Nathalie Moellhausen busca o bicampeonato mundial: "Esgrima é a minha arte de viver"
Campeonato Mundial Adulto de Esgrima volta a acontecer depois de quase três anos, entre 15 e 23 de julho, no Cairo (Egito). Atual campeã Mundial da espada, Nathalie Moellhausen vai "para conquistar tudo novamente", ela disse em entrevista exclusiva para o Olympics.com.
Em 18 de julho de 2019 Nathalie Moellhausen entrou para a história do esporte brasileiro ao conquistar para o país o primeiro título Mundial na esgrima, em Budapeste, na Hungria.
Nascida na Itália, conheceu a esgrima e fez da modalidade parte importante da sua vida, além dos estudos em artes cênicas e produção. Durante a infância esteve com frequência no Brasil, país da sua avó, Marcela Farotti, que a incentivou em competir com as cores verde e amarela, que "seria mais importante", como lembrou Nathalie.
Pelo país onde nasceu, já colecionava medalhas por equipes em Mundiais, já era uma esgrimista conhecida. No entanto, resolveu competir pelo Brasil.
Um movimento certeiro.
O título Mundial foi um marco importante na vida de Nathalie, que vai defendê-lo na próxima edição do evento, no Cairo (Egito), entre 15 e 23 de julho. Entre a última edição e esta próxima, um intervalo de três anos, tempo bastante intenso emocionalmente, suficiente para muita coisa acontecer. "Teve a (pandemia de) covid, os Jogos (Tóquio 2020), muitos acontecimentos na minha vida", comentou.
Como boa esgrimista, precisou realizar movimentos decisivos para se redescobrir e reencontrar a sua esgrima. Tem se redescoberto e se reencontrado, algo que dividiu com o Olympics.com em entrevista exclusiva.
A derrota em Tóquio 2020 a fez repensar a esgrima
O título Mundial na espada em 2019 e a medalha de bronze em Lima, nos Jogos Pan-americanos, meses mais tarde, fez de Nathalie Moellhausen uma das favoritas para Tóquio 2020. No entanto, a pandemia da covid-19 fez com que os Jogos só fossem acontecer um ano depois, em 2021. O período sem competir e os treinamentos restritos afetam o planejamento de todo atleta de rendimento e não foi diferente com Nathalie.
Na capital japonesa, caiu na fase de 32 diante da vice-campeã Olímpica, Rossella Fiamingo (ITA). Uma amarga derrota que a fez repensar na sua esgrima. "A derrota em Tóquio foi muito desgastante, bem difícil", comentou. Além disso, fora da pista passava por uma fase bastante intensa emocionalmente: "Tive questões pessoais que pesaram muito", acrescentou.
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Sentiu que era hora de se reavaliar e reencontrar-se. "Foi tudo muito forte", disse. Depois dos Jogos, voltou para Paris, onde mora e, 10 dias depois, voltou aos treinos, no pico do verão europeu quando as cidades se esvaziam e o comércio fecha temporariamente as portas: "Tudo estava fechado e eu estava treinando", lembrou.
Entretanto, havia um porquê. "Foi para a minha saúde mental. Os primeiros três, quatro meses eu estava sozinha, nem sabia se ia voltar a fazer esgrima porque eu estava em uma situação muito complicada", refletiu Nathalie.
O recomeço
Quando comentava sobre os Jogos em Tóquio, Nathalie mantinha um certo tom de voz, linear e constante. Mas ele mudou assim que resgatou na memória a fase em que teve que se redescobrir, e que decidiu competir novamente. Percebe-se uma energia nas palavras e a paixão pela esgrima fica evidente: "Resolvi voltar e as coisas vieram naturalmente, como se fosse um pedido para eu não largar (a esgrima)", declarou.
Não tirou Paris 2024 da cabeça, mas pensava em regressar às competições apenas em 2022. Entretanto, em novembro do ano anterior decidiu competir na Copa do Mundo de Espada, em Tallinn, na Estônia. Chegou ao quadro de 32, mas saiu de lá bastante motivada: "Treinei sozinha. Chegar na pista e ver que as minhas pernas estão lá e que tudo o que fiz deu um bom resultado, me deu uma grande motivação para o futuro, para continuar a treinar", disse Nathalie para o site da Confederação Brasileira de Esgrima (CBE).
