Brasil obtém recorde de medalhas e de ouros em uma edição dos Jogos Paralímpicos em Paris 2024

Por Daniel Perissé
16 min|
Gold medalist, Rayane Soares Da Silva of Team Brazil celebrates with the national flag after winning in the Women's 400m T13 Final on day ten of the Paris 2024 Summer Paralympic Games at Stade de France on September 07, 2024 in Paris, France
Foto por Ezra Shaw / Getty Images

Com a histórica marca de 16 pódios conquistados em um só dia, o Brasil bateu seus recordes de maior número de medalhas e de ouros obtidos em uma única edição dos Jogos Paralímpicos neste sábado, 7 de setembro, a um dia do encerramento de Paris 2024.

A delegação iniciou o dia com 70 pódios na capital francesa – a dois do recorde de 72 obtido no Rio 2016 e em Tóquio 2020. Não demorou muito para a marca histórica ser alcançada graças ao desempenho do país na sessão diurna do atletismo.

Primeiro veio o ouro de Rayane Soares nos 400m T13 (atletas com deficiência visual), com direito a novo recorde mundial: 52s55.

Pouco depois, o recorde geral de medalhas foi igualado - e batido - graças a uma dobradinha nos 200m T37 (paralisia cerebral), com Ricardo Mendonça levando a prata, e Christian Gabriel o bronze.

Quem também brilhou foi Mariana D'Andrea, que obteve o bicampeonato na categoria até 73kg feminina do halterofilismo.

A medalha da paulista foi a de número 450 do Brasil na história dos Jogos Paralímpicos. Após a jornada de hoje, são 459 pódios, sendo 132 em primeiro lugar, 157 em segundo e 170 em terceiro.

No judô, destaque para três ouros: Arthur Silva ganhou na categoria até 90kg masculina J1 (cegos totais ou com percepção de luz), superando o britânico Daniel Powell por ippon, Willians Araújo prevaleceu na acima de 90kg masculina J1 e Rebeca Silva triunfou na acima de 70kg J2 (baixa visão).

Outro desempenho batido foi o recorde de medalhas de ouro em uma mesma edição (22, estabelecido em Tóquio 2020). O país chegou às 23 primeiras colocações com o triunfo de Jerusa Geber nos 200m T11 (deficientes visuais) do atletismo, na sessão noturna no Stade de France.

Ao final da jornada de hoje, o Brasil está com 86 medalhas - 23 ouros, 25 pratas e 38 bronzes.

Portugal também subiu ao pódio hoje nos Jogos Paralímpicos Paris 2024. Carolina Duarte levou o bronze nos 400mT13, com 55s52.

Confira o resumo desse sábado histórico para o Brasil, penúltimo dia de competição nos Jogos Paris 2024 e que será lembrado como o mais vitorioso do esporte paralímpico brasileiro - isso até que a marca seja quebrada novamente.

Jogos Paralímpicos Paris 2024

Com novo recorde mundial, Rayane Soares brilha nos 400m T13

A jornada desse 7 de setembro, dia em que é comemorada a Independência do Brasil, começou com muita festa pela conquista de Rayane Soares nos 400m T13 (deficiência visual). A maranhense terminou com um tempo de 53s55, novo recorde mundial da prova.

"Estava muito confiante. Eu dizia que era o meu momento, eu me vi no pódio, me via pegando a medalha de ouro e pedi a Deus para ele me dar força e me dar coragem, porque treinada eu estava. Sinto muita alegria e muita gratidão [pelo recorde mundial], estou sem palavras," comentou Rayane ao final da prova em declaração ao Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB).

A maranhense afirmou que o fato de sequer chegar à final da prova em Tóquio 2020 fez com que ela se motivasse a correr melhor na capital francesa.

"Se eu tivesse conquistado o bronze em Tóquio, acho que hoje nem aqui eu estaria, não teria me dedicado como me dediquei, treinado do jeito que eu treinei, acreditado como acreditei, e hoje estou aqui fazendo minhas melhores marcas," destacou.

Lamiya Valiyeva, do Azerbaijão, ficou com a prata, com 55s09, e Carolina Duarte completou o pódio para Portugal, com 55s52.

Pouco depois, veio a dobradinha nos 200m T37 (paralisia cerebral), com Ricardo Mendonça ficando em segundo (22s71) e Christian Gabriel em terceiro (22s74). O vencedor foi Andrei Vdovin (NPA), com 22s69.

Ainda na primeira sessão do dia no Stade de France, Paulo Henrique dos Reis conquistou a medalha de bronze no salto em distância T13 (deficiência visual) com um melhor salto em 7m20.

