Noah Lyles vence final alucinante e, por cinco milésimos, é ouro nos 100m rasos de Paris 2024

Por Leandro Stein
9 min|
Noah Lyles comemora o ouro nos 100m
Foto por (Photo by Christian Petersen/Getty Images)

O homem mais rápido do mundo se consagrou na pista do Stade de France. Neste domingo, 4 de agosto, os Jogos Olímpicos Paris 2024 viveram uma das finais mais aguardadas do atletismo: os 100m rasos masculinos. E o ouro almejado por Noah Lyles veio de maneira inacreditável. O velocista dos Estados Unidos garantiu a conquista por cinco milésimos de segundo. Foi a primeira vez na história que os oito finalistas ficaram abaixo de 10s.

Noah Lyles fez a melhor marca da carreira, com 9s784. Sem vencer as baterias, o astro conquistou um triunfo de recuperação na final. Não largou bem, era apenas o oitavo após 40m e ainda estava em terceiro após 80m. Nos 10m finais, enfim se tornou o primeiro. A prata ficou com o jamaicano Kishane Thompson, que liderou boa parte da prova, mas perdeu no photo finish com 9s789. Já o bronze foi de Fred Kerley, dos EUA, com 9s81. Os americanos voltam a vencer os 100m rasos após 20 anos, desde o ouro de Justin Gatlin em Atenas 2004.

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Este é o primeiro ouro Olímpico de Noah Lyles, e em grande estilo. O velocista fez sua estreia em Tóquio 2020, quando conquistou o bronze nos 200m rasos. A eclosão do americano nos 100m rasos aconteceu no Campeonato Mundial Budapeste 2023, quando ganhou a prova com 9s83. O velocista de 27 anos também tem três ouros em Mundiais nos 200m. Em Paris 2024, ele tentará ainda o ouro nos 200m.

Depois da vitória, Noah Lyles confessou que nem ele achava que tinha ganhado. Contou sobre a conversa que teve com Kishane Thompson na pista, antes que o resultado saísse: "Eu estava falando: 'Vou ser honesto, acho que você ganhou essa'. Mas então meu nome apareceu e eu fiquei tipo 'meu Deus, sou incrível'."

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Noah Lyles e Kishane Thompson aguardam o resultado

Foto por (Photo by Michael Steele/Getty Images)

Kishane Thompson, por sua vez, afastou a sugestão na coletiva de imprensa de um ouro compartilhado: "Acho que esse esporte é muito competitivo, sem ofender os demais. É muito competitivo para compartilhar uma medalha de ouro. Eu estou me sentindo muito bem, honestamente. Minha linguagem corporal não vai mostrar, porque não sou um cara expressivo, mas estou feliz. Amaria vencer hoje, mas parabéns para todos."

Também foram realizadas outras duas finais no domingo de atletismo. No salto em altura feminino, o ouro ficou com a ucraniana Yaroslava Mahuchikh, dona do recorde mundial. A prata ficou com a australiana Nicola Olyslagers. O bronze foi dividido pela ucraniana Iryna Gerashchenko e pela australiana Eleanor Patterson. A brasileira Valdileia Martins se classificou para a final, mas não conseguiu competir por conta de uma lesão.

Já no lançamento de martelo masculino, o canadense Ethan Katzberg conquistou o ouro, em sua estreia nos Jogos Olímpicos. Ele foi campeão mundial na prova em 2023. A prata ficou com Bence Halasz, da Hungria. A Ucrânia subiu novamente ao pódio com o bronze, faturado por Mykhaylo Kokhan.

Atletismo em Paris 2024

A fantástica conquista de Noah Lyles

Noah Lyles chegou aos Jogos Olímpicos Paris 2024 sob os holofotes. Conquistou seu primeiro título mundial nos 100m um ano antes e prometia manter o reinado na pista do Stade de France. Porém, a concorrência para o americano não seria simples. Vários velocistas se mostravam credenciados a conquistar o ouro Olímpico.

As classificatórias colocaram Noah Lyles em xeque. O americano não venceu sua primeira bateria, com 10s04, atrás do britânico Louie Hinchliffe. Fez apenas o 12° tempo geral. Já nas semifinais, na tarde deste domingo, de novo Lyles ficou aquém das expectativas. Foi o segundo de sua bateria, com 9s83, atrás do jamaicano Seville Oblique. Chegou à final com o terceiro tempo, acima também de Kishane Thompson, outro velocista da Jamaica e sensação da temporada. Aos 23 anos, despontava como possível herdeiro de Usain Bolt.

A chegada dos 100m em Paris 2024

Foto por (Photo by Richard Heathcote/Getty Images)

Os grandes campeões, porém, são forjados nas finais. Noah Lyles conseguiu fazer aquilo que, em certo momento, parecia improvável naqueles longos 100m. O americano não largou bem e passou quase metade da distância em último, enquanto Kishane Thompson disparou na liderança da prova. Antes da linha de chegada, contudo, aconteceu a reviravolta. Lyles veio mais forte e, no photo finish, estava cinco milésimos à frente de Thompson.

