Leticia Oro Melo focada em se manter no topo do atletismo: 'Sempre quis estar neste patamar'
Medalhista de bronze no último Mundial de atletismo no salto em distância, a catarinense volta às competições nos Jogos Sul-Americanos em outubro. Para os próximos anos, ela sonha em ganhar experiência no exterior e se classificar para os seus primeiros Jogos Olímpicos em Paris 2024. Confira a entrevista exclusiva da saltadora para o Olympics.com.
“Eu estava lá no meu cantinho e só pensava ‘me ajuda, Senhor, acaba logo. Não deixa ninguém me passar!”
Eis o que a brasileira Leticia Oro Melo pensava enquanto ela conquistava o bronze no Campeonato Mundial de Atletismo deste ano, no salto em distância.
Pode ter sido um resultado inesperado para a maioria das pessoas, mas a catarinense estava confiante que tudo poderia acontecer.
“No Mundial, entre a primeira colocada e a trigésima, todas são top. Não tem nenhuma que é fraquinha. Então quem acertar naquele dia vai levar”, disse Leticia ao Olympics.com, prestes a retornar às competições nos Jogos Sul-Americanos 2022, em Assunção, no Paraguai.
Confira a entrevista com a medalhista mundial abaixo.
O risco recompensado com o bronze
Há pouco mais de dois meses, Leticia desembarcava em Oregon, nos EUA, sabendo que tinha que deixar sua marca.
“Queria ir lá e mostrar meu serviço, quem eu sou, porque ninguém me conhecia. Era uma chance única”, afirmou.
A urgência com que encara as competições é uma característica que Leticia quer levar também para os Jogos Olímpicos. A partir de 2023, ela poderá tentar o índice para estar lá.
“Eu ia dar tudo de mim, [o Mundial] era minha oportunidade. Tinha que arriscar e ir com tudo. Meu objetivo em Paris 2024 também vai ser ganhar. Eu treino para ganhar, não tem nenhum atleta que treina para perder.”
De quebra, o Mundial permitiu que Leticia ‘tietasse’ seus ídolos, como a venezuelana Yulimar Rojas, recordista mundial do salto triplo.
“Meu Deus, quando vi ela, eu falei ‘foto, foto, foto’. E ela tirou. Quase chorei, porque sou muito fã dela. Também da [Malaika] Mihambo, que ganhou a minha prova”, contou a brasileira de 24 anos.
‘Os obstáculos me dão mais garra’
O primeiro passo para o salto de 6,89m que lhe deu o bronze no Mundial aconteceu em 2019, quando Leticia mudou sua mentalidade como atleta.
“Eu falei ‘eu quero ser a melhor’. Quando você é mais jovem, não tem aquela maturidade. Comecei a treinar mais, fiz tudo que meu treinador mandou. Quando a gente faz o que ama, não tem como dar errado”, afirmou.
Nem a pandemia, que impediu a maioria dos atletas de treinar, tirou sua motivação.
“Na época do Covid, muitos atletas desanimaram. Eu fiquei com mais ânimo. Parece que os obstáculos me dão mais garra, força e vontade.”
O baque para Leticia veio no final de 2021, quando ela sofreu uma lesão grave no joelho, que exigiu uma cirurgia.
“Colocava uma música triste e pensava o porquê de tudo isso. Eu conversei com Deus, que é meu melhor amigo. Era para eu parar e pensar nas minhas atitudes. Deu certo!”
Próximos passos: Jogos Sul-Americanos e experiência internacional
O retorno ao Brasil após o pódio no Mundial teve muitos novos compromissos, mas Leticia afirma que sua vida não sofreu grandes mudanças.
“Eu fiquei mais conhecida, mas ao mesmo tempo parece tudo normal. Eu continuo a mesma Letícia. Mas aí eu me pego dirigindo e pensando ‘meu Deus, eu fui terceira do mundo’. Parece que eu não acredito nessa grandiosidade do que eu fiz”, disse.
Um reforço importante para os Jogos Sul-Americanos será a presença de João Carlos dos Santos, seu treinador, que a orientou à distância no Mundial.
“No Mundial, eu acertei um salto, mas queimei os outros. O João me explicou depois que, como eu fiquei bastante tempo sem competir, eu estava sem noção de tábua.”
Leticia segue treinando em uma pista de carvão em Joinville, vislumbrando a possibilidade de ganhar mais experiência internacional.
“Por enquanto, a pista continua igual. Mas não vou ficar reclamando, desanimada. Se não mudar, vou fazer uns camps fora. Se não dá de um jeito, dá de outro. Só não se dá jeito para a morte, o resto a gente se vira”, comentou.
“Quero começar a competir na Diamond League, na Europa. Entender como é competir toda hora. Espero poder fazer camps. Imagina se eu consigo treinar com a Rojas e viro amiga dela?”, brincou.
Após Oregon, Leticia sabe que as expectativas mudarão. O primeiro gosto deste novo status será nos Jogos Sul-Americanos, com a prova do salto em distância em 13 de outubro.
“Chegar lá [no topo], beleza, mas se manter é mais complicado. As pessoas vão cobrar resultados de mim, mas eu também espero de mim. Quero evoluir cada vez mais. Agora eu tenho uma torcida. Sempre quis estar neste patamar, entre as melhores do mundo.”
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