O nome Bovolenta para os fãs italianos de vôlei provoca sentimentos de alegria, reverência e tristeza.
Vigor Bovolenta foi central no maior time masculino da Azzurra - conhecido como 'la Generazione di Fenomeni' ("A Geração dos Fenômenos") - e conquistou a prata Olímpica em Atlanta 1996.
Em março de 2012, quatro anos após o fim de sua carreira internacional, Bovolenta morreu de parada cardíaca desencadeada por uma doença arterial coronariana grave, após uma partida pela quarta divisão da Liga italiana. Ele tinha apenas 37 anos.
Sua esposa, Federica Lisi, que também jogou vôlei pela Itália, descobriu que estava grávida do quinto filho duas semanas após a morte de seu marido.
Alessandro Bovolenta, o primogênito, tinha apenas sete anos na época.
Embora suas primeiras ambições esportivas fossem no futebol como goleiro, ele logo mudou para o esporte em que seus pais se destacaram.
Agora com 18 anos, ele está maduro para além da sua idade e já parece destinado a seguir os passos de seu pai até o topo.
Nascido em Roma, mas criado em Ravenna - uma pequena cidade perto de Bolonha - o adolescente foi nomeado MVP com o título da Itália em setembro no Campeonato Europeu Sub-20 em casa.
Esse sucesso veio meses depois que o oposto de 2,05m fez sua estreia na Superliga italiana pelo Ravenna Porto Robur Costa - o clube onde seu pai teve grande sucesso no início da carreira – na temporada passada.
Alessandro Bovolenta: de goleiro a prodígio do vôlei
Vigor Bovolenta jogou pela Itália de 1995 a 2008, conquistando quatro títulos da Liga Mundial, dois títulos europeus, uma Copa do Mundo e a medalha de prata Olímpica.
Ele também venceu o Campeonato Mundial de Clubes de 1991 com o Ravenna Porto, além de haver conquistado três títulos consecutivos da Liga dos Campeões da Europa (1992-94).
Sua esposa Lisi encerrou sua carreira para dar luz à Alessandro, mas ele insiste que nunca foi forçado a seguir os passos dos seus pais no vôlei.
Ele disse ao Olympics.com: "Pressão zero. Mamãe sempre nos dizia: 'Faça o que quiser'. Então sempre tivemos liberdade. Se houvesse alguma 'obrigação' ela me dizia 'Olha, pelo menos faça alguma coisa, pratica algum esporte', e eu teria feito isso de qualquer maneira.
“Quando eu era mais novo, não acompanhava muito o vôlei. Eu não estava interessado nisso. Eu estava seguindo meus amigos da escola que jogavam futebol. Comecei na defesa, depois tentei como goleiro e me dei bem. Eu tinha 11 anos. Sentia muito frio...durante os treinos."
"Como goleiro, você chuta a cada 10 minutos. Você tem de ficar lá no frio no inverno, e quando você chega em casa, está congelado. Está tudo bem com os amigos..., mas depois eu segui outro caminho."
“De repente, fiquei alto e disse: 'Vou tentar o vôlei.' E correu bem. Continuo me divertindo, nos treinos, no jogo, estou me dando bem com meus companheiros de equipe e isso é bom."
Alessandro Bovolenta: o vôlei em seu DNA
Desde então, o resto das crianças seguiram o mesmo caminho com Arianna (13), as gêmeas Aurora e Angelica (11) e Andrea (10), todos jogando vôlei.
Arianna mudou-se recentemente para Roma para jogar com o Volleyrò Casal de Pazzi.
Alessandro até brincou com os irmãos: "Quando eles crescerem um pouco, o desafio está lançado!"
Quanto à morte do pai, Alessandro disse que "uniu muito mais a nossa família".
“Mamãe tinha responsabilidades extras que ela não transferiu para mim, porque eu era criança, mesmo sendo a mais velha. Éramos todos uma unidade e sempre juntos".
Hoje em dia, os Bovolentas aparecem em peso para assistir Alessandro jogar, com mãe olhando com orgulho.
"Ela se diverte, ela me dá conselhos... Mamma Mia! Ela está lá, ela está muito envolvida... ela também gosta. Sim, você a pode encontrar em cima nas arquibancadas, em um canto... como uma águia, observando do alto!”
Embora ele tenha visto poucos vídeos de seus pais em ação, ele diz que pode identificar uma semelhança na maneira como eles jogam.
"Em nossos movimentos somos muito parecidos... entre mamãe e papai somos praticamente idênticos!"