É uma prova memorável dos 100m, para ser recontada por muito tempo. E com Lyles no alto do pódio. A prata de Kishane Thompson também tem grande valor, em sua estreia nos Jogos Olímpicos, mantendo a tradição jamaicana na distância e superando problemas físicos recorrentes. Já o bronze é a segunda medalha de Fred Kerley nos 100m dos Jogos Olímpicos, após a prata em Tóquio 2020. O antigo campeão Marcell Jacobs terminou em quinto, com 9s85, atrás também do sul-africano Akani Simbine, que estabeleceu o recorde nacional com 9s82.

A situação deste domingo remete à final dos 100m rasos masculinos em Moscou 1980. Na ocasião, os dois primeiros colocados também cravaram um tempo similar na casa centesimal: 10s25 para o britânico Allan Wells e para o cubano Silvio Leonard. O ouro ficou com Wells, exatamente por causa da fotografia da chegada. Já a primeira definição por photo finish aconteceu nos 100m de Los Angeles 1932, quando Eddie Tolan e Ralph Metcalfe registraram 10s3, mas o primeiro foi fotografado à frente.

Yaroslava Mahuchikh

Foto por Cameron Spencer/Getty Images

Yaroslava Mahuchikh e Ethan Katzberg cumprem o favoritismo

O salto em altura feminino tinha uma grande favorita em Yaroslava Mahuchikh. A ucraniana de 22 anos estabeleceu o recorde mundial no último mês de junho, batendo uma marca que vigorou por 37 anos. Também vinha do bronze em Tóquio 2020, além do título mundial em 2023. Cumpriu as expectativas com seu salto de 2m, logo na primeira tentativa, garantindo o ouro. Ainda tentou aumentar a altura, mas sem alcançar o recorde Olímpico de 2,06m.

O segundo lugar ficou com outra medalhista Olímpica, Nicola Olyslagers. A australiana repetiu a prata conquistada em Tóquio 2020. Passou os 2m na terceira tentativa, mas não conseguiu ir além. Curiosamente, Ucrânia e Austrália tiveram outras duas medalhistas.

Iryna Gerashchenko e Eleanor Patterson passaram de 1,95m na primeira tentativa e falharam nas três de 1,98m. Com o desempenho idêntico, dividiram o terceiro lugar, com um bronze para cada. A ucraniana foi quarta em Tóquio 2020 e a australiana, quinta. Outras quatro atletas saltaram para 1,95m, mas com desempenho inferior nas tentativas.

Por fim, o lançamento de martelo masculino consagrou Ethan Katzberg. O canadense de 22 anos vinha embalado pelo recente título mundial e apresentou seu talento, com 84,12m logo na primeira tentativa. Ele já tinha sido o melhor da qualificatória. É o primeiro atleta do Canadá a vencer a prova, tradicionalmente dominada por europeus.

A Hungria, que teve dois campeões na última década, desta vez ficou com a prata. Bronze no Mundial 2023, Bence Halasz conseguiu 79,97m em seu terceiro lançamento. Já o bronze foi do ucraniano Mykhaylo Kokhan, quarto em Tóquio 2020. Lançou para 79,39m na segunda tentativa. Os três primeiros colocados nunca tinham subido ao pódio Olímpico, enquanto os três medalhistas de Tóquio 2020 ficaram abaixo na classificação -- incluindo o campeão Wojciech Nowicki, em sétimo.

Valdileia Martins durante fase classificatória do salto em altura no atletismo em Paris 2024.

Foto por Wagner Carmo/CBAt

Valdileia Martins participa da final do salto em altura

O Brasil contou com uma representante nas finais deste domingo, no salto em altura feminino, com Valdileia Martins. Porém, a brasileira não conseguiu registrar suas marcas. Valdileia sofreu uma lesão durante a fase de classificação e ainda tentou competir. Porém, quando tomava impulso para o primeiro salto, ela sentiu a contusão e abandonou a disputa.

Apesar da desistência, Valdileia conseguiu um resultado histórico na classificatória. A brasileira passou o sarrafo com 1,92m e igualou o recorde brasileiro, estabelecido ainda em 1989 por Orlane Maria dos Santos. Valdileia teve a 11ª melhor marca da qualificação.

Valdileia Martins ainda lidou com um drama pessoal nos últimos dias, ao perder o pai na última segunda-feira. Já em Paris quando recebeu a notícia, a atleta teve apoio da família para disputar os Jogos Olímpicos e dedicou seu recorde ao pai. Foi sua primeira participação Olímpica, aos 34 anos.

"Ele fez o papel dele, formou pessoas de caráter. Em toda conquista que eu tive, a primeira pessoa pra quem eu ligava era o meu pai. Ele era o primeiro a saber das minhas vitórias, das minhas derrotas, das minhas lesões. Ontem à noite, eu chorei, porque eu vi que não vou ter mais esses momentos. Mas eu vivi tudo com ele. Meu pai não me limitava, ele sempre disse que eu era capaz", afirmou Valdileia, à Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt).

O Brasil também contou com a presença nas pistas de Lucas Carvalho, nas baterias dos 400m rasos. O brasileiro fez 45s85 e avançou apenas à repescagem. Matheus Lima tinha índice na prova, mas não participou, também assegurado nos 400m com barreiras.

Portugal teve dois representantes na pista neste domingo. Isaac Nader parou nas semifinais dos 1.500m rasos masculinos, com 3min34s75. Foi o oitavo de sua bateria, quando precisava ficar entre os seis primeiros. Nos 400m rasos, João Coelho vai à repescagem, com 45s35, na quarta colocação de sua bateria.

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