Marlon Zanotelli: 'Eu tenho grande confiança de medalha em 2024'
Cavaleiro brasileiro conversou com o Olympics.com em temporada que tem foco no Pan de Santiago, em busca da vaga nos próximos Jogos. Recentes títulos em Paris e Bordeaux animam o maranhense: "Se Deus quiser a gente continua ganhando na França até 2024."
Junho de 2022. Com a Torre Eiffel ao fundo, Marlon Zanotelli faturou o Grande Prêmio de Paris, etapa do Global Champions Tour, um dos eventos mais concorridos do calendário dos saltos no hipismo. No passado mês de fevereiro, voltou a ganhar em território francês, topo do pódio na fase de Bordeaux da Copa do Mundo.
"Se Deus quiser a gente continua ganhando na França até 2024", brincou Zanotelli em referência aos Jogos Olímpicos.
Atual sétimo colocado do ranking mundial, vive grande momento da carreira e se prepara para a disputa da etapa da Cidade do México na Champions Tour de 2023, entre 20 e 23 de abril. Importante competição em temporada repleta de compromissos. O principal deles é competir nos Jogos Pan-Americanos de Santiago, entre outubro e novembro, que distribui vagas para o hipismo de Paris 2024, que é o objetivo máximo.
"O grande foco é o Pan para se classificar para os Jogos Olímpicos", afrimou. "Eu tenho grande confiança de medalha em 2024", acrescentou.
PARIS 2024 | O sistema de classificação Olímpico do hipismo saltos
Confira abaixo a entrevista do cavaleiro para o Olympics.com, em que relembrou sua trajetória, compartilhou sobre suas expectativas para os Jogos na capital francesa e falou mais sobre o esporte que ama.
Marlon Zanotelli: um cavaleiro bem brasileiro
Maranhense de Imperatriz, tem mãe (Maristela) paulista de Chavantes, e pai (Mário) gaúcho, de Quaraí, cidade fronteiriça ao Uruguai. Nas duas regiões, a relação do ser humano com o cavalo é evidente e fundamental para a sociedade.
O envolvimento dele com o esporte foi algo natural, primeiro na cidade natal e depois na capital, São Luís. Entre 1993 e 1994, teve experiência inesquecível para qualquer criança. Seu pai largou tudo por um ano e colocou a família em caminhão-gaiola que rodou o Brasil a representar o Maranhão no Concurso Completo de Equitação (CCE) do hipismo, com o sonho de competir pelo país internacionalmente.
"Eu estava com cinco anos, fazendo seis. Passávamos o dia todo com os cavalos, acho que foi aí onde começou a minha paixão pelo animal. A gente ajudava a dar ração e passear. Convivíamos como se os cavalos fossem nossos melhores amigos", lembrou Zanotelli.
Em 1996 mudou-se para Fortaleza, onde começou sua carreira influenciado pelo pai, instrutor de equitação em escola daquela cidade. "Comecei a representar o Ceará nas competições nacionais...foi aí que fiz a minha carreira, treinando com o meu pai". Época também da sua primeira lembrança dos Jogos Olímpicos: "Um dos momentos mais emocionantes foi ver o desempate em Atlanta que deu a medalha para o Brasil. Um momento especial", confessou.
Aos 12 anos, ser profissional era uma ideia que já lhe agradava e a paixão pela competição só aumentava. "Pra mim, o que me fez tomar a decisão foi a oportunidade de estar junto com os cavalos o tempo inteiro", reiterou.
O intenso espírito competitivo o levou a pesquisar onde estavam os melhores saltadores. Era preciso sair do Brasil e os destinos eram Estados Unidos ou Europa. Os pais o alertaram de que aquilo não era uma aventura. Era preciso aprender outro idioma e estabelecer um projeto esportivo. Sem isso, não haveria carreira no esporte.
"Fazer um planejamento do que eu queria e para onde eu queria ir foi algo mais complexo", disse.
Mudança para a Bélgica e resultados internacionais
Zanotelli se preparou. Conciliou a competição com os estudos e fez um curso superior. Aos 20 anos de idade, estabeleceu-se na Bélgica a fim de aprender o cotidiano do hipismo de competição na Europa. Enquanto trabalhava nos centros de treinamento e nas fazendas, viajava pelo velho continente a competir.
