Kaillie Humphries: "Não coloquem limitações em atletas"

A bicampeã Olímpica de bobsled tentará ser a primeira campeã Olímpica do monobob nos Jogos Olímpicos de Inverno Beijing 2022. Ela tem mais uma oportunidade de mudar o esporte, após ter lutado tanto por igualdade de gênero no bobsled. 

6 minPor Clémence Roult
kaillie humphries
(2021 Getty Images)

"Em 2010, me disseram 'Você não é boa o suficiente para ganhar'. Eu ganhei. Em 2014, me disseram 'Sabe, ninguém defendeu título. Você provavelmente não vai defender'. Eu consegui. Depois falaram que 'mulheres não são fortes e talentosas o bastante para a prova de 4-man'. Nós mostramos que somos. Não coloque limitações nos atletas'.

O bobsled feminino não seria o que é hoje sem Kaillie Humphries. Durante sua carreira de 16 anos, a atleta nascida no Canadá, que compete pelos EUA desde 2019 - conquistou sua cidadania oficialmente em 2 de dezembro de 2021 - reescreveu a história do seu esporte com seu desempenho. Além disso, ela é uma grande ativista pelas mulheres no bobsled.

O Olympics.com falou com a bicampeã Olímpica sobre sua incrível carreira até o momento, com o início da temporada da Copa do Mundo de bobsled. Ela falou sobre todas as mudanças que tem vivido para continuar no topo do esporte e como contribuiu para quebrar barreiras para mulheres no bobsled.

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Kaillie HUMPHRIES

Canadá
Bobsled
3O
1B

Mudando a história do esporte

Não é exagero dizer que Kaillie Humphries mudou a história do bobsled. Com vários recordes, a atleta de 36 anos não pretende parar tão cedo.

Primeiro, Humphries se tornou a primeira mulher a ganhar o ouro Olímpico no bobsled junto a sua parceira Heather Moyse em Vancouver 2010. Foi um sucesso inesperado, já que ela havia se tornado piloto há apenas quatro anos.

"Todos diziam 'Demora 10 anos para formar um bom piloto. Você só está pilotando há quatro. Ainda é muito nova", ela explicou e acrescentou, "Eu cheguei como uma zebra. Dizia a mim mesma 'Só quero me divertir. Só quero dar o meu melhor'. Foi o que fiz o resultado está aí".

Porém, ganhar o ouro nos Jogos em casa pode ser uma tarefa mais fácil do que fazê-lo no exterior. Então o desafio que Humphries encarou era provar para todos que sua vitória não era fogo de palha. Então quando ela triunfou em Sochi 2014, tornando-se, com Moyse, a primeira mulher a defender um título na história do bobsled, a canadense novamente provou que quem duvidava dela estava errado.

Em PyeongChang 2018, Humphries estabeleceu um novo recorde, com a medalha de bronze que ganhou com Phylicia George, tornando-a a atleta mais premiada do bobsled feminino nos Jogos de Inverno.

Com um quarto título mundial no bobsled 2-woman em Altenberg em 2021, Humphries quebrou o recorde de títulos mundiais, com dois títulos em 2012 e 2013 e os outros dois em 2020 e 2021. Foi uma recompensa pela "atenção, detalhe e tempo que gastei aperfeiçoando o meu ofício".

Humphries, já treinando pelos EUA, ganhou o primeiro título mundial do monobob em 2021, um ano antes da estreia Olímpica da prova, em Beijing 2022.

"É ótimo saber que as mulheres têm mais chances de ganhar medalhas, e ser a primeira seria a cereja do bolo", ela disse. "Trabalhei muito duro para conseguir vencer os dois eventos".

Mudando a mente para ficar no topo

Se Humphries conquistou bastante sucesso, é devido a trabalho duro e a vontade de se adaptar a novas situações para continuar no topo do esporte.

