Uma lenda Olímpica explica: Como dominar o salto de esqui, por HARADA Masahiko
Até o início de Beijing 2022, o Olympics.com revelará os segredos por trás de cada uma das 15 disciplinas dos Jogos de Inverno, pelas palavras de lendas que elevaram o patamar nos seus esportes. Confira a entrevista com o ícone do salto de esqui, o japonês HARADA Masahiko.
O salto de esqui é um dos eventos mais procurados dos Jogos Olímpicos de Inverno; a imagem de um saltador de esqui rompendo os céus com os anéis Olímpicos pintados na neve abaixo é uma das imagens mais icônicas de uma celebração dos esportes de inverno - independente da edição.
Quando se pensa em saber mais sobre o esporte e o que é competir nos Jogos de Inverno, não há pessoa melhor que HARADA Masahiko, cinco vezes atleta Olímpico.
O japonês competiu pela primeira vez em Jogos de Inverno em Albertville 1992 e obteve a prata na pista longa do evento por equipes em Lillehammer 1994. Entretanto, apesar do impressionante feito de alcançar o pódio na sua segunda participação Olímpica, Harada ficou bem perto da medalha Olímpica no evento por equipes na pista longa. O Japão liderava a competição com apenas um salto restante. Harada, o melhor saltador do time nipônico, precisava apenas de um desempenho dentro da média para obter o ouro. Tendo conseguido salrae 122.0m na primeira rodada, ele pulou apenas 97.5m e o Japão ficou em segundo lugar.
Ele retornaria quatro anos depois para competir em casa, diante da torcida, em Nagano, onde ele conquistou o bronze na prova individual de pista longa e se redimiu, com sucesso, na pista longa por equipes evento por equipes com um espetacular salto de 137m que acabou dando ao Japão o primeiro ouro Olímpico na modalidade desde 1972.
O Olympics.com sentou-se com o bicampeão mundial para saber mais sobre a sua carreira como treinador, suas memórias Olímpicas favoritas e sobre o que ele espera dos Jogos que estão por vir em Beijing 2022.
Abaixo está a transcrição da entrevista, editada a fim de proporcionar clareza e brevidade.
Olympics.com (OC): Como você se apaixonou pelo salto de esqui? O que fez você se tornar um atleta profissional?
HARADA Masahiko (HM): Eu comecei no esqui aos 10 anos, no pequeno vilarejo onde cresci. Perto da área de esqui eu conseguia ver os esquiadores saltarem desde a rampa, então resolvi tentar para saber e sentir como era voar.
Quando eu saltei pela primeira vez e voei pelos are, fiquei com muito medo! Eu mal consegui fazer o movimento do salto, mas também me lembro de como me fez bem haver saltado.
Depois de ter feito vários saltos, senti algo que é difícil colocar em palavras. Apenas queria viver aquilo novamente e poder voar mais. Foram esses sentimentos que me inspiraram e me levaram a me envolver ainda mais com o salto de esqui.
Para mim, o salto de esqui era apenas diversão. Eu só tentava aumentar a distância e voar mais longe.
Ao passo que conseguia chegar mais longe, não conseguia parar mais de saltar pelos ares. Ao mesmo tempo que estava sendo bem sucedido nas competições nacionais, eu gradativamente estava mais ciente dos Jogos Olímpicos. Então, acho que por volta dos 20 anos de idade eu resolvi participar dos Jogos no meu esporte favorito, ou seja, o salto de esqui.
OC: Você ainda está envolvido com o salto de esqui após a aposentadoria? Você ainda brinca um pouco? Como é a sua agenda, diferente de quando você era ativo?
HM: Estive ativo até Turim 2006. Depois disso recebi uma proposta do time que fazia parte, para treinar futuros saltadores. DE lá pra cá mais de 10 anos se passaram.
Estou com o time todos os dias. Vou para a plataforma de saltos pela manhã, faço vídeos e dou apoio no treinamento deles. Na parte da tarde faço um pouco de exercícios e condicionamento físico na academia com meus colegas. Portanto, eu ainda vivo praticamente a mesma vida em comparação a quando eu era ativo.
OC: Há algum atleta em particular que tenha te inspirado ou que você considera uma lenda no seu esporte?
HM: Todos aqueles com quem participei nos Jogos Olímpicos. Independente dos esportes, todo atleta que esteve nos Jogos tem uma história única. Eu respeito todos os atletas Olímpicos, não importa se foi ou não medalhista.
OC: Se você tivesse que explicar o salto de esqui para alguém em algumas palavras, o que você diria?
HM: Algo como "voar pelo céu". Eu acredito que algumas poucas pessoas apenas tiveram a experiência do salto de esqui no mundo, então tenho orgulho em ser uma delas. É um esporte único e que amo.
Salto de esqui em um minuto
- O básico: O resultado final decorre de um somatório de pontos após a realização de uma rodada de dois saltos para cada esquiador. Cada rodada possui um somatório de ponto pela "distância" e ponto pelo "estilo". Recentemente, as condições do vento e a altura dos portões de saída são também considerados como elementos importantes na competição (sistema de compensação do vento/portão).
- História Olímpica: O salto de esqui é parte dos Jogos Olímpicos de Inverno desde a primeira edição, em Chamonix 1924. O evento por equipes masculino e o individual feminino em pista normal foram incluídos a partir dos Jogos de Calgary 1988 e Sochi 2014, respectivamente. Em Beijing 2022 veremos a estreia do evento de equipes mistas.
