Futebol em Paris 2024: Brasil reencontra Japão, adversário da primeira vitória Olímpica da seleção feminina; relembre histórico
A seleção feminina do Brasil terá um caminho difícil no torneio de futebol dos Jogos Olímpicos. O sorteio das chaves de Paris 2024 foi realizado nesta quarta-feira (20 de março), em Saint-Denis. O time treinado por Arthur Elias enfrentará a Espanha, atual campeã mundial, e o Japão. Em abril, será confirmada a última equipe do grupo, através do qualificatório africano - a adversária sairá do confronto entre África do Sul e Nigéria.
Futebol em Paris 2024 | Veja como ficaram os grupos
O duelo contra o Japão, em particular, reconta o início da história olímpica do Brasil no futebol feminino. Foi contra as japonesas que as brasileiras conquistaram sua primeira vitória no futebol Olímpico. Em Atlanta 1996, quando o futebol para mulheres pela primeira vez fez parte do programa Olímpico, a equipe verde-amarela venceu o Japão por 2 a 0. Kátia Cilene e Pretinha anotaram os gols da Seleção.
Brasil e Japão já tinham se encontrado duas vezes pela Copa do Mundo Feminina. As duas seleções se enfrentaram, inclusive, na rodada inaugural da primeira edição do Mundial, em 1991. Na ocasião, as brasileiras venceram por 1 a 0, gol de Elane. Ambos os times acabaram eliminados no Grupo B. Um novo jogo aconteceu na fase de grupos da Copa do Mundo de 1995, com a revanche japonesa. Noda Akemi anotou os dois gols na virada por 2 a 1. O resultado foi crucial para que o Japão avançasse aos mata-matas e o Brasil ficasse pelo caminho.
Um ano depois, o futebol feminino fez sua estreia nos Jogos Olímpicos. Oito seleções participaram da primeira edição do torneio, em Atlanta 1996. Quatro equipes compunham cada chave, com as duas primeiras colocadas avançando direto às semifinais. O Grupo E reunia os Estados Unidos, favoritos ao ouro. República Popular da China, Dinamarca e Suécia completavam a chave. O Brasil estava no Grupo F, ao lado de Alemanha, Noruega e Japão.
O jogo entre Brasil e Japão em Atlanta 1996 aconteceu com os dois times pressionados. Durante a primeira rodada, o Brasil arrancou o empate por 2 a 2 contra a Noruega, campeã mundial no ano anterior. O Japão, por sua vez, foi derrotado pela Alemanha, que tinha sido vice na Copa do Mundo. O resultado do confronto entre brasileiras e japonesas pela segunda rodada seria crucial às pretensões em busca da classificação aos mata-matas.
Pretinha e Kátia Cilene lideraram a vitória sobre o Japão em Atlanta
O Brasil levou a Atlanta 1996 um elenco repleto de pioneiras dos primeiros feitos do país com sua seleção feminina. Jogadoras como Roseli, Pretinha, Michael Jackson, Fanta e Elane eram comandadas pelo técnico José Duarte. A camisa 10 era de Sissi, craque do time durante os anos 1990. Uma lenda olímpica, Formiga, vestia a 8. A meio-campista, então com 18 anos, disputava a primeira de suas sete edições do torneio olímpico. Formiga é a recordista em aparições nos Jogos Olímpicos entre atletas do futebol feminino e masculino.
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O Japão tinha como seu principal destaque a meia-atacante Noda Akemi, algoz do Brasil na Copa do Mundo de 1995. A capitã e camisa 10 disputou em Atlanta 1996 sua última competição internacional pela seleção. Takakura Asako era outra jogadora importante no período e, depois, se credenciou como treinadora das japonesas em Tóquio 2020. Já o papel de revelação ficava com Sawa Homare, aos 17 anos. A camisa 7 se consagrou anos depois como protagonista do Japão campeão do mundo em 2011.
A partida entre Brasil e Japão aconteceu em 23 de julho de 1996. O estádio Legion Field, na cidade americana de Birmingham, recebeu 26 mil torcedores. Sob forte calor, o primeiro tempo foi mais lento e equilibrado. Terminou sem gols. O Brasil se impôs na volta do intervalo, com uma atuação superior. O primeiro gol surgiu aos 23 minutos, após escanteio cobrado por Fanta. Kátia Cilene, que havia saído do banco, arrematou para as redes.
O Japão ainda teve a chance de empatar, quando Noda carimbou a trave da goleira Didi. Aos 35 minutos, o Brasil aumentou a vantagem com o segundo gol. Roseli cruzou da esquerda e Pretinha, destaque da partida, definiu de cabeça no canto. Pretinha quase fez mais um no final, mas parou no travessão.
A imprensa brasileira da época tratou a vitória da seleção feminina como uma “vingança”. Dois dias antes, a seleção masculina perdeu para o Japão por 1 a 0, em sua estreia em Atlanta 1996. Segundo o Jornal do Brasil, a equipe feminina “vingou o time de Zagallo” e “fez o que o time masculino não soube fazer”, exaltando a determinação e a seriedade das atletas de José Duarte.
A vitória sobre o Japão deixou o Brasil em condições de lutar pela classificação às semifinais do torneio feminino em Atlanta 1996. A equipe canarinha cumpriu sua missão ao empatar com a Alemanha por 1 a 1, gol de Sissi. As brasileiras fecharam o Grupo F com cinco pontos, atrás das norueguesas, mas um ponto à frente das alemãs. O Japão ficou na última colocação, sem pontos, ao ser goleado pela Noruega por 4 a 0 na rodada final.