O vencedor foi Orkhan Aslanov, do Azerbaijão (7m29), e a prata ficou com Isaac Jean-Paul, dos Estados Unidos, que fez os mesmos 7m20 do sul-matrogrossense, mas o superou no desempate.

Jerusa Geber garante histórico ouro de número 23 para o Brasil em Paris

Na sessão noturna do atletismo, o Stade de France novamente foi palco de mais um momento que entrou para a história da delegação brasileira em Jogos Paralímpicos, pois foi lá que o país atingiu o inédito ouro de número 23 em uma mesma edição da competição.

A marca histórica veio com a vitória de Jerusa Geber nos 200m T11. Foi a segunda medalha da acreana na capital francesa, após vencer os 100m também na classe T11.

"Cheguei aqui apenas com o objetivo de vencer os 100m, já nos 200m não acreditava que ia ser ouro também. Estou muito emocionada com todo o carinho que recebi da torcida," comentou Jerusa, que ganhou sua sexta medalha paralímpica e as duas primeiras de ouro.

A outra vez em que ela repetiu pódio nos 100m e 200m T11 em uma mesma edição dos Jogos foi em Londres 2012, quando ganhou duas pratas.

A atleta terminou o percurso com um tempo de 24s51, à frente de Liu Cuiqing, da República Popular da China e atual recordista mundialda prova (24s86). Lahja Ishitile, da Namíbia, ficou com bronze, com 25s04.

Outra medalha na segunda sessão do atletismo de sábado foi a de Thomaz Ruan, bronze na final dos 400m T47 (amputados de braço).

O paulista fez um tempo de 47s97. O ouro e a prata foram para o Marrocos, com Aymane El Haddaoui (46s65, novo recorde mundial) e Ayoub Sadni (47s16), respectivamente.

Na final da prova dos 200m T47, duas brasileiras participaram, mas não chegaram ao pódio: Fernanda Yara foi a quarta colocada, com 25s35, e Maria Clara Augusto em quinto, com 25s71.

Por sua vez, Wallison Fortes terminou com a quinta colocação nos 200m T64 (amputados de membros inferiores com prótese). Estreante em Jogos, o gaúcho fez um tempo de 22s84, enquanto Sherman Guty, da Costa Rica, sagrou-se campeão com 21s32.

O atletismo se despede das provas de pista e campo. Amanhã o Brasil disputa duas maratonas femininas, nas classes T12 e T54.

Canoagem leva prata e bronze no segundo dia de disputas

O segundo dia de disputa da canoagem teve o Brasil com dois pódios em cinco finais no estádio Vaires-sur-Marne.

Na primeira decisão do dia, Luís Carlos Cardoso ficou com a prata na prova KL1, repetindo o resultado de Tóquio 2020. O piauiense fez o percurso de 200m com um desempenho de 46s42, atrás apenas do húngaro Peter Kiss (44s55). O bronze ficou com o francês Remmy Boulle (47s01).

"Sinto-me realizado, com certeza. Hoje pude mais uma vez subir no pódio nesse evento esportivo tão grande para o nosso país e para o mundo, estou feliz demais, hoje vou sair daqui com um orgulho enorme do meu trabalho, de tudo o que eu fiz durante esse ciclo e com toda a certeza de que essa dedicação e esforço valeram a pena. Agora é trabalhar mais para tornar esse ouro mais próximo," comentou Luís Carlos, que obteve sua segunda medalha em três edições dos Jogos.

Por sua vez, Miqueias Rodrigues levou o bronze nos 200m da classe KL3 (usa braços, tronco e pernas na remada). Natural do Paraná, ele obteve uma marca de 40s75. A vitória ficou com Brahim Guendouz, da Argélia, que fez 39s91, e o australiano Dylan Littlehales conseguiu 40s68 para ficar com a segunda posição.

Fernando Rufino terminou na sexta posição a final do KL2, com 42s90. O vencedor foi Curtis McGrath, da Austrália, com 41s31. O "Caubói de Aço" disputa amanhã a decisão da classe VL2, em que tentará o bicampeonato paralímpico.

Entre as mulheres, foram mais duas finais disputadas. Débora Benevides chegou em quinto no VL2 feminino (1min04s29) e Mari Santilli ficou em sexto lugar no VL3 (1min00s29).

As disputas da canoagem seguem amanhã, no último dia dos Jogos Paralímpicos Paris 2024.

Mariana D'Andrea é bicampeã no halterofilismo e bate seu próprio recorde

Ouro em Tóquio 2020, Mariana D'Andrea sagrou-se bicampeã paralímpica ao vencer novamente a categoria até 73kg feminina do halterofilismo.

A paulista já tinha entrado para a história ao ser a primeira atleta a obter uma medalha de ouro no halterofilismo em Jogos Paralímpicos na capital japonesa.