O reencontro com a esgrima não foi apenas nas competições. Fora das pistas usou a modalidade - sobretudo as máscaras - em seus trabalhos de produção cultural e artes cênicas. Este ciclo para os Jogos 2024 na capital francesa estava além da competição. Uma nova fase da vida de Nathalie, que acrescentou: "Me reencontrei com a esgrima. Esgrima não é competição, é a minha arte de viver e eu preciso continuar a praticá-la porque é isso que eu quero continuar a transmitir. Preciso estar na pista para entender tudo o que acontece. Entender através da minha história tudo aquilo que os outros precisam."
O Mundial de 2022 no Cairo: "Conquistar tudo novamente"
Depois de três anos o Mundial volta a acontecer, desta vez na capital do Egito, o Cairo. Nathalie Moellhausen chega na condição de campeã Mundial da espada. Defende o título e isso sugere que será a esgrimista a ser desafiada. Ledo engano. Não se sente assim. "É uma situação nova, porque teve bastante coisa no meio, passaram três anos, teve a Covid, os Jogos (Tóquio 2020), muitos acontecimentos na minha vida. O que sinto é que estou indo não para defender o título, mas para conquistar tudo novamente", afirmou. "Muitas coisas mudaram na minha vida. Recomecei a esgrima do zero", acrescentou.
Quando perguntada sobre os fatores que levaram-na para a conquista do Mundial em 2019, ela vê semelhanças ao momento em que está agora, às vésperas de competir no Egito: "Os fatores sinto os mesmos de agora. Aquele Mundial era muito importante para os Jogos Olímpicos (Tóquio). Me preparei em apenas seis meses, fiquei super concentrada porque tudo o que quis foi aquele Mundial. Entendi cada recado do que faltava na minha esgrima, com as derrotas nos torneios de preparação, e fiquei curiosa. Foi isso que me levou a querer ganhar."
Desde os Jogos em Tóquio, foi esse olhar curioso que levou Nathalie a perceber os recados e reencontrar-se com a esgrima. Enfática, disse: "Esse Mundial para mim é muito importante. Eu sei dentro de mim toda a força que coloquei durante este ano, ter continuado e usado a esgrima como a minha expressão de arte, de me inspirar mais para o meu projeto artístico também. Estou muito inspirada e essa inspiração eu levo para o Mundial."
Prefere não falar sobre as demais competidoras e se concentra em si mesma: "A minha principal adversária sou eu mesma", falou. Com o novo treinador, o francês George Karam, alterou os treinos e mudou a técnica, além de contar com novos integrantes em sua equipe de apoio, "bastante apaixonados", como ela os descreveu. "Me sinto uma criança, com muita vontade de experimentar e ver o que consigo fazer", complementou.
Paris 2024: "Será incrível"
Há 15 anos Nathalie vive na cidade onde vão acontecer os próximos Jogos, em que a esgrima será realizada no centenário Grand Palais, construído para a Exposição Universal de 1900. Paris também é importante para Nathalie em seu trabalho com as artes cênicas, afinal foi lá que ela produziu um espetáculo em conjunto com a Federação Francesa de Esgrima, em 2010. "A esgrima vai acontecer em um lugar simbólico para a cidade de Paris e para a própria modalidade: o Grand Palais," colocou.
Convidada pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB), recentemente esteve em evento no município de Saint-Ouen, nos arredores da capital da França, que celebrou a parceria entre o COB e aquela cidade para receber o Time Brasil em preparação para os próximos Jogos Olímpicos. Sobre isso, comentou: "Paris 2024 será incrível. Vejo o que o COB está fazendo na preparação da equipe Olímpica do país, está ótimo."
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O Brasil e a Itália no coração
Com a avó brasileira, Nathalie nasceu na Itália e por muitos anos representou a bandeira italiana. Há quase uma década optou por defender o Brasil, depois de um período em que esteve distante das competições.
Uma decisão nada fácil, afinal ela sabia que poderiam julgá-la. "É preciso coragem para mudar de nacionalidade e largar um país para ir para o outro. Pode ser visto como traição, como foi por umas pessoas. Mas eu sabia que o tempo ia dizer tudo, que se um dia eu ganhasse pelo Brasil, eu nunca ia dar as costas para a Itália. Quando venci o Mundial perguntaram se a medalha também era italiana. Eu disse que sim, porque minhas origens estão na Itália," refletiu.
