João Lucas Reis trilha caminho de inclusão no tênis: ‘Quando eu tentei amar a mim mesmo, mudou a minha vida’

Tenista brasileiro ficou surpreso ao ganhar visibilidade mundial após postar uma foto com seu namorado. Agora ele espera ser uma inspiração para outros jovens gays no esporte.

3 minPor Sheila Vieira
João Lucas Reis
(João Pires/Fotojump)

Quando o tenista brasileiro João Lucas Reis publicou uma foto com seu namorado em seu perfil no Instagram com a legenda “Feliz aniversário. Feliz vida. Te amo”, ele jamais imaginava que, uma semana depois, estaria dando uma entrevista para o New York Times sobre esta postagem.

“Não pensei sobre isso, só queria postar uma foto com ele”, disse João Lucas ao jornal americano. A parte que o atleta de 24 anos não sabia é que ele seria o primeiro tenista em atividade a ser abertamente gay no circuito masculino.

“Eu pensei ‘Meu Deus, é aniversário do meu namorado. Feliz aniversário, te amo’. E aí, boom”, contou o recifense.

Rapidamente, a postagem viralizou em todo o mundo e colocou João Lucas nos holofotes, na semana em que ele disputaria uma vaga no Qualifying do Rio Open, pela Procópio Cup. Ele tinha receio de ser alvo de críticas, mas contou que “99,9% dos comentários foram positivos”.

“Não senti pressão. Estava feliz. Tinha meu namorado [Gui Sampaio] aqui comigo. Ele me apoiou. Minha equipe inteira estava aqui”, afirmou João Lucas, que venceu a competição em São Paulo. “Foi uma semana maluca, mas o final foi perfeito.”

O mundo do tênis agora sabe algo que João Lucas contou para sua família e amigos mais próximos há cinco anos.

“Antes disso, era difícil... Eu não conseguia falar muito de mim mesmo para meus treinadores, meus amigos. Quando eu tentei amar a mim mesmo, foi diferente. Mudou minha vida, mudou tudo, a relação com os meus pais, com meus treinadores”, compartilhou.

O receio de ser incompreendido pelos colegas de profissão também deixou João Lucas inseguro.

“Nos vestiários dos torneios, eu ouvia algumas coisas que me incomodavam. Mas quando comecei a dizer a todos que era gay e as pessoas sabiam, pararam de falar essas coisas. Quando há alguém próximo deles que é gay, eles respeitam mais”, explicou.

João Lucas espera que seu gesto seja um marco para que outros tenistas e atletas se aceitem mais cedo.

“Se as pessoas virem alguém no topo que é gay, as coisas podem mudar. Elas podem parar de dizer coisas que não deveriam, que machucam os outros.”

Enquanto o circuito feminino conta com diversas jogadoras que estão em relacionamentos abertamente homoafetivos, o mesmo não acontece no masculino.

“Quando eu tinha 16, 15 anos, tinha problemas em me aceitar. Talvez se houvesse algum jogador dizendo ‘Sou gay, estou aqui, competindo nos grandes torneios’, teria sido mais fácil para eu me aceitar e me amar.”

Atual número 367 do ranking (já chegou a 204º em 2023), João Lucas não esperava se tornar um símbolo de inclusão no tênis, mas aceitou este papel com a convicção de ver um esporte mais acolhedor.

“Estou bem feliz que as pessoas me respeitam, me enxergam e me admiram talvez”, celebrou. “Me disseram que eu inspiro as pessoas. É algo muito importante para mim e para elas.”

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