Os Jogos Olímpicos de Inverno de Beijing 2022 não foram o que a estrela americana do esqui alpino, Mikaela Shiffrin, esperava – ela é a primeira a dizer isso.
A atleta de 26 anos de idade entrou no evento com duas medalhas de ouro Olímpicas e sendo 73 vezes vencedora da Copa do Mundo - incluindo um recorde de 47 vitórias em corridas de slalom.
Mas em Pequim, ela não terminou três das cinco corridas em que participou. Nas duas corridas em que chegou à linha de chegada, ficou em 9º (Super-G) e 18º lugar (Downhill).
Foi um momento raro em que uma das mais bem-sucedidas atletas do esporte não fez o que ela estava acostumada a fazer e que, por tanto tempo, fez parecer ser tão fácil.
“Você pode falhar e não ser um fracasso”, disse Shiffrin ao Olympics.com em entrevista.
Apoio de Simone Biles
Essas palavras são afirmadas por nomes como o de Simone Biles, sete vezes medalhista Olímpica na ginástica artística, que, como Shiffrin, ultrapassou os limites de seu esporte.
“Receber qualquer nível de reconhecimento de Simone é insano, porque para mim, ela é tão além, ela é uma atleta incrível”, disse Shiffrin, referindo-se ao apoio de Biles nas mídias sociais durante os Jogos. “E o fato de ela ter dito: 'Você ainda é uma das maiores atletas do mundo, e estes Jogos Olímpicos não mudaram nada disso.' Foi muito importante ouvir isso.”
Biles entrou nos Jogos Olímpicos de Verão de Tóquio 2020, realizados no verão de 2021, com expectativas semelhantes às de Shiffrin. Com potencial para até cinco medalhas de ouro, Biles experimentou o que os ginastas chamam de “twisties”, onde a conexão entre a mente e o corpo começa a se romper. Biles se viu insegura de que poderia executar muitos dos movimentos que ela fez serem famosos no esporte.
Ela desistiu de quatro finais individuais para priorizar sua saúde mental, antes de retornar à competição na noite final para ganhar o bronze na trave de equilíbrio.
Para Shiffrin, as ações de Biles em Tóquio e o apoio dela em Pequim mostram o que o futuro pode reservar para a esquiadora com o passar do tempo.
“Depois de algum tempo [de Tóquio] ela teve ótimas experiências mais recentemente”, disse Shiffrin. “E imagino que ela esteja começando a pensar: ‘Ei, quer saber? Por mais horrível que tenha sido naquele momento, simplesmente não foi... não foi tão ruim assim. Não foi a pior coisa que aconteceu na minha carreira', e muitas pessoas considerariam de alguma forma a melhor coisa que aconteceu em sua carreira e como isso deu a tantas outras pessoas ao redor do mundo permissão para serem um pouco mais vulneráveis.”
Shiffrin: "Eu já obtive sucesso em minha carreira e vou obter novamente."
Mesmo a poucos dias depois do término dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2022, Shiffrin está vendo aspectos positivos do que era naquele momento pura decepção.
“Eu já conquistei sucesso em minha carreira e vou conquistar novamente e, ironicamente, vou conseguir por causa do esqui que tenho feito nas últimas semanas enquanto estivemos aqui”, disse ela. “Foi um dos meus melhores desempenhos no esqui: até as primeiras curvas que fiz nas corridas, são algumas das melhores curvas, ou o melhor que já comecei em uma corrida, com a intensidade e a mentalidade que eu tenho que ter para realmente conseguir uma chance nos pódios e de vencer corridas.”
Isso pode começar já na próxima semana, com a temporada de Shiffrin longe de terminar, ela está indo direto para a Europa enquanto o circuito da Copa do Mundo continua.
Ela não está minimizando sua experiência e não tem medo de admitir que a decepção ainda dói.
“Estamos aqui porque somos competitivos e trabalhamos dia após dia por um objetivo. Queremos vencer, e dói quando você não vence, especialmente quando você sente que realmente deu o seu melhor e não foi bom o suficiente”, disse Shiffrin. “Isso machuca”.
O luto era 'talvez a única coisa que poderia me preparar'
Mas sua perspectiva mudou com a perda repentina de seu pai, Jeff, em fevereiro de 2020. O luto deu lugar a mudanças.
“Acho que meu coração sabe que as prioridades são as mesmas mas com algumas mudanças, e isso foi talvez a única coisa que poderia me preparar para um pouco da decepção que senti nestes Jogos”, disse ela. “Mas, ao mesmo tempo, quando você organiza suas prioridades, também... É como se eu nunca tivesse aceitado o pensamento de que desistiria várias vezes em uma corrida antes dessa derrota [a morte pai], e então eu nunca fiz isso, só... Não era nem uma possibilidade."
“Mas desta vez foi tipo, 'Bem, eu vou em frente, e o pior que pode acontecer, suponho, é que eu não termine'”, continuou ela, “e estou disposta a arriscar isso porque não é a pior coisa que vai acontecer na minha vida.”
Uma lição aprendida corajosamente e exposta ao mundo em Pequim.