Medalhas Olímpicas de Portugal: Carlos Lopes, o primeiro medalhista de ouro

Um dos atletas portugueses mais premiados de sempre, ele foi prata nos 10000m em Montreal 1976 e, oito anos mais tarde, a glória com o ouro na maratona de Los Angeles 1984. O Olympics.com dá início a uma série sobre os medalhistas lusos em Jogos. Começamos com Carlos Lopes.

5 minPor Virgílio Franceschi Neto
O português Carlos Lopes comemora com a bandeira do seu país a vitória na maratona masculina dos Jogos Olímpicos Los Angeles 1984. Lopes faturou o ouro com um recorde Olímpico de 2h09min21s.

Entre os países de língua portuguesa, Portugal foi o país que primeiro esteve presente nos Jogos, em Estocolmo 1912. Possui uma história Olímpica bastante rica, com 28 medalhas conquistadas, sendo que a primeira de ouro aconteceu em Los Angeles 1984, na maratona.

O Olympics.com começa uma série com os atletas portugueses que conquistaram medalhas para o país em Jogos. Este primeiro capítulo é justamente sobre aquele que colocou Portugal no lugar mais alto do pódio pela primeira vez: Carlos Alberto de Sousa Lopes.

O início

Mais velho de sete irmãos, desde bem pequeno cultivou o espírito de liberdade e procurou fazer o que gostava. Jogava futebol, mas seu peso e estatura impendiam-no de levar o esporte mais a sério. Nas brincadeiras de criança e quando adolescente, as corridas eram despretensiosas e bastante comuns, em que ele não se saía mal.

Assim, sugeriram-lhe o atletismo.

"Na primeira prova que fiz, disse a mim mesmo: o que você está fazendo aqui? Olhava para frente e só via gente", disse Lopes ao programa "Agora Nós", da RTP (Rádio e Televisão de Portugal). Terminou em segundo lugar e deu o título de equipes para o Lusitano, clube da sua terra natal (Vildemoinhos).

Segundo ele próprio, percebeu que levava jeito.

Era o ano de 1966 quando partiu para Lisboa para treinar no Sporting Clube de Portugal, referência nas provas de fundo, sob os olhares de Moniz Pereira, reconhecido treinador e um dos grandes nomes do esporte do país. "Ele era apaixonado pelo que fazia e fazia as pessoas apaixonarem-se também pelo mesmo, de acreditar que tudo era possível", comentou Lopes sobre Moniz Pereira.

Nos primeiros anos na capital portuguesa, Lopes ainda conciliava as atividades do atletismo com outras profissões, como as funções administrativas que exerceu em um banco e também em um jornal. Treinava apenas uma hora por dia, o que limitou sua evolução.

A prata em Montreal

A partir de 1975, o Sporting já conseguia proporcionar a Lopes melhores condições, ele já conseguia dedicar-se quase exclusivamente ao atletismo. O resultado não demoraria a aparecer. Em 1976 ganhou o campeonato do mundo de cross-country, título que deu-lhe bastante projeção. Em sua segunda participação Olímpica, em Montreal, a primeira medalha em Jogos, com a prata nos 10000m. Tinha liderado a maior parte da prova e foi ultrapassado pelo finlandês Lasse Virén nas últimas centenas de metros.

"Aquilo (a medalha de prata) já era uma vitória, mas uma frustração tremenda, porque queria ser campeão Olímpico e perdi. Custou-me muito, mas foi uma lição tremenda. Aprendi muito com essa derrota", disse Lopes sobre a prova, no documentário "O Homem da Maratona".

Após 16 anos, Portugal voltava a conquistar uma medalha em Jogos. A última havia sido na vela, com os irmãos Mário e José Manuel Gentil Quina, em Roma 1960.

Pelo pódio em Montreal, foi condecorado pelo governo português como Cavaleiro da Ordem do Infante Dom Henrique, em 1977.

1984: o ouro na maratona

No início dos anos 1980, Lopes sabia que o sonho de um título Olímpico só poderia acontecer na maratona, por conta da idade e da velocidade da prova. Precisava conhecer a distância para conhecer-se a si mesmo dentro da distância. Feito isso, passou a conhecer os adversários e usava outras provas internacionais a fim de conhecê-los, mesmo sem ao menos completá-las, como parte da preparação para Los Angeles.

Pouco antes dos Jogos de 1984, é atropelado em uma movimentada via de Lisboa, conhecida como "segunda circular", em frente ao Estádio da Luz. "Quando percebi que não havia partido nada, levantei-me e disse...isso está bom", comentou para a RTP. Passou três dias em observação, que finalmente não tiraram dele o sonho da medalha de ouro.

Para a Califórnia, Lopes quis a máxima concentração e procurou fazer sua própria preparação. Viajou separadamente da delegação portuguesa, preferiu ficar em hotel ao lado da esposa e longe da agitação da Vila Olímpica.

"Acho que foi bom...estava sossegadinho...no dia da competição (maratona) eu ia para a 'minha festa'", comentou Lopes no mesmo documentário, sobre aquele domingo, 12 de agosto de 1984. "Nos 20 primeiros quilômetros, aquilo é um passeio. A partir dos 30 é a parte mais crítica, em que todos desconfiam de todos", completou.

Próximo ao Coliseu de Los Angeles, Lopes se distanciou. A menos de dois quilômetros, passou a desfrutar, como ele mesmo comentou. "Aquilo foi para acabar...e acima de tudo cumprimentar o público...não é para qualquer um...", falou ele para o programa "Agora Nós", da RTP, sobre como foi dar a volta final da maratona dentro do estádio diante de 92 mil pessoas.

Com o tempo de 2h09min21s e recorde Olímpico, vitória na maratona para Carlos Lopes.

Pela primeira vez Portugal subia no topo do pódio em Jogos.

Ao se recordar de toda a trajetória e carreira, se tem vontade de voltar no tempo e reviver algum momento, ele finaliza: "Se pudesse...aquilo foi tão perfeito que não sei se gostaria de voltar a repetir, não vale a pena fazer mais nada. As coisas que fiz, perduram. Por que faria diferente?"

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