Gustavo Ribeiro quer se 'vingar' de resultado em Tóquio: 'Posso fazer melhor em Paris 2024'
Fã de Cristiano Ronaldo, fenômeno português do skate conversou com o Olympics.com e compartilhou os fatores que levaram-no a uma excelente temporada 2022, além de projetar a participação nos Jogos de Paris. Terceiro lugar no Classificatório Olímpico em Roma e o título geral na SLS marcaram o ano. Confira a entrevista.
Sorriso fácil, de boa conversa e um astral lá no alto. Este é o skatista português Gustavo Ribeiro, um dos grandes nomes da modalidade, em uma temporada inesquecível. Em 2022 conquistou expressivos resultados, entre eles o terceiro lugar no Pré-Olímpico de Roma, em junho, e, no início de novembro, o título no Super Crown da Street League Skateboarding (SLS).
"Foi um ano sem dúvida alguma muito bom", refletiu Gustavo.
Ainda falta tempo para Paris 2024, mas já está de olho em mais uma participação Olímpica, a que pode ser sua segunda. "Saber que tinha a oportunidade de representar o meu país nos Jogos Olímpicos é um enorme orgulho", disse.
Nasceu em Almada, cresceu em Lisboa, hoje vive em Long Beach, nos Estados Unidos. Gustavo compartilhou em entrevista para o Olympics.com um pouco da sua história, os fatores que considera terem sido importantes e que conduziram-no às recentes conquistas, além da expectativa pelo que está por vir.
O início de Gustavo Ribeiro: um enorme parque a céu aberto em Lisboa
Aos cinco anos de idade o tio deu a ele um skate como presente de Natal. Algo que o mudaria para sempre na companhia do irmão gêmeo, Gabriel. "É um grande companheiro e me acompanha sempre. Já confundimos professores e organizadores de eventos, mas hoje já não mais", falou.
As primeiras manobras e truques tinham como cenário Lisboa, capital do país, com incontáveis lugares para potencializar a criatividade neste esporte. Uma cidade que combina o antigo com o novo, com suas ladeiras, becos, praças e passeios. Obstáculos urbanos que desafiam o atleta, a prepará-lo para qualquer pista.
"É o meu lugar preferido (Lisboa) para treinar", falou. "Quando tinha seis anos mudei-me para Lisboa. Quando penso em 'casa', penso em Lisboa."
Cristiano Ronaldo, o grande ídolo de Gustavo Ribeiro
O que era apenas lazer passou a ser algo sério. Ainda criança passou a sonhar em ser o melhor skatista do mundo. Foi atrás dos desafios e jogou-se ao mundo, ao passo que era influenciado pelo compatriota, Cristiano Ronaldo, futebolista que ganhava o planeta com o seu talento e trabalho duro.
"Eu tinha muitos sonhos altos desde pequenino, via os documentários do Cristiano Ronaldo. Perguntava à minha mãe se era possível uma pessoa que sequer tinha um lugar para morar, hoje ser um dos melhores atletas do mundo. Isso mostra que tudo é possível", lembrou Gustavo.
Perguntado quem foi sua referência no skate, disse de imediato: "Ryan Scheckler. Foi quem me fez apaixonar pelo skate."
Apaixonado pela modalidade e inspirado em CR7, percebeu desde o início que, para alcançar os sonhos não era preciso ter o dom apenas, mas também muita disciplina e esforço.
"Se acreditarmos, basta querer", reforçou, em espécie de mantra.
Gustavo acreditou e quis. Conhecido no cenário nacional português, em 2017 fez as malas e partiu para a Flórida, faturar o tradicional Tampa AM, o que lhe deu um lugar no SLS do ano seguinte.
Era só o começo.
Manobra a manobra, degrau por degrau
Tem 21 anos, mas ao rever sua trajetória, fez uma pausa e disse: "Eu acreditei tanto, e tanto...de uma maneira tão intensa, que isso aconteceu também bem depressa, o que é muito bom."
Pode ter sido depressa, mas isso não significa que tenha sido de repente. Pelo contrário. Teve alegrias, mas conviveu com frustrações. Dentro e fora das pistas. Classificado para os Jogos Tóquio 2020, teve que lidar com uma lesão no ombro pouco antes da viagem para o Japão, algo que o deixou muito estressado, uma vez que teve que ficar parado por três semanas. Um período que é como uma eternidade para qualquer atleta.
Antes de viajar, voltou ao médico para receber alta, mas a resposta foi negativa. A lesão era recente e perigosa. "Ele disse o que eu não queria ouvir", recorda Gustavo. "Lembro-me de ajoelhar ao médico e pedir por favor para me dar alta. Ele concordou e desejou-me boa sorte. Lembro-me de ter ficado bem feliz."
Duradouras e frequentes sessões de fisioterapia fizeram o ombro melhorar bastante, dias antes de competir em Tóquio. Entretanto, não estava em sua forma ideal. Ficou longe do pódio Olímpico, mas um mês depois venceu a etapa de Salt Lake City da SLS, algo que marcou a carreira de Gustavo.
Manobra a manobra, o português subia degrau a degrau. Era um anúncio do que estava para acontecer.
Temporada 2022: terceiro lugar em Roma e título na SLS
"Quem espera sempre alcança."