A primeira grande mudança foi em 2002. Na época, Humphries era brakeman (a pessoa que freia no bobsled) há três anos, e foi a Turim 2006 como alternate. Foi uma situação difícil para uma atleta que sempre sonhou em competir nos Jogos Olímpicos. Portanto, para nunca ser deixada de lado novamente, ela decidiu mudar.

"Percebi que precisava tomar mais controle sobre a minha carreira, e foi quando eu mudei de ser a pessoa atrás, a brakeman, para me tornar piloto", explicou.

Apenas quatro anos depois, ela ganhou seu primeiro ouro Olímpico como piloto.

Após o primeiro sucesso, Humphries admitiu que em 2011 ela estava deslumbrada. Porém, o esporte e suas adversárias logo mostraram qual era a realidade.

"Eu estava com tudo em 2010, mas no ano de 2011 eu achei que apenas ia melhorar e tudo ia dar certo, mas logo entendi que tinha chegado ao meu auge e comecei a cair", afirmou Humphries, que precisou esperar até 2012 para ganhar outra competição. "Sabia que precisava mudar se quisesse voltar ao topo e esquecer os últimos anos, bons ou ruins. Mantive a mesma filosofia a cada temporada".

Houve algumas mudanças lógicas que Humphries precisava fazer, especialmente após uma longa carreira como a dela. A primeira foi sua parceira - uma mudança que a ensinou como se adaptar em relação à comunicação necessária com a atleta atrás dela.

"Acho que trabalhar com muitas pessoas me ensinou bastante sobre comunicação, confiança, respeito, liderança. Aprendi como seguir também em alguns momentos", disse.

Essas qualidades humanas foram um trunfo importante em sua busca para continuar no melhor nível, mesmo depois de trocar a pessoa atrás dela no trenó.

Mudando a história do bobsled feminino

Humphries está sempre focada em seguir em frente e gosta de mudar as coisas no esporte. Uma de suas maiores batalhas tem sido melhorar a situação das mulheres no bobsled.

"No bobsled, quando eu comecei, as mulheres não dirigiam nas mesmas pistas, não tínhamos a mesma premiação. Falavam que 'as mulheres não são rápidas o suficiente' e 'você não tem talento para pilotar'. Isso me enfurecia tanto, saber que nosso esporte, para os homens, era completamente diferente das mulheres porque eles achavam que não éramos 'boas o suficiente'", afirmou.

"Sabia que a única maneira que eu voltaria a ser competitiva e ganhar o respeito dos homens seria provar que as mulheres eram tão boas quanto eles, que foi dirigir em um grupo masculino. Queria mostrar que nós poderíamos pilotar em pistas para homens e poderíamos competir duas vezes por semana, assim como eles".

Mas isso não foi o suficiente para Humphries. Alguns anos depois, ela se tornou a primeira piloto com uma equipe totalmente feminina a participar do evento 4-man.

"Nós somos 30 a 40 kg mais leves que nossos colegas. Não conseguíamos mover o trenó tão rápido e não tínhamos o peso dentro para descer tão rápido. Mas conseguimos derrotar alguns times masculinos e foi uma grande celebração quando conseguimos".

Em 2018, depois dos Jogos Olímpicos em PyeongChang, a IBSF anunciou a introdução de um segundo evento feminino em Beijing 2022: o monobob. Foi uma vitória para Humphries e todas as corredoras de bobsled pelo mundo.

"Não e o 4-man, não é o que eu escolheria pessoalmente. Ao mesmo tempo, é mais um evento para as mulheres, para se desafiarem e ganharem medalhas.

"O que eu adoraria ver é os dois gêneros fazendo as três provas. É assim que eu queria ver o esporte".

Enquanto espera por seu equilíbrio perfeito, Humphries competirá novamente neste inverno na Copa do Mundo de bobsled antes de entrar em uma nova pista em Pequim para os Jogos Olímpicos de Inverno que acontecem de 4 a 20 de fevereiro de 2022.

Mais uma vez, ela tentará mudar a história do esporte.

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