Pedro Henrique Nunes abre portas para o Brasil no lançamento do dardo
Aos 24 anos, jovem amazonense estabeleceu o novo recorde brasileiro no lançamento de dardo após oito anos. Pedro Henrique Nunes sonha com final no Mundial e nos Jogos Olímpicos Paris 2024 e, mesmo no campo ao invés da pista, já é uma das estrelas no Troféu Brasil de Atletismo 2023.
No atletismo, o Brasil já teve resultados expressivos em provas de velocidade, de fundo, saltos (em distância, triplo e com vara) e no arremesso. Já Pedro Henrique Nunes quer colocar o lançamento de dardo nesta lista. Hoje, ele já se posiciona como um dos melhores nomes do país e se prepara para alcançar sonhos maiores.
O atleta quebrou recentemente o recorde brasileiro da prova que já durava quase oito anos. Mais do que isso: os 83.89 metros obtidos em maio no Grande Prêmio de Atletismo, em São Paulo, ficaram por várias semanas entre as 10 melhores marcas do mundo em 2023 (hoje é a 14ª) e o colocariam na sexta posição do Mundial de Atletismo em 2022.
Exceto por Alison dos Santos, que venceu o título mundial nos 400 metros com barreira, essa marca seria melhor do que a registrada por todos os velocistas do Brasil na competição. Justamente por isso o atleta nascido no Amazonas quer mostrar que há bons resultados para além das provas mais rápidas.
“Hoje a gente vê atletas de prova de campo chegando a nível mundial, estando entre os melhores, é surpresa porque o atletismo é muito visto ainda pelas provas de velocidade”, comentou com exclusividade ao Olympics.com, para depois prosseguir. “Quero poder ver todo mundo caminhando junto, todas crescendo no cenário mundial”.
Não à toa, uma de suas inspirações é Darlan Romani, campeão mundial indoor no arremesso de peso e finalista Olímpico. Além disso, os sucessos de Fabiana Murer e Thiago Braz, campeão Olímpico no Rio 2016, no salto com vara também ajudaram a colocar as provas de campo com mais destaque no atletismo nacional.
Desempenho que Pedro Henrique Nunes espera repetir no lançamento de dardo. Finalista do Mundial Júnior de 2018 e campeão dos Jogos Pan-Americanos Júnior de 2021, ele almeja sonhos maiores já nos próximos meses: disputar a final da prova tanto no Mundial de Atletismo de 2023 quanto nos Jogos Olímpicos Paris 2024.
“São os maiores objetivos para esse e o próximo ano. Quero não só ir para os Jogos Olímpicos, mas tenho a mesma meta do Mundial: estar ali no topo, brigando. Se eu chegar ali entre os cinco melhores para mim vai ser um dever cumprido e, posteriormente, tentar buscar essa medalha nas próximas edições”.
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Pedro Henrique Nunes terá ano ‘cheio’ para alcançar índice Olímpico
A caminhada de Pedro Henrique Nunes até Paris 2024 começa com um calendário cheio no segundo semestre. O objetivo do atleta amazonense é confirmar a convocação para o Mundial de Atletismo de 2023 e, claro, encaminhar a vaga Olímpica via índice (85.50 metros) ou com a pontuação necessária nos eventos nacionais e internacionais.
O primeiro desafio será justamente o Troféu Brasil de Atletismo 2023 em Cuiabá (Mato Grosso) entre 6 e 9 de julho. Três semanas depois, ele compete novamente no Sul-Americano que acontecerá em São Paulo entre 28 e 30 de julho. Por fim, depois do Mundial, seu foco estará nos Jogos Pan-Americanos de 2023, em Santiago, no Chile.
“As minhas melhores marcas sempre foram me surpreendendo. Não esperava lançar 83.39 agora, no início da temporada. Mas se veio agora, é porque para o resto do ano tenho grandes resultados para alcançar ainda”, afirma.