Hoje, ela ganhou com direito a novo recorde da prova, ao levantar 148kg - 11kg a mais em relação ao que suportou para ser campeã em Tóquio - e segue como a mulher com baixa estatura mais forte do mundo.

Na decisão, ela superou Ruza Kuzieva, do Uzbequistão, com um total de 147kg; e Sibel Cam, de Türkiye, com 120kg.

"Foi muita emoção, todo um trabalho feito.Tudo isso se concretizou aqui, em cima desse tablado, todo o esforço, enfim, tudo na minha vida. E o meu principal motivo, meu pai, eu não tinha como não trazer para ele, eu prometi, falei que ia trazer e ele está aqui comigo, é uma alegria dar muito orgulho para ele, eu amo muito ele, tinha de trazer essa medalha para a gente," comentou Mariana, chorando muito, depois da prova, em declaração ao CPB.

A atleta perdeu o pai, Carmine, em 2023, após conquistar o título mundial. Ele era o seu maior incentivador no esporte.

Em outra final envolvendo brasileiros, Evânio Rodrigues terminou em oitavo na categoria até 88kg masculina, vencida por Yan Panpan, da República Popular da China. Ele levantou um total de 187kg, contra 242kg do vencedor, que estabeleceu o novo recorde paralímpico da prova.

Por sua vez, Caroline Fernandes ficou em sétimo na categoria até 79kg feminina, com um total de 128kg levantados. Novamente o ouro ficou com a República Popular da China: Han Miaoyu ganhou ao conseguir erguer 154kg, novo recorde mundial.

O halterofilismo é uma das três modalidades em que o Brasil compete no domingo, dia 8 de setembro, na jornada de encerramento dos Jogos Paralímpicos Paris 2024.

Com ouro no judô, Arthur Silva e Willians Araújo se juntam a Antônio Tenório

Até hoje, apenas um homem brasileiro havia sido ouro no judô em Jogos Paralímpicos: Antônio Tenório, tetracampeão paralímpico (Atlanta 1996, Sidney 2000, Atenas 2004 e Pequim 2008.

Porém, isso mudou nesse sábado, e logo com dois triunfos. Primeiro com Arthur Silva que, aos 32 anos, encerrou sua terceira participação em Jogos Paralímpicos com o ouro na categoria até 90kg masculina J1 (cegos totais ou com percepção de luz). Na final, o potiguar superou o britânico Daniel Powell por ippon.

"A minha ansiedade era indiscritível, mas estava com o nervosismo controlado e muita, mas muita vontade de vencer, " comentou Arthur, que havia terminado a competição nos Jogos Rio 2016 em sétimo, e em quinto em Tóquio 2020. Ele venceu todas as três lutas por ippon.

Pouco depois, foi a vez de Willians Araújo subir ao lugar mais alto do pódio, na categoria acima de 90kg masculina J1. Na decisão, ele ganhou de Ion Basoc, da República da Moldova.

"Quero que a minha filha tenha muito orgulho do pai que ela tem, uma pessoa com deficiência que conseguiu vencer por meio do esporte," destacou Willians, que já tinha batido o rival da decisão de hoje três vezes, mas vinha de derrota para ele em maio.

Completando as chaves masculinas, Marcelo Casanova superou o italiano Simone Cannizzaro com um wazari e ficou com o bronze na categoria até 90kg J2 (baixa visão)

Alana Maldonado, campeã em Tóquio 2020 e Paris 2024, ganhou companhia entre as mulheres brasileiras a conquistarem ouro no judô dos Jogos Paralímpicos graças ao triunfo de Rebeca Silva na categoria acima de 70kg feminina J2 (baixa visão).

A paulista superou a cubana Sheyla Hernández por ippon na final e garantiu a oitava medalha do judô nesses Jogos, a quarta de ouro.

Também hoje, Erika Zoaga foi superada por Anastasia Harnyk, da Ucrânia, e terminou com a prata na final da categoria acima de 70kg J1.

O excelente desempenho desse sábado colocou o Brasil como país que mais obteve medalhas no judô nos Jogos Paralímpicos Paris 2024, com quatro ouros, duas pratas e dois bronzes. A Ucrânia veio em segundo, com cinco no geral (três primeiros lugares e dois terceiros).

Foto por Ana Patrícia / CPB

Brasil bate Colômbia e fatura a medalha de bronze no futebol de cegos

Em partida disputada no Estádio da Torre Eiffel, a seleção brasileira de futebol de cegos venceu a Colômbia por 1 a 0 na disputa pela medalha de bronze em Paris 2024.

O único gol foi marcado por Jefinho. O time defendia o pentacampeonato paralímpico na modalidade, mas caiu na semifinal para a Argentina nos pênaltis.