Sobre o que tem de italiana e o que tem de brasileira, ela não deixou dúvidas: "Da Itália acho que tenho um estilo, um gosto, a sensibilidade artística que herdei do meu pai (Philippe Moellhausen). Minha mãe (Valéria Ferlini) é estilista. Sempre tive um olhar cuidadoso com a imagem. Do Brasil, eu tenho o coração. O sentimento, o amor, a paixão, a liberdade, o sorriso. Eu tenho o sorriso e não tinha esse sorriso pela Itália. Eu abri a minha alma."
O significado da esgrima
Em tudo aquilo que faz, Nathalie busca significado e enxerga um propósito. "O meu sonho é ajudar os outros a realizar os seus sonhos", declarou.
Quer seja em suas ações, quer seja pelo exemplo, é preciso completa harmonia da mente com o corpo. Em analogia com a modalidade, da máscara com a espada, ela analisou: "Se eu tenho que decidir quem é a máscara e a espada na minha identidade, a máscara é a parte racional e a espada a parte sentimental. A gente precisa das duas para ganhar. A máscara é a Itália. A espada é o Brasil."
Se Nathalie dá significado à sua esgrima, consequentemente dá significado à sua vida. Ela sabe que é preciso seguir adiante. Ao mesmo tempo, sabe que tem que estar preparada para tudo, movimentos e cenários, dentro da pista ou fora dela, para evitar ou minimizar surpresas.
Afinal, o objetivo de todo esgrimista, segundo ela mesma diz, é "ser imperceptível para o adversário."
Mundial de Esgrima: a participação do Brasil, programação e onde assistir
Depois de aproximadamente três anos, o Campeonato Mundial Adulto de Esgrima volta a acontecer, em sua 68ª edição, entre 15 e 23 de julho.
A delegação brasileira terá 20 representantes nas três armas: espada, florete e sabre.
- Espada (F): Nathalie Moellhausen, Victória Vizeu, Ginevra Giordano e Mariana Correia.
- Espada (M): Alexandre Camargo.
- Florete (F): Ana Beatriz Bulcão, Mariana Pistoia, Rafaella Gomes e Ana Toldo.
- Florete (M): Guilherme Toldo, Paulo Morais, Ricardo Pacheco e Lorenzo Mion.
- Sabre (F): Luana Pekelman, Pietra Chierighini, Isabela Carvalho e Giulia Gasparin.
- Sabre (M): Bruno Pekelman, Rafael Lee e Renato Saliba.
Além das disputas individuais, o Brasil estará nos torneios por equipes, exceto o masculino da espada.
Programação - horário de Brasília
15 de Julho
- 4:00 - Feminino - Espada individual
- 8:00 - Masculino - Sabre individual
16 de julho
- 4:00 - Feminino - Florete individual
- 8:00 - Masculino - Espada individual
17 de julho
- 4:00 - Feminino - Sabre individual
- 7:00 - Masculino - Florete individual
18 de julho
- 3:30 - Feminino - Espada individual - finais
- 5:00 - Masculino - Sabre individual - finais
19 de julho
- 3:30 - Feminino - Florete individual - finais
- 5:00 - Masculino - Espada individual - finais
20 de julho
- 3:30 - Feminino - Espada por equipes
- 3:30 - Masculino - Sabre por equipes
- 5:00 - Feminino - Sabre individual - finais
- 6:00 - Masculino - Florete individual - finais
21 de julho
- 3:30 - Feminino - Florete por equipes
- 3:30 - Masculino - Espada por equipes
- 5:00 - Feminino - Sabre individual - finais
- 6:00 - Masculino - Florete individual - finais
22 de julho
- 3:30 - Feminino - Sabre por equipes
- 3:30 - Masculino - Florete por equipes
- 5:00 - Feminino - Florete por equipes - finais
- 6:20 - Masculino - Espada por equipes - finais
23 de julho
- 5:30 - Feminino - Sabre por equipes - finais
- 6:00 - Masculino - Florete por equipes - finais
O 68º Campeonato Mundial Adulto de Esgrima será transmitido pelo streaming da Federação Internacional de Esgrima.