Apaixonado pelo esporte, somado à disciplina e trabalho duro, os resultados apareceram. Nos Jogos Pan-Americanos Lima 2019, duas medalhas de ouro, sendo uma histórica primeira de sempre do Brasil no individual, além de outra por equipes.
Conquistas que coincidiram com um aumento no número de torneios que passou a participar e, também, nos pódios obtidos. Em 2022, foram 33 vitórias, uma delas no Grande Prêmio de Paris, pelo Champions Tour. Em 2023 já são cinco conquistas. Além da etapa de Bordeaux (França) da Copa do Mundo, mais recentemente no início de abril Zanotelli faturou evento quatro estrelas em Arezzo, na Itália.
Confiante na medalha em Paris 2024
Resultados que ele também atribui à estrutura estabelecida em Hechtel-Eksel, perto de Bree, na Bélgica. "Estamos com uma estrutura que é nossa hoje", refletiu em entrevista para o Comitê Olímpico do Brasil.
Condições que dão a ele confiança para a conquista de uma medalha em Paris 2024, sem tirar o foco do Pan de Santiago, entre outubro e novembro, e um bicampeonato Pan-Americano que vai habilitá-lo para os Jogos Olímpicos.
"O grande foco é o Pan para se classificar para Paris", disse.
Sobre se haver vencido em Paris lhe dá uma vantagem, ele mantém cautela: "Muitos dos cavaleiros de alto nível moram por aqui. A questão dessa vantagem não é tão enorme. Mas em relação aos que vivem nos Estados Unidos, vai ajudar. A vantagem de conhecer Paris e ter bons resultados aqui traz pra gente certa confiança."
No que diz respeito ao torneio por equipes, Zanotelli é otimista: "O Brasil está com um conjunto cada vez mais competitivo, com cavaleiros competindo de igual para igual."
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Salto perfeito: "70% do cavalo, 30% do cavaleiro"
"Mas como se diz...o cavaleiro precisa estar a 30%, se estiver a 29% não pode", falou Zanotelli em meio às risadas, sobre qual era a proporção do cavalo e do cavaleiro em um salto perfeito. E complementou: "O cavalo é o atleta. Nós também somos, mas no esporte focamos mais no cavalo do que no cavaleiro."
Na preparação para Paris, ele tem cinco cavalos de ponta. "Tem cavalo que vai saltar melhor em pista grande, em pista menor. Tem cavalo que vai melhor na pista de grama, outros na de areia. Cada cavalo tem um planejamento para tirar o máximo de performance de cada um deles", explicou.
Para o seu trabalho, entrosamento e confiança são fundamentais: "O entrosamento vem com o tempo. Passar o tempo, entender o que ele gosta, não gosta, compreender o que ele precisa."
Agora...quanto tempo é preciso? Zanotelli calculou: "De dois a quatro anos para se conhecer um cavalo de alto nível, com chances de vencer um campeonato."
Conterrâneo de Rayssa Leal, inspirado por Rodrigo Pessoa
Para ele, como todo atleta um bom cavaleiro deve ser alguém que trabalhe duro, tenha planejamento e uma meta clara. Além disso, é preciso conhecimento e paciência com o cavalo. Dar o tempo necessário, saber exatamente o que eles têm que fazer e qual é o melhor planejamento para o outro atleta do conjunto, no caso o cavalo.
Zanotelli cita alguns bons cavaleiros, em quem se espelha: "Marcus Ehning, Pedro Veniss, Rodrigo Pessoa, todos eles eu tento acompanhar, olhar, observar a carreira deles, aprender, me inspirar e continuar melhorando no meu esporte."
Uma outra referência, mas fora do hipismo, é sua conterrânea, a skatista Rayssa Leal, medalhista Olímpica. "Infelizmente não a conheço. Gostaria muito de conhecê-la. É um prazer ter alguém da mesma cidade representando o nosso país, nosso estado e o Nordeste, também", declarou.
Imperatriz que pode ver um ilustre filho brilhar no topo do pódio dos próximos Jogos. Este, montado a cavalo: "O cavalo é tudo. Minha vida, a vida da nossa família, da minha esposa (a cavaleira sueca Angelica Augustsson), dos meus pais. O cavalo me deu tudo o que tenho", encerrou.