrian no tiro esportivo é bem curiosa: militar de carreira, ele jogava no time de futebol da Academia das Agulhas Negras em 2011, mas foi cortado do time. Para seguir com alguns dos benefícios de ser atleta pelo Exército, resolveu buscar outro esporte para competir - o tiro esportivo.
"Um amigo me fez um convite para fazer um teste no tiro. Conversei com o técnico, falei que queria muito entrar na equipe, que ia me dedicar muito para aquilo ali. E aí fui lá, fiz o teste. Foi numa sexta-feira, eles já estavam fechando a equipe. Na segunda-feira, tinha sido selecionado", contou.
Em 2014, ele foi vice-campeão do Mundial de Cadetes, em Salinas, no Equador. No ano de 2016, ele trabalhou na segurança das áreas da Vila Militar de Deodoro, onde ficava o Centro de Tiro Olímpico nos Jogos do Rio. E aí começou mais uma etapa decisiva da sua carreira.
Felipe Wu, referência na carreira
Em 2016, Philipe estava na torcida quando viu Felipe Wu conquistar uma prata para o tiro esportivo do Brasil pela primeira vez desde Antuérpia 1920, na mesma pistola de ar 10m. Anos depois, os xarás disputavam a vaga no Campeonato de Tiro das Américas e Philipe superou o medalhista Olímpico. Rivalidade? Longe disso.
"Com o passar do tempo, a gente estreitou os laços, criando uma relação de amizade. Começou mais como ajuda, pedia dicas para ele, pedia treinamentos, acompanhamentos e agora, por exemplo, na última competição, a gente estava no mesmo quarto de hotel na competição. A gente treina em vários momentos juntos, tanto no Rio de Janeiro, quando ele vem para cá. Em qualquer modalidade, para chegar no topo, só tem um lugar. Então existe essa rivalidade entre os atletas, mas de uma maneira muito sadia entre a gente, nunca deixamos de nos ajudar conta disso," disse.
Philipe lembrou ainda que a primeira vez que teve contato mais próximo com o xará foi para pedir que ele trouxesse uma pistola do exterior, o que foi prontamente atendido. Ambos chegaram a morar na mesma cidade, em Curitiba, onde as famílias se encontravam com regularidade para comer churrasco.
Em 2017, Phelipe era instrutor de tiro na AMAN e chamou o xará para ficar uma semana na academia e poder passar mais instruções a eles.
"Falei assim: 'Vamos fazer o seguinte, agora também sou cadete e vou ser treinado por você'. Então pode ficar a vontade para me dar dicas ou fazer correções. A gente se foi aproximando, e foi ali que a gente iniciou essa relação mais estreita."
Sobre a presença de ambos em Paris, Phelipe não tem dúvidas de que isso acontecerá, pois ainda há mais chances para isso: no Mundial de Tiro, a ser disputado em agosto em Baku, nos Jogos Pan-Americanos Santiago 2023 e em mais um classificatório antes dos Jogos.
"Não encaro ele como adversário porque existe outra vaga e ele já provou ter essa capacidade, ganhando uma medalha olímpica não precisa de muita explicação", afirmou.
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Xarás em Santiago 2023
O entrosamento entre os dois é tão bom que eles novamente devem ser companheiros de quarto durante a disputa dos Jogos Pan-Americanos Santiago 2023, que vale uma vaga para Paris 2024. Ambos foram confrimados pela CBTE como representantes do Brasil na pistola de ar 10m.
"É uma competição onde há um nível um pouco mais baixo do que as outras internacionais. Tenho plenas condições de ir para a final, de fazer uma boa final e de ganhar a competição. E é para isso que eu vou. Vou trabalhar para chegar lá dessa forma", comentou Philipe, que apontou Nick Mowrer e o cubano Jorge Grau como os principais adversários nas Américas.
Com relação à disputa mundial, os maiores concorrentes são a Sérvia, com Damir Mikec, prata em Tóquio 2020, a Alemanha, Índia e República Popular da China.
"Além dele (Mikec) ser um cara muito bom, ele é muito consistente e tem conseguido excelentes resultados, atira a mais de dez anos com pontuação acima de 580. Além dele, tem outros atletas alemães que também estão no topo dessas competições. A gente tem a Índia como celeiro de novos atletas em altíssimo nível. Além deles, a China, por conta da quantidade também de atletas participantes da modalidade", explicou.
Pódio Mundial e Olímpico
Para o ano pré-Paris, o principal objetivo de Philipe é chegar a uma final da Copa do Mundo de tiro. Em seguida, espera que essa experiência o leve a voos mais altos também nos Jogos da capital francesa:
"O meu objetivo agora é conseguir entrar numa final de nível internacional e chegar nas Olimpíadas com possibilidade de conquistar uma medalha. Tenho trabalhado muito para isso. E assim, o passo a passo disso eu já tenho conseguido atingir, que foi ser campeão brasileiro, sul-americano e pan-americano, conquistando a vaga para os Jogos. As pessoas acham que essa minha ascensão está sendo conquistada muito rápido, então é isso que me dá o suporte de sonhar e o próximo nível de dar o próximo passo", comentou.