SheBelieves Cup 2024: Cristiane lidera reação, Lorena pega quatro pênaltis e Brasil supera Japão antes de Paris 2024

Por Leandro Stein
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US Women Soccer National Team
Foto por US Women Soccer National Team

A decisão do terceiro lugar da SheBelieves Cup 2024 não era a ocasião mais nobre para o Brasil, mas guardou um teste importante. A seleção feminina enfrentou o Japão, que estará em seu caminho na segunda rodada do torneio de futebol nos Jogos Olímpicos de Paris 2024. E a Seleção conseguiu a vitória em Columbus, nos Estados Unidos, ainda que nos pênaltis. As brasileiras cresceram no jogo, buscaram o empate por 1 a 1 com Cristiane e ganharam nas penalidades por 3 a 0 - muito graças à goleira Lorena.

Duas personagens principais se destacaram no jogo. Lorena teve uma atuação fabulosa sob as traves. Pegou um pênalti no tempo normal, além de fazer duas defesas brilhantes. Já na disputa na marca da cal, a goleira barrou mais três penais e definiu a vitória. Na frente, menção também a Cristiane. A atacante fez o gol de empate e voltou a balançar as redes pela Seleção depois de mais de quatro anos.

O técnico Arthur Elias realizou uma série de modificações no time, que não deram certo no primeiro tempo pouco eficiente do Brasil. O Japão aproveitou para sair em vantagem e poderia ter construído um placar mais confortável. No entanto, as alterações no meio do segundo tempo impulsionaram a Seleção rumo à reação. O saldo do teste é positivo.

A SheBelieves Cup foi mais uma etapa da preparação do Brasil aos Jogos Olímpicos, diante do início do trabalho de Arthur Elias à frente do time. O elenco teve várias trocas em relação ao vice-campeonato na Copa Ouro Feminina 2024. Dentre as novidades, as veteranas Marta e Cristiane puderam apresentar a reconhecida qualidade.

Todavia, as presenças estelares não foram suficientes à Seleção. Marta e Cristiane saíram do banco nas semifinais da SheBelieves Cup, contra o Canadá. Depois do empate por 1 a 1 com bola rolando, as canadenses foram mais precisas na marca da cal e avançaram à decisão contra os Estados Unidos. Já na finalíssima, o título ficou com as americanas: após um emocionante empate por 2 a 2, a equipe prevaleceu nos pênaltis por 5 a 4. Sophia Smith marcou os dois gols dos Eua.

Nesta terça-feira, o Brasil decidiu o bronze da SheBelieves Cup contra o Japão, uma prévia do embate Olímpico que acontecerá em Paris 2024. As duas equipes tinham se encarado duas vezes no fim de 2023, com Arthur Elias já no comando da Seleção. O Brasil ganhou por 4 a 3 na Arena Corinthians e o Japão deu o troco com os 2 a 0 no Morumbi.

O duelo nos Jogos Olímpicos também remonta a história para os dois países: as brasileiras conquistaram sua primeira vitória Olímpica contra as japonesas, em Atlanta 1996. O Japão, enquanto isso, se deu melhor quando os dois times se encararam nas quartas de final em Londres 2012. O tira-teima fica para Paris 2024.

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Foto por CBF

Japão é mais eficiente e sai em vantagem no primeiro tempo

Arthur Elias manteve o Brasil escalado num sistema com três zagueiras, mas realizou nove alterações em relação ao time que enfrentou o Canadá no sábado. Lorena era novidade no gol, enquanto Lauren e Fê Palermo entraram na zaga, ao lado de Tarciane. Tamires e Jaqueline foram opções nas alas, com Angelina e Júlia Bianchi pelo meio. Marta apareceu no 11 inicial e fez a ligação ao lado de Priscila, com Cristiane de referência no ataque.

O Japão fez trocas em relação às semifinais da SheBelieves Cup, mas trouxe a campo algumas de suas principais jogadoras. Destaques das japonesas na Copa do Mundo de 2023 estiveram presentes, a exemplo de Yui Hasegawa, Mina Tanaka e Aoba Fujino.

O Japão começou a partida com mais iniciativa e teve a primeira finalização, aos quatro minutos, num chute de Maika Hamano ao lado da trave. Não demorou para o Brasil tomar as rédeas e ter mais posse de bola. Porém, as brasileiras eram lentas na circulação e não conseguiam romper a defesa japonesa.

Marta aparecia bastante para organizar o jogo na intermediária ofensiva. O problema é que a área do Japão estava sempre congestionada e a zaga travava as principais tentativas de passe. Foi o que aconteceu em algumas boas chegadas organizadas pela veterana, com Jaqueline bloqueada na melhor escapada. Cristiane também teve bom lance pela esquerda aos 22, mas ninguém conseguiu concluir seu passe.

Depois de alguns minutos sem tanta presença ofensiva, o Japão voltou a assustar aos 25 minutos, quando Mina Tanaka bagunçou pela direita e Aoba Fujino isolou o chute. E num momento em que as japonesas demonstravam mais qualidade na construção de seus avanços, o gol saiu aos 35. O lance começou muito bem arquitetado por Yui Hasegawa, ao limpar o meio-campo. Hamano cruzou da direita e, depois que Tarciane furou, Tanaka estava à espreita para abrir o placar.

