Terceira do mundo na última temporada, Marina Tuono busca mais do que a vaga nos Jogos de Inverno: ‘Quero um bom resultado’

Atleta do monobob, que estreia no programa Olímpico nos Jogos de Inverno Beijing 2022, Tuono conquistou um grande resultado na temporada 2020/2021. Neste ano, seu foco é ir à China e inspirar outras brasileiras a buscarem seus sonhos nos esportes de inverno. 

5 minPor Sheila Vieira
Marina Tuono compete na etapa de Park City do circuito de monobob em janeiro de 2021.
(Girts Kehris/IBSF)

Quando o ranking final da última temporada de monobob – uma prova individual do bobsled – foi divulgado em um evento na Europa, poucos esperavam que o nome de uma brasileira fosse lido na terceira colocação.

“Tenho uma amiga nigeriana que estava lá, ela filmou, e todo mundo ficou olhando para a cara do outro, tipo, ‘quem é essa?'".

Essa é Marina Tuono, 26 anos, brasileira residente nos EUA, terceira atleta com mais pontos na temporada 2020/2021 – com uma segunda colocação e dois terceiros lugares em Park City, nos EUA, em janeiro de 2021 - e candidata a representar o país no bobsled feminino, nos Jogos Olímpicos de Inverno Beijing 2022, de 4 a 20 de fevereiro de 2022.

Confira a entrevista de Tuono ao Olympics.com.

‘Eu competi, eu ganhei os pontos’

Atletas do mundo todo tiveram que lidar com limitações durante a pandemia. No caso do monobob, muitas competidoras europeias ficaram fora de etapas do circuito em 2020/2021. Mas se engana quem pensa que isso diminui a terceira posição da brasileira.

“Eu pensei ‘Ok, é isso mesmo, eu cheguei lá, eu competi, eu fiz’. Claro que teve a questão de que eu estava só aqui, nos EUA, consegui competir todas as etapas enquanto outras não puderam. Mas isso não tira o meu mérito de que eu competi, eu ganhei os pontos. Isso me ajudou psicologicamente de ter mais confiança em mim mesma e não achar que só sou uma menina que veio fazer esporte de inverno, de um país que esporte de inverno ‘nem existe’”, afirmou.

O objetivo principal de Tuono é a vaga nos Jogos de Inverno, mas não é o único. “Classificar não é fácil, mas se você se esforça, você pode conseguir”, disse a atleta. “Eu quero ir, mas também quero ter um bom resultado nos Jogos de Inverno”.

Outra motivação é inspirar brasileiras que queiram encarar o gelo. “Não quero que acabe aqui, nos Jogos de 2022 ou no próximo ciclo Olímpico, mas sim abrir caminho para outras meninas do Brasil. Temos tantos talentos, mas eles não têm oportunidades, por essa questão de ser esporte de inverno, de precisar viajar”.

(IBSF)

Primeiro passo: Copa América

Na Copa América de Bobsled e Skeleton, cuja primeira etapa será disputada a partir de 7 de novembro de 2021 em Whistler, no Canadá, Tuono somará pontos para obter a classificação para Pequim.

“O meu foco é conquistar os pontos necessários aqui na Copa e depois apenas pegar mais experiência de pista na Europa antes dos Jogos. Mas se eu não conseguir o que eu preciso aqui, aí vou para a Europa com o objetivo de ganhar pontos”, explicou Tuono.

O monobob feminino terá 20 vagas em Pequim, mas 14 são reservadas para atletas que também competem na categoria 2-woman (em dupla), que não é o caso de Tuono. Portanto, a brasileira efetivamente luta por uma de seis vagas entre as atletas que só praticam a prova individual.

Idas e vindas

Quando estava na seleção feminina de bobsled, Tuono se mudou do Brasil para o Canadá para se dedicar ao esporte. A vaga para PyeongChang 2018 não veio, então a brasileira tentou o skeleton. Não deu certo, mas ela persistiu e se encontrou no monobob.

Por que a nova prova Olímpica deu tão certo para a brasileira? A segurança de competir sozinha. “No monobob não tem ninguém atrás de você, não tem risco de machucar ninguém. Você só pode machucar você mesmo (risos). Mas no próximo ciclo Olímpico eu vou ter mais confiança de colocar alguém atrás de mim com segurança”, contou Tuono, que iniciou no esporte na ginástica artística.

Tuono se mudou para os EUA para estudar Ciências do Esporte e praticar levantamento de peso universitário, mas o gelo e o trenó continuaram sendo o seu foco.

“O monobob foi um desafio para mim, e quando colocam um desafio eu não paro até conseguir o que eu quero. É um esporte que sempre tem alguma coisa diferente para conquistar”.

Saudades do Brasil

Tuono não conseguiu viajar ao Brasil durante a pandemia e ainda não conhece o seu sobrinho, que nasceu em 2020. Porém, a convivência com os outros atletas do gelo do país - principalmente a sua grande amiga e ex-companheira de equipe, Nicole Silveira, do skeleton - faz com que ela se sinta um pouco mais próxima de casa.

“Eles [seleção brasileira masculina de bobsled] são muito gente boa, me ajudam bastante. Porque no monobob não tem a responsabilidade de outra pessoa atrás de você, mas você precisa mexer o sled sozinho e ele pesa 160kg. Então eles me ajudam a carregar. Às vezes eu me estresso porque eles falam muito alto (risos), mas também gosto disso porque faz com que eu me sinta em casa”, disse Tuono.

Pelos próximos meses, a casa de Tuono será o gelo da América do Norte, da Europa e, se tudo correr bem, da capital chinesa.

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