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Marcas de Pedro Henrique Nunes saltaram nos últimos dois anos
O sucesso no lançamento de dardo fez Pedro Henrique Nunes ganhar destaque entre os torcedores. “Preciso de alguém com agenda porque sempre querem entrevistar, marcar alguma coisa”, brinca. Um cenário que se intensificou pelos resultados alcançados sobretudo nos últimos dois anos.
Se até 2021 sua melhor marca era de 74.58 metros obtida em 2017, de 2022 para cá ele já ultrapassou a casa dos 80 metros em três oportunidades. Uma regularidade necessária para alçar voos maiores até chegar em seu grande sonho no futuro: quebrar a barreira dos 90 metros.
Dois fatores foram primordiais para isso. O primeiro deles foi o reforço no treinamento. A partir de 2021 ele passou a ter um treinador específico de força em sua equipe, permitindo que sua treinadora principal pudesse dedicar mais tempo para corrigir e aprimorar a técnica do lançamento de dardo.
Além disso, há a própria competição interna no Brasil. Luiz Maurício da Silva, 23 anos, também ultrapassou a barreira dos 80 metros nos últimos dois anos. Porém, mais do que rivais, os dois se tornaram amigos a partir dessa disputa pelo protagonismo na modalidade.
“Inclusive, quando consegui o recorde, ele não pôde competir, mas estava lá no local e veio conversar para tentar me ajudar, dar esse incentivo. Nas viagens com a seleção ele é meu colega de quarto. Às vezes eu ganho dele, em outras ele ganha de mim e isso é bom porque a gente coloca o lançamento de dardo do Brasil nas alturas”.
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Pedro Henrique Nunes superou lesões para crescer
De certa forma, os bons resultados de Pedro Henrique Nunes no lançamento de dardo também são resultados de superação. Mesmo aos 24 anos, o atleta teve que se recuperar duas vezes de lesões para retornar ao esporte e conseguir estabelecer as melhores marcas de sua trajetória nas últimas duas temporadas.
Ainda adolescente, ele conviveu com uma lesão no cotovelo que o deixou dois meses afastados de qualquer lançamento. Tempos depois, sofreu um acidente de moto que o obrigou a fazer uma cirurgia no ombro, deixando-o parado por mais alguns meses. Justamente em duas regiões vitais para a técnica de sua modalidade.
“Quando eu voltei, fiquei ainda melhor com a minha cabeça. Eu sabia que podia estar nas competições, que poderia voltar ainda melhor do que estava. São questões que acontecem para a gente aprimorar lá na frente e acertar. Foi isso que eu fiz”, relatou.
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Pedro Henrique Nunes começou ao acaso no dardo
Quem vê Pedro Henrique Nunes se destacando no lançamento de dardo atualmente mal sabe que ele começou na modalidade quase sem querer. Filho de uma família que sempre se envolveu com o esporte, ele era atleta de futsal da sua escola que participaria dos Jogos Escolares de Parintins no início de 2013.
Contudo, o regulamento previa que participantes de esportes coletivos poderiam competir em uma prova individual de qualquer esporte. Pedro, que tinha 13 anos na época, já praticava outras provas de atletismo, mas escolheu justamente a que tinha experimentado há pouco tempo: o lançamento de dardo.
Resultado? Ele foi campeão e se classificou para os Jogos Amazonenses no meio do ano. Nova vitória e classificação para os Jogos Escolares da Juventude, realizado pelo Comitê Olímpico Brasileiro no final de 2013. E lá ele também foi campeão.
“Essas três competições eu ganhei sem ter a técnica exigida. Foi muito mais na vontade e no talento mesmo”, comentou.
O esporte, contudo, não era novidade para ele. Seu tio, Jander Cardoso, já era atleta nacional da modalidade e foi bronze nos Jogos Pan-Americanos do Rio, em 2007. Diante do talento do sobrinho, já no início de 2014 o levou para treinar em Manaus com a treinadora Margareth Bahia Haiden, que o orienta até hoje.
Pedro não parou de evoluir desde então; já seu tio, resolveu se aposentar em 2017. “Ele sempre conta assim, ‘vou parar agora para não te dar esse gostinho de ter me ganhado’, e se aposentou mesmo”, diverte-se.