"Fiquei feliz pela conquista desse bronze, viemos de uma eliminação triste e frustrante, pois estamos acostumados a vencer, acostumados a estar em decisões. Pela primeira vez em Jogos Paralímpicos ficamos fora da final, foi um baque. A campanha poderia ser melhor, a gente poderia jogar melhor, mas o resultado não veio. Porém, isso não tira nosso mérito, a gente trabalhou muito, brigou muito, e isso simboliza muito, é o trabalho do nosso ciclo inteiro," comentou Jefinho.

"A principal lição que tiramos é a de que o esporte é dinâmico, especialmente no futebol, e que tudo pode acontecer. A gente chegou aqui com uma expectativa, não foi cumprida, temos que valorizar as equipes adversárias. Já vencemos muito, então era natural perdermos um dia, é algo natural do esporte. É voltar para casa, descansar e pensar no próximo ciclo," completou o jogador ao Olympics.com.

Com o resultado, o Brasil segue tendo subido ao pódio na modalidade em todas as edições realizadas até hoje, desde Atenas 2004.

Lídia Cruz ganha terceiro bronze em Paris 2024, agora nos 50m costas S4

Na Arena La Défense, Lídia Cruz conquistou hoje seu terceiro bronze da natação em Paris 2024, agora nos 50m costas S4 (atletas com limitações físico-motoras).

A carioca terminou com um tempo de 52s00, atrás apenas da grega Alexandra Stamatopulou, ouro com 50s12, e da alemã Gina Boettcher, medalhista de prata com 51s40.

Lídia já tinha levado o terceiro lugar nos 150m medley individual SM4 e no revezamento misto 4x50m livre - 20 pts.

Seleção feminina de vôlei sentado perde para Canadá na disputa do bronze

Bronze nos Jogos Rio 2016 e Tóquio 2020, a seleção brasileira feminina de vôlei sentado acabou derrotada pelo Canadá na disputa do terceiro lugar em Paris 2024, por 3 sets a 0, parciais de 25/15, 25/18 e 25/18.

As canadenses se vingaram da derrota na mesma decisão do bronze nos Jogos da capital japonesa, quando caíram por 3 a 1, e da final do Mundial de 2022, quando as brasileiras conquistaram o inédito título.

Já a equipe masculina acabou em sexto lugar, perdendo para o Cazaquistão na última quinta-feira, dia 5 de setembro.

Ciclismo de estrada

No ciclismo de estrada, o Brasil se despediu com o 23o lugar de Carlos Alberto Soares na prova de estrada C1-3 e a 14a posição de Sabrina Custódia no mesmo evento, só que feminino.

Na prova mista por equipes H1-5, o Brasil acabou em quarto lugar no percurso de Clichy-sous-Bois.

A delegação brasileira não foi ao pódio na modalidade em Paris 2024.

Esgrima em cadeira de rodas

O Brasil foi à pista do Grand Palais neste sábado para as competições de espada por equipes da esgrima em cadeira de rodas. No masculino, estreia com vitória por 45 a 24 diante dos Estados Unidos, mas nas quartas os brasileiros caíram diante do Iraque por 45 a 14.

Pela disputa feminina, a equipe perdeu logo na estreia para a República Popular da China por 45 a 23.

Essa é outra modalidade na qual a delegação brasileira passou em branco em Paris 2024.

Bronze de Carolina Duarte é destaque do dia para Portugal

A delegação de Portugal teve como melhor resultado nesse sábado o bronze de Carolina Duarte nos 400m T13 do atletismo, prova vencida pela brasileira Rayane Santos.

Na canoagem, Alex Santos foi oitavo nos 200m KL1, com 52s14, e obteve um diploma paralímpico.

Outros três diplomas vieram na natação: Daniel Videira foi oitavo nos 100m costas S6, com 1min22s69, Diogo Cancela acabou em sétimo nos 100m mariposa S8, com 1min06s69, e somou um diploma à medalha de bronze conquistada nos 200m estilos.

O outro nadador a ficar com um diploma foi Tomás Cordeiro, que concluiu a final dos 200m estilos SM10 em oitavo, fazendo 2min21s03, fechando bem sua estreia paralímpica.

Tudo sobre os Jogos Paralímpicos Paris 2024

Leia nossas prévias para os Jogos Paralímpicos e saiba tudo sobre os esportes, os atletas e as principais histórias sobre os Jogos Paralímpicos Paris 2024.

Brasil nos Jogos Paralímpicos Paris 2024: onde assistir

Os Jogos Paralímpicos Paris 2024 têm transmissão no Brasil no Sportv2 e no canal do Comitê Paralímpico Internacional no YouTube.

Confira mais detalhes sobre as transmissões clicando aqui.*