Sucesso com a seleção sub-20 da Itália
Treinador de Vigor em Atlanta 1996, Julio Velasco, agora está ajudando a moldar a carreira de Alessandro, na função de diretor técnico das seleções juvenis da Federação Italiana de Voleibol.
Este é um período de sorte para a Itália, com nada menos que 10 vitórias em torneios em 2021/22 em todas as faixas etárias, incluindo Paola Egonu levando as mulheres à glória da Liga das Nações.
As seleções masculinas de Sub-18 e Sub-22 conquistaram títulos europeus, assim como as femininas de Sub-18, Sub-20 e Sub-22. Coube, portanto, a Alessandro Bovolenta e companhia garantir um conjunto completo de troféus europeus juniores em casa.
Ele relembrou: "Velasco nos disse para não nos sentirmos pressionados porque estávamos jogando em casa. No entanto, a pressão estava obviamente lá, porque todos sabíamos que éramos os últimos 'Azzurri' a competir, porque jogamos a final em 25 de setembro. Depois de nós, faltava apenas o Campeonato Mundial Feminino.
"Mas, como diz o técnico da seleção, Matteo Battocchio: 'Pressão é para os privilegiados'."
Essa pressão atingiu seu máximo em uma final dramática contra a Polônia.
A Itália liderava por 2 a 0, mas os poloneses se recuperaram e levaram a partida para um set decisivo, que o time da casa venceu por 15 a 6.
Foi um grande triunfo para a equipe, embora Bovolenta - que conquistou o prêmio de MVP - não estivesse em condições físicas para participar das comemorações.
Ele disse: "Eu me senti muito mal fisicamente. Consegui controlar a tensão durante a partida, mas saí cedo das comemorações. Voltei para o hotel, fui para a cama e acordei de manhã ... ainda com meu tênis, agasalho e com minha medalha no pescoço!
"Levei uma semana para me recuperar. Até tive de adiar minha pré-temporada no Ravenna."
Ídolos, objetivos e os Jogos Olímpicos
Bovolenta diz que o jogador de vôlei que ele admira é o astro holandês Nimir Abdel-Aziz, enquanto seus ídolos de outros esportes são o jogador de futebol Cristiano Ronaldo e o herói do basquete Michael Jordan.
Ele diz: "Ronaldo é o primeiro que tomo como exemplo, porque ele tem uma mentalidade que vai além do esporte".
No que diz respeito aos objetivos imediatos, Bovolenta diz que pretende se firmar na Superlega, embora isso possa demorar um pouco com Ravenna Porto, atualmente jogando na segunda divisão da Itália, depois de ter sido rebaixado na temporada passada.
Ele ainda não tem planos de se mudar para o exterior, refletindo: "Estou bem na Itália. A melhor liga é aqui, então se houver uma chance de ficar, certamente será minha primeira escolha. Meu objetivo, com certeza, é permanecer na SuperLega (elite do voleibol de clubes da Itália) e ficar lá. Como meu avô sempre diz, 'Uma coisa é chegar lá e outra ficar lá'. Eu realmente gosto dessa frase."
"Quando fiz minha estreia na Superlega, foi uma coisa um tanto aleatória. Então ficar lá e me provar é um pouco mais complicado. Esse é o objetivo número um, e depois vem a seleção principal e os Jogos Olímpicos."
Paris 2024 pode chegar um pouco cedo demais para o adolescente que espera que a Polônia e a anfitriã França estejam entre as favoritas ao ouro.
A família, é claro, já tem uma medalha olímpica, embora ele só a tenha visto seis anos atrás.
"Estávamos assistindo aos Jogos Olímpicos do Rio 2016 e eu e minha mãe saímos em busca da medalha do papai. Assim que a encontramos... me pareceu tão linda! Então, alguns dias depois, meus avós paternos chegaram em casa. Mostramos a eles, e depois eles também nos deram todas as medalhas do papai. No final, eles ficaram com algumas, e nós ficamos com duas: a Copa CEV e a prata olímpica."
“Agora mantemos a medalha olímpica junto com o ouro que ganhei no verão passado. É bom. A medalha Olímpica pesa bastante! Mas vê-la de perto é duas vezes mais impressionante porque é lindamente feita."
"Você certamente pode sentir as emoções por trás disso. A Itália perdeu por dois pontos na final e isso dói. Mas essa medalha é importante... apenas algumas pessoas têm a sorte de ter uma medalha olímpica em casa."
Talvez ele possa aumentar a coleção de medalhas da família nos próximos anos.