Marta e o inédito título da NWSL: por que a paciência é uma virtude para a craque brasileira

A icônica camisa 10 está no Orlando Pride (Estados Unidos) desde 2017, e no último sábado (23 de novembro) tornou-se campeã da liga americana pela primeira vez na carreira. Uma taça também nunca antes conquistada pela franquia.

5 minPor Courtney Hill
Orlando Pride captain Marta. 
(2021 Getty Images)

Pela primeira vez na história da franquia, o Orlando Pride conquistou o título da National Women’s Soccer League (sigla NWSL em inglês, a Liga Nacional Feminina de Futebol) dos Estados Unidos, uma das mais competitivas do mundo.

Desde o seu início, na temporada 2016, este time da Flórida passou muitos altos e baixos.

As coisas pareciam promissoras em 2017, com a chegada da “Rainha” Marta (BRA). Ela foi uma das responsáveis por deixar a equipe na terceira colocação do torneio naquele ano, quando o Orlando parou nas semifinais da liga.

Mas essa seria a primeira e última vez que a franquia chegaria aos play-offs decisivos. A partir de então, a melhor colocação do time foi a sétima colocação (2018 e 2023).

Este ano, no entanto, a maré mudou. Enquanto muitos novos nomes vestiram a inconfundível camisa roxa, um permaneceu intocável: Marta.

A alagoana esteve com o time nos momentos mais delicados e agora colhe os frutos do seu trabalho, que passou pela paciência.

Depois de vencer o troféu “NWSL Shield” (concedido para a franquia melhor colocada durante a temporada regular), o Orlando fez a “dobradinha” e foi campeão da NWSL pela primeira vez. No último sábado (23 de novembro), derrotou o Washington Spirit por 1 a 0 na decisão da edição 2024 da liga, em jogo realizado em Kansas City (Estados Unidos).

Primeira vez também de Marta, cuja paciência finalmente valeu a pena, ao conquistar inédito título na carreira após oito temporadas no Pride.

Mais um troféu para a repleta prateleira da brasileira, que tem três medalhas Olímpicas em seis participações em Jogos, além de ter sido escolhida melhor jogadora do mundo em seis oportunidades.

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Marta: sinônimo de Orlando Pride

O nome de Marta estará para sempre nos livros de história da NWSL, especialmente quando se trata do capítulo sobre o Orlando Pride.

Ao longo dos anos, ela se tornou sinônimo da franquia, mostrando lealdade inabalável diante de muitos altos e baixos.

Com exceção de 2017 e agora 2024, o Pride não terminou acima do sétimo lugar, tornando-se destaque na metade inferior da tabela.

Uma mistura de resultados ruins e falta de troféus significou que muitas partiram em busca da glória em outro lugar.

Alex Morgan (USA), Ali Krieger (USA), Sydney Leroux (USA) e Steph Catley (AUS) são todas futebolistas que dividiram o campo com Marta. Todas acabaram saindo à procura de momentos mais brilhantes.

Entretanto, a icônica camisa 10 ficou. Hoje, joga ao lado de muitas que foram inspiradas por ela.

“É algo [jogar com Marta] como um sonho que se tornou realidade. Sempre admirei Marta desde que era jovem”, disse a atacante zambiana Barbra Banda – autora do gol que deu a vitória para o Orlando na decisão da NWSL 2024.

“Jogar ao lado dela realmente me motiva – ela sempre me encoraja a fazer o certo e ser a melhor”, acrescentou.

A defensora Kerry Abello (USA) idolatrava sua capitã quando criança, chegando a fazer uma viagem de ida e volta de Chicago para Bay Area a fim de encontrá-la após um jogo, quando tinha 11 anos - ela agora tem 25.

“Ela tem essa energia infantil, não sei de onde ela tirou isso – mais energia do que todas nós temos”, disse Abello para a Equalizer Soccer.

“Só de ver o quanto ela ama o jogo e quão apaixonada ela é, é realmente inspirador.”

O que torna a eterna estrela especial para muitas dessas jogadoras, no entanto, é a pessoa fora de campo.

Seu amor pelo clube e pelas pessoas dentro dele a tornam uma embaixadora perfeita desse esporte.

“Muitas pessoas falam sobre suas habilidades no futebol, ela é uma das melhores do mundo, mas eu amo Marta como pessoa”, disse a colega de equipe Carson Pickett (USA).

“A maneira como ela se comporta. Ela nunca é maior do que o time, quando ela absolutamente poderia ser”, refletiu Pickett.

“Como humana, ela se importa profundamente com as pessoas. É isso que eu mais respeito nela. Eu amo ser sua companheira de equipe, mas eu amo ser sua amiga mais do que tudo.”

É esta a melhor temporada de Marta na NWSL?

Aparentemente, há uma correlação direta entre tirar o melhor de Marta e chegar aos play-offs da NWSL.

Como coração do time, tudo passa por ela. Quando isso é feito de forma eficaz, as coisas simplesmente se encaixam.

É algo que soou verdadeiro neste período, assim como aconteceu quando o Pride chegou na semifinal, com o treinador Seb Hines tirando o melhor dela em campo.

Com 11 gols e uma assistência, esta foi sua campanha individual de maior sucesso desde a terceira colocação da franquia em 2017 - quando balançou as redes por 13 vezes e teve seis assistências durante a temporada.

Aos 38 anos, Marta parece ter encontrado uma nova vida na Flórida e isso pode ser resumido no gol que marcou na vitória por 3 a 2 na semi, sobre o KC Current. Passou pela zaga, driblou a goleira e estufou o gol – todos os elementos necessários para alguém que está no auge da carreira.

"Foi um gol incrível, simplesmente incrível", disse Hines sobre a contribuição de sua capitã.

"Poucas pessoas conseguem fazer isso e ela trabalhou muito para chegar aqui. É simplesmente incrível ver essa classe e qualidade constantes o ano todo."

Há muito tempo apelidada "Rainha", o sábado (23 de novembro) a coroou como sendo a primeira capitã da história do Pride ao conduzi-lo para a - inédita - glória da NWSL.

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