O Brasil sucumbiu nas semifinais de Atlanta 1996. Numa partida de duas viradas, as brasileiras perderam para a República Popular da China por 3 a 2. Os dois últimos gols da vitória chinesa vieram depois dos 37 do segundo tempo. Já na decisão pelo bronze, o Brasil perdeu mais uma vez, desta vez com placar de 2 a 0 para a Noruega. Os Estados Unidos ficaram com o ouro, ao derrotarem a República Popular da China por 2 a 1 na final.
Brasil vinha de duas pratas, mas Japão campeão mundial teve revanche
Brasil e Japão aguardaram 16 anos para que um novo encontro ocorresse no torneio de futebol feminino dos Jogos Olímpicos. As duas equipes mediram forças pela primeira vez num confronto eliminatório, pelas quartas de final de Londres 2012. O Brasil vinha credenciado por suas duas medalhas Olímpicas, prata em Atenas 2004 e Beijing 2008. O Japão, no entanto, era favorito por ter conquistado a Copa do Mundo em 2011.
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Formiga e Sawa eram as remanescentes de Atlanta 1996 no reencontro de Londres 2012. A craque do Japão também viveu um duelo particular de camisas 10 com Marta: a japonesa foi eleita a melhor jogadora do mundo em 2011, o que interrompeu a sequência de cinco prêmios da brasileira. O Brasil treinado por Jorge Barcellos reunia outras jogadoras de relevo, em especial Cristiane, a maior artilheira do futebol na história dos Jogos Olímpicos.
Antes da partida, Sawa declarou seu respeito ao Brasil, e não apenas às craques da equipe. "Claro que Marta e Cristiane são duas jogadoras-chave do Brasil, mas o time tem muitas outras boas jogadoras com quem precisamos ter cuidado. Queremos entrar concentradas e jogar bem na defesa”, afirmou a camisa 10 do Japão, ao Globo Esporte.
O Japão conseguiu sua revanche olímpica contra o Brasil em grande estilo, com a vitória por 2 a 0 no Millennium Stadium, em Cardiff. Sawa participou do primeiro gol, aos 27 do primeiro tempo. A armadora cobrou uma falta rápida e garantiu a assistência para Ogimi Yuki. As japonesas concluíram o triunfo aos 28 do segundo tempo, em contra-ataque definido por Ohno Shinobu.
O Japão conquistou sua primeira medalha Olímpica no futebol feminino em Londres 2012. A equipe ficou com a prata, ao vencer a França nas semifinais e perder a decisão para os Estados Unidos. O Brasil, pela primeira vez em cinco edições dos Jogos Olímpicos, ficou de fora das quatro primeiras colocações do torneio de futebol feminino.
Brasil e Japão podem se enfrentar três meses antes dos Jogos
Desde 2012, Brasil e Japão se enfrentaram no futebol feminino apenas por amistosos ou torneios amistosos. Ainda assim, há duelos recentes entre os dois times. As japonesas fizeram uma excursão para São Paulo no final de 2023. No primeiro amistoso, realizado na Arena Corinthians, o Brasil venceu por 4 a 3. Priscila anotou o gol da vitória no último minuto, enquanto Bia Zaneratto (duas vezes) e Gabi Portilho marcaram os outros gols.
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Quatro dias depois, Brasil e Japão fizeram um novo amistoso, agora no Morumbi. O Japão deu o troco com a vitória por 2 a 0. Minami Moeka e Tanaka Mina construíram o resultado para as japonesas. Desde então, o Brasil se recuperou com uma vitória sobre a Nicarágua em amistoso e o vice-campeonato na Copa Ouro, com derrota na final para os EUA.
O Brasil atravessa um período de renovação, desde a eliminação na fase de grupos da Copa do Mundo de 2023. O técnico Arthur Elias conduz um novo trabalho, após a saída da sueca Pia Sundhage do comando. Antes de Paris 2024, a Seleção vai aos Estados Unidos em abril para continuar sua preparação e disputará a SheBelieves Cup. A estreia na competição está marcada para 6 de abril, contra o Canadá, em Atlanta.
O Japão fez uma campanha superior na Copa do Mundo de 2023, em que apresentou bom futebol, apesar da eliminação nas quartas de final contra a Suécia. O próximo compromisso das japonesas acontecerá também na SheBelieves Cup, em abril, contra os EUA. Brasil e Japão podem fazer no torneio amistoso um último confronto direto antes dos Jogos Olímpicos, caso alcancem juntos a final ou caiam para a decisão do terceiro lugar.
Futebol em Paris 2024: jogos da seleção feminina do Brasil
Horários de Brasília.
Grupo C: Brasil - Espanha - Japão - Vencedor de África do Sul x Nigéria
Brasil x Vencedor de África do Sul/Nigéria - 25 de julho (quinta-feira) - 14:00 - Bordeaux
Brasil x Japão - 28 de julho (domingo) - 12:00 - Parc des Princes/Paris
Brasil x Espanha - 31 de julho (quarta-feira) - 12:00 - Bordeaux
O torneio feminino do futebol em Paris 2024 conta com 12 times divididos em três grupos com quatro. Os dois melhores de cada grupo, mais os dois melhores terceiros colocados avançam às quartas de final, que acontecem em 3 de agosto (sábado). As semifinais estão programadas para 6 de agosto (terça-feira) e a final em 10 de agosto (sábado), no Parc des Princes, em Paris.