Eis um ditado popular que passa a ideia de que um trabalho bem feito será reconhecido, mesmo que leve tempo. Com ele foi assim. Em junho, chamou a atenção de todos ao terminar em terceiro lugar no concorrido Classificatório Olímpico, em Roma. Somou importantes pontos no ranking por um lugar em Paris 2024.
"Não foi um resultado que eu queria, mas não foi um resultado ruim ao todo. Fiquei confortável, consegui um terceiro lugar em Roma, e ao menos consegui acabar o ano como campeão do mundo", falou.
Na SLS, o título mundial, finalmente. Fez ótimas apresentações e venceu a etapa de Las Vegas. Classificado para o Super Crown, no Rio de Janeiro, teve a oportunidade de realizar um velho sonho: o topo do pódio no circuito. "Ao longo do campeonato (Super Crown) eu senti que conseguia crescer ainda mais, porque não apenas estava confiante comigo, mas o público estava confiando em mim. E esta é uma sensação muito boa. Não acontece muitas vezes, sinceramente. Só no Brasil," lembrou.
Aconteceu. Incentivado pela torcida brasileira, acertou a última manobra e fez história. "É raro ir a um estádio e sentir todos por você. O público estava por todos os atletas, mas sentia que quando diziam o meu nome, as pessoas ficavam muito contentes e gritavam muito. Isso me deu energia e me fez crescer mais."
Se fosse preciso escolher entre o desempenho em Roma e o no Rio de Janeiro, Gustavo pensa e responde com base em outro sonho que possui: "São dois campeonatos diferentes. O de Roma não tem comparação, é a classificação para os Jogos Olímpicos. A SLS tem todos os anos, é o que vejo desde pequenino, mas o de Roma me dá a oportunidade de poder estar em um dos maiores eventos que existem, os Jogos Olímpicos."
Gustavo Ribeiro e o sonho Olímpico em Paris 2024
"Não foi um bom resultado (em Tóquio 2020). Apesar de tudo, consegui fazer a final e sei que posso fazer melhor em Paris 2024 daquilo que fiz em 2021", comentou o skatista sobre os Jogos no Japão.
Antes de continuar, acrescentou: "Espero em Paris poder me vingar", disse em relação à colocação final obtida em Tóquio.
Ele bem disse: "sabe que pode fazer melhor." Tal certeza não deixa dúvidas de que não vai medir esforços para estar em Paris, daqui a menos de dois anos. Estar nos Jogos Olímpicos era um sonho antigo e vibrou quando soube que o skate passou a fazer parte do programa. "Via pela televisão, acompanhava o triplo salto e a natação", relembrou.
Medalhista de ouro em Tóquio, Pedro Pichardo é a inspiração para Gustavo: "Sou grande fã dele, da história que possui. Não é qualquer um que consegue ser campeão Olímpico", disse. "Representar o país nos Jogos Olímpicos é um enorme orgulho. Ser possível receber uma medalha é um feito histórico."
Um feito que pode acontecer na capital francesa. "A preparação (para Paris) é longa. Há todo um caminho. Todos esses campeonatos que tenho participado são como treinamentos e preparam-me para o que está por vir. Isto é apenas o início e espero que muito mais tem para acontecer", declarou.
Saúde mental: para a vida e para o skate
Não há dúvidas de que 2022 foi um ano incrível para o português. E ele não demora para responder que o principal fator que o levou para a grande temporada, foi a questão da saúde mental.
"Estar saudável comigo mesmo. Sem medos", observou. E desenvolveu: "Quanto mais estivermos com a cabeça saudável, mais vamos estar em condições de atingirmos os nossos objetivos. A vossa cabeça é quem comanda o seu corpo. Com a cabeça limpa e com coragem, é meio caminho andado para conseguirmos tudo o que nós queremos. Foram os pequenos objetivos que coloquei para mim, que me fizeram chegar onde eu consegui acabar este ano."
Depois disso, ele - em meio aos risos - considera conseguir divertir-se com aquilo a que se dedica: "Número dois é andar de skate ao máximo."
Mudança para os EUA, sem esquecer as raízes
Em meio à Copa do Mundo de futebol, limita-se a dizer: "Sou do Sporting. Nasci assim e vou morrer do Sporting."
Gustavo irradia positividade e confiança. Respeita o tempo e todas as fases para, um dia, alcançar aquilo que quer. Justamente por isso mudou-se para os Estados Unidos, a fim de preparar-se para maiores conquistas. Sobre isso, comentou: "Os Estados Unidos oferecem oportunidades que você não vai ter em nenhum lugar do mundo. Vai ser melhor do que se eu ficar em Portugal."
Apesar de usar fones quando compete, confessa que não ouve música alguma. Concentra-se apenas no melhor que sabe fazer: andar de skate.
Um rapaz simples e focado. Não desvia do assunto quando questionado no final da entrevista sobre o objetivo da medalha Olímpica: "Queria muito um dia ser medalhista, muito, muito. Apesar de ser difícil, sei que é possível."
E completou: "Se você tem realmente um sonho e acredita, não há ninguém e nenhuma força que pode te conter. Só a sua cabeça. Se você mantê-la saudável, vai conseguir tudo o que quiser."