“Cada pequeno passo, uma grande conquista.”
Atletas conhecem muito bem os sacrifícios necessários para enfrentar um adversário. Às vezes, os obstáculos aparecem em suas vidas pessoais, caso de Raquel Kochhann, jogadora brasileira de rugby sevens que disse a frase que abre este texto.
Raquel se referia ao câncer de mama que descobriu durante Tóquio 2020 em 2021. Ela conseguiu se recuperar, voltar ao esporte em grande estilo, disputar mais uma edição Olímpica e ser porta-bandeira do Brasil em Paris 2024.
“Uma coisa que aprendi nesse processo de lidar com o câncer é valorizar muito cada pequena conquista. Para mim o simples fato de voltar ao contato foi uma conquista gigante, que para mim já era uma sensação de jogar uma Olimpíada. Voltar a jogar foi uma outra. Ser convocada para um time que joga o circuito mundial, de novo...é como se eu já estivesse jogando uma Olimpíada”, disse Raquel ao podcast em português do Olympics.com.
Em Paris 2024, Raquel trouxe visibilidade para o tipo de câncer mais comum entre adultos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 95% dos países do mundo têm o câncer de mama como primeira ou segunda causa de mortes de mulheres. O Brasil conta com a campanha Outubro Rosa, para incentivar os exames que podem levar a um diagnóstico precoce.
O esporte e o diagnóstico
No caso da jogadora de vôlei de praia Fabíola Constâncio, a luta continua. Ela havia completado seu tratamento com mastectomia, mas houve uma recidiva do câncer em 2023. A fadiga nos treinos foi um sinal para a atleta de que poderia haver algum problema.
“Apesar de toda a mudança na minha rotina, com a troca das quadras por clínicas e hospitais, tentei proteger a minha mente e criei uma redoma, selecionando o que eu consumia de leitura, na internet, e com quem eu iria conviver. Para mim, era importante ter pessoas que me colocassem para cima e não me olhassem com cara de ‘coitada'”, afirmou Fabíola ao Metrópoles.
Para outras mulheres, o esporte se torna ainda mais presente após a doença, como contou a remadora Lucinha Simões ao UOL.
“Eu sempre fui esportista, mas algumas das minhas colegas de equipe só passaram a se exercitar rotineiramente quando começaram a treinar no barco, isto é, depois do tratamento do câncer”, disse.
Algumas informações falsas também foram refutadas, como a ideia de que uma mulher que teve câncer de mama não poderia forçar os membros superiores.
“Minha mãe, que também teve um tumor de mama há 18 anos, enfrentou outra realidade, era proibida de levantar um copo”, afirmou Lucinha.
O renascimento pelo esporte
Rosilda Santos foi outra atleta brasileira que se dedicou ainda mais ao remo como um novo propósito pós-diagnóstico.
“Vivenciar o câncer de mama foi doloroso, mas ao mesmo tempo me trouxe a oportunidade de ver a vida de outra forma. É como se eu estivesse renascendo. Foi uma nova oportunidade de recomeçar e tudo que passei me fez acreditar que toda essa situação não era para o meu pior e sim para o meu melhor”, afirmou.
O câncer de mama também fez parte da vida de grandes lendas internacionais, mais reconhecidamente da tenista Martina Navratilova, uma das maiores da história do esporte. Navratilova se dedicou ainda mais a atividades físicas, como o triatlo e montanhismo.
Independente de suas carreiras e feitos no esporte, estas atletas carregam consigo a sabedoria da resiliência. Ao aconselhar outras pessoas que vivem com o câncer de mama, Raquel Kochhann ressaltou que o diagnóstico “não é o fim do mundo”.
“A sua vida não acabou. É apenas um processo. Então foca nesse processo, gasta tua energia toda nele, preocupe-se com o que vai te fazer bem, faz coisas que façam você se sentir bem.”