Túnel do Tempo: Como Anders Haugen esperou 50 anos após os Jogos Olímpicos para receber sua medalha
Quando o atleta americano competiu no salto de esqui nos primeiros Jogos Olímpicos modernos em Chamonix em 1924, ele ficou em quarto lugar. No entanto, 50 anos depois, foi determinado o erro dos árbitros, que permitiu que Anders Haugen finalmente recebesse sua medalha de bronze.
Não há outro atleta Olímpico no mundo que tenha esperado tanto tempo por sua medalha. Anders Haugen é o primeiro medalhista Olímpico americano do salto de esqui, mas ele oficialmente atingiu esse status apenas 50 anos depois de sua apresentação.
Anders nasceu em outubro de 1888 na pequena cidade norueguesa de Bo, perto de Oslo, onde começou a praticar o salto de esqui quando criança, junto a seu irmão Lars. Quando Haugen fez 19 anos, imigrou para os EUA, onde seus irmãos e sua irmã já estavam morando. Ele se estabeleceu no Illinois e depois se mudou para Milwaukee, Wisconsin. Nos EUA, o norueguês trabalhou em uma fazenda e se aperfeiçoou na profissão de pedreiro, mas não se esqueceu do esporte. Em Milwaukee, Anders entrou em um clube de esqui local, que construiu uma pista de salto no Lago Naghavicka em 1910. Sem dúvida, a habilidade incrível de Haugen foi um fator essencial para motivar o clube a realizar a construção. Quando a primeira competição foi realizada em janeiro de 1913, Anders foi o vencedor. Depois, ele foi campeão do campeonato americano diversas vezes.
O sucesso do atleta levou à sua inclusão no time americano e ele se tornou o capitão nos Jogos Olímpicos Chamonix 1924 e em St Moritz 1928. Nos dois Jogos Olímpicos, ele participou do salto de esqui, do esqui cross-country e do combinado nórdico. Na Suíça, o americano ficou longe de ganhar uma medalha, mas em Chamonix ele ficou a uma posição do pódio, que foi dominado pelos noruegueses. O campeão foi Jacob Tullin Thams (na foto principal), Narve Bonna ficou sem segundo e Thorleif Haug, que também levou dois ouros no esqui cross-country e ouro no combinado nórdico, terminou em terceiro. Anders Haugen fez o salto mais longo, mas cometeu um erro na aterrissagem que o derrubou para o quarto lugar.
Naquela época, apesar de que houvesse dúvidas sobre a correção da distribuição de medalhas, ninguém as expressou. Depois, Haugen admitiu que ele tinha confiança de que deveria ter levado o bronze, mas que teria que aceitar a decisão final dos árbitros.
"Protestos e coisas assim não eram comuns naquela época. A gente aceitava os lugares que recebíamos. Fiquei desapontado tantas vezes. Mas tentei não pensar muito sobre o episódio", disse Haugen à revista Skiing.
Cinquenta anos depois, um participante em uma competição em Chamonix, Thoralf Strømstad, chamou a atenção do historiador esportivo Jacob Vaage a respeito de um erro no protocolo dos árbitros. Vaage checou novamente a informação e confirmou que o americano havia recebido a pontuação errada.
Felizmente, Anders Haugen ainda estava vivo naquela época. Em 1929, ele e seu irmão haviam se mudado para a Califórnia, onde ele havia trabalhado no clube de esqui no Lago Tahoe. Até os seus 70 anos, ele havia dirigido o programa júnior de esqui de lá. Em 1974, os noruegueses arranjaram uma viagem para Anders para o seu país de nascimento, onde ele recebeu aos 85 anos sua aguardada medalha Olímpica de bronze, com todas as honras e celebrações. O prêmio foi dado por Anna Marie Haug Magnussen, filha de Thorleif Haug, que havia morrido aos 40 anos.
"Se o meu pai estivesse vivo, ele estaria muito feliz de dar essa medalha a você", disse a filha de Haug, que abraçou forte o novo medalhista de bronze de Chamonix 1924.
Se a história não tivesse sido reescrita, os EUA não teriam um único medalhista Olímpico no salto de esqui. Anders Haugen ainda é o único americano a medalhar nesse esporte nos Jogos Olímpicos.
Anders Haugen se tornou medalhista Olímpico em idade bem avançada, mas conseguiu desfrutar do seu título por 10 anos. Ele faleceu em 1984 por falha nos rins; ele também estava sofrendo com um câncer na próstata.
Mas ele estava cheio de energia até o final de sua vida. De acordo com o Hall da Fama Americano de Esqui e Snowboard, aos 91 anos ele ainda esquiava nas montanhas San Bernardino perto de sua casa.