O Brasil tentou uma resposta rápida. Priscilla protagonizou a melhor tentativa da equipe aos 37, mas o tiro saiu ao lado da trave. Depois, a atacante também botou a goleira Ayaka Yamashita para trabalhar. E as brasileiras saíram aliviadas para o intervalo, porque o saldo poderia ter sido pior. Fujino desperdiçou excelente chance aos 45, quando apareceu sozinha no segundo pau e concluiu para fora.

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O Brasil muda, melhora e Cristiane volta às redes

O segundo tempo voltou travado. O Brasil tentava alçar a bola na área, sem sucesso. Aos oito minutos, Cristiane entrou em velocidade na área e ficou no mano a mano com a goleira Yamashita. A atacante caiu na área e pediu o pênalti, mas a arbitragem não anotou. Quando o Japão respondeu, foi mais contundente. Aos dez, o contra-ataque de Hasegawa achou Fujino, que costurou a marcação e parou em grande defesa da goleira Lorena.

O Brasil reduziu o ritmo na sequência e o Japão poderia ter construído um placar mais confortável aos 20. Cristiane cometeu um pênalti. Tanaka cobrou e telegrafou o chute. Méritos também da goleira Lorena, que evitou um cenário pior às brasileiras. As primeiras trocas do Brasil aconteceram nesta sequência. Antônia, Yasmim e Thaís Ferreira deram nova cara à defesa, enquanto Gabi Portilho entrou no ataque.

A partir desse momento, o Brasil pareceu outro time. A equipe ficou mais dinâmica, com mais energia. Também se reorganizou taticamente, com a defesa contando com quatro mulheres. O gol de empate pintou rapidamente, aos 26 minutos. Num escanteio batido por Yasmim pela direita, Cristiane saltou no meio de três adversárias e estufou as redes de cabeça. A atacante não anotava um gol pela Seleção desde dezembro de 2019.

O Japão também possuía seus recursos no banco. Isso ficou expresso a partir da entrada de Hinata Miyazawa, que brilhou na Copa do Mundo. Aos 34, a substituta ficou sozinha com Lorena após contra-ataque. A goleira se agigantou e salvou com o pé a batida rasteira. A partida se tornou bastante aberta. O Brasil tinha mais volume ofensivo e atacava com velocidade, mas não podia se descuidar das costas da defesa.

Ludmila e Lais Estevam deram um último gás para o Brasil a partir dos 39 minutos. A reta final da partida teve abafa de ambos os lados. O Japão tentou uma carga final e se posicionou mais à frente. A defesa brasileira foi bem para conseguir segurar os chuveirinhos. Do outro lado, a Seleção também teve, já nos acréscimos, um cruzamento que pipocou na área sem que ninguém concluísse. A definição ficou mesmo para os pênaltis.

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Lorena, intransponível na disputa por pênaltis

O Japão iniciou a disputa por pênaltis. Lorena brilhou de novo, ao defender o chute rasteiro de Kiko Seike. Cristiane assumiu a responsabilidade na sequência e só deslocou a goleira, colocando o Brasil em vantagem. Pois Lorena se agigantou de novo no segundo tiro do Japão. Mudou o lado e negou o arremate de Fuka Nagano. Tarciane ampliou logo depois.

Hasegawa foi a melhor jogadora do Japão na partida. Mesmo assim, não conseguiu vencer Lorena. A meio-campista buscou o alto e a goleira voou para espalmar de mão trocada. Por fim, Angelina fechou a vitória do Brasil por 3 a 0. Um ânimo extra para buscar a vitória também em Paris 2024 e uma goleira que se credencia demais rumo aos Jogos Olímpicos.

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Paris 2024 no horizonte

A SheBelieves Cup oferecia os últimos compromissos já agendados para a seleção feminina antes dos Jogos Olímpicos. Ainda assim, é provável que o time de Arthur Elias dispute alguns amistosos preparatórios rumo a Paris 2024. Há duas Datas Fifa até os Jogos: de 27 de maio a 4 de junho e de 8 a 16 de julho.

O Brasil está no Grupo C do torneio feminino de futebol dos Jogos Olímpicos. A estreia acontece em 25 de julho, em Bordeaux, contra a Nigéria - adversária definida nesta terça-feira, após a classificação sobre a África do Sul no qualificatório africano. O reencontro com o Japão está marcado para 28 de julho, em Paris. No encerramento da chave, as brasileiras voltam a Bordeaux em 31 de julho e pegam a Espanha, atual campeã mundial.

As duas primeiras colocadas de cada grupo se classificam diretamente aos mata-matas dos Jogos Olímpicos, enquanto os dois melhores terceiros colocados também avançam. A partir das quartas-de-final, os times se enfrentam em duelos eliminatórios simples.

O Brasil possui duas medalhas de prata no futebol feminino, conquistadas em Atenas 2004 e Beijing 2008. Sempre que disputou o torneio Olímpico feminino na modalidade, a Seleção avançou aos mata-matas. Por três vezes as brasileiras alcançaram a decisão do bronze, mas perderam em todas as oportunidades. Pararam nas quartas de final em outras duas oportunidades, inclusive em Tóquio 2020.

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