- Medalhas Olímpicas por país: A Noruega é o país mais bem-sucedido, além de ser o país de origem do salto de esqui, com 35 medalhas, sendo 11 de ouro. Na sequência, outras nações europeias, como a Áustria (6 de ouro, 25 no total) e a Finlândia (10 de ouro e 22 no total).
- Medalhas Olímpicas por atleta: Matti Nykanen (FIN) é o melhor saltador Olímpico, ao conquistar cinco medalhas, tendo sido 4 de ouro e uma de prata. Simon Ammann (SUI) também obteve quatro medalhas de ouro. A última campeã Olímpica é Maren Lundby (NOR). A medalhista de bronze em PyeongChang 2018, TAKANASHI Sara (JPN), possui 60 títulos em Copas do Mundo, um recorde entre mulheres e homens.
OC: O que você mais ama no salto de esqui e qual é a parte mais desafiadora nele?
HM: Quando se aumenta a distância. Não posso voar sem fim como um pássaro, mas tentar os limites de um ser humano. E, assim, os resultados aparecem. Em um evento de pista longa, é possível alcançar aproximadamente 140 metros, o que é realmente muito bom. Esse sentimento é tão especial que apenas quem experimentou - quem já voou - pode entender. Frequentemente me perguntam: "Como você se sente quando está voando?" Eu mal consigo descrever.
Entretanto o salto de esqui não vai bem de acordo com a sua habilidade. Você pode saltar, como sempre. Entretanto o salto é frequentemente influenciado pela natureza, por mudanças repentinas da direção do vento. Se um vento soprar contra naquele momento, a sua distância na pista poderá ser menor. Como um saltador, é um tanto frustrante. Acho que é muito desafiador não conseguir os resultados de acordo com a habilidade que você possui, mesmo que você salte bem com bastante preparo.
OC: Quais são as principais habilidades que alguém deve ter no salto de esqui?
HM: Até certo ponto é preciso ser bobo (risos). Quero dizer que o salto de esqui é muito mais que um salto. Se você pensar muito, não é bom. Mesmo que você salte bem, pode não dar certo por causa da natureza. É muito difícil e estressante entender e aceitar todos os elementos. Portanto, eu acho que é importante entender que o salto de esqui é um esporte que em algum momento se desenha uma linha reta. Se você não for capaz de observar isso, poderá ser difícil ser bem sucedido, acredito.
OC: Qual dos três você diria em que teve a melhor oportunidade de conquistar o ouro Olímpico?
HM: Nagano 1998, obviamente. Foi um milagre poder participar nos Jogos realizados em meu país e eu tammbém ser um atleta em atividade naquela ocasião. Foi uma grande alegria ser um favorito à medalha. Eventualmente conquistei o ouro ao lado dos meus amigos, o que é um outro milagre. Não há muito a dizer, na verdade.
4 anos após Lillehammer 1994 foi um período precioso em que pude crescer como ser humano. Quanto mais continuava a minha carreira como atleta, mais eu sentia pressão e medo. No meu caso havia muitos dramas (risos), embora, graças a eles, reconheço que cresci como pessoa e como atleta ao superá-los através do aprimoramento da minha visão sobre o salto de esqui. Finalmente eu conquistei o ouro em Nagano. Eu sou feliz, literalmente.
Albertville 1992 também foi memorável porque estive pela primeira vez nos Jogos Olímpicos, sem tanta pressão. Eu via os anéis Olímpicos em todas as partes, tanto na cidade quanto na vila Olímpica. Ficava surpreso em ler o logo dos Jogos até mesmo nos pratos durante as refeições. Eu ainda me lembro que foi divertido chegar aos Jogos.
OC: O que significou se classificar para os Jogos Olímpicos?
HM: Os Jogos eram o meu objetivo. Isso foi me mudando gradativamente, apenas com a participação em um primeiro momento, depois obtendo resultados e, por fim, obtendo medalhas. Olhando para trás agora, foi nos Jogos Olímpicos em que obtive mais medalhas. Acredito que foram os valores Olímpicos me ajudaram a conquistar muito nos Jogos. Não consigo me expressar bem com palavras. Os Jogos me deram tudo e sou muito agradecido. Acho que cresci com e através dos Jogos Olímpicos.
OC: O que você espera ver em Beijing 2022? Quais são os seus candidatos à medalha?
HM: Esta será a primeira competição internacional de salto de esqui na China. Não houve Copas do Mundo ou eventos Pré-Olímpicos por conta da pandemia da covid-19. Estou bem ansioso em ver como a torcida chinesa vai reagir ao assistir o salto de esqui em uma Beijing ainda a ser explorada. Espero que se entusiasmem com o esporte junto com o mundo todo.
Espero que a equipe japonesa conquiste o ouro na competição por equipes. São mais de 20 anos desde Nagano, então quero ver japoneses como KOBAYASHI Ryoyu e SATO Yukiya entre os homens; e TAKANASHI Sara e ITO Yuki entre as mulheres, fazendo uma nova história e sorrindo no pódio em Beijing 2022. Ademais, espero ver uma briga acirrada entre as potências europeias como a Áustria, Alemanha e Polônia.