Giovanna Barth, líder da nova geração de Yaras do rugby: "Se você é dedicada, vai chegar onde quiser"

As Yaras venceram o sul-americano neste fim de semana pela 20ª vez e a nova geração tem tudo para manter o Brasil no topo do rugby sevens feminino da região. O Olympics.com conversou com a capitã da sua seleção juvenil, campeã recentemente dos Jogos Sul-americanos da Juventude.

6 minPor Virgílio Franceschi Neto
Giovanna Barth durante os Jogos Sul-americanos da Juventude Rosário 2022
(COB)

Aos 18 anos de idade, Giovanna Barth foi a capitã da seleção feminina juvenil de rugby sevens, as "Yarinhas" - como são conhecidas as atletas da equipe -, durante a vitoriosa campanha nos Jogos Sul-americanos Rosário 2022. O título é também resultado de um legado de bastante trabalho e vitórias das brasileiras nesse esporte. Um time que representa o futuro das "Yaras" (como é conhecida a seleção adulta), que recentemente conquistaram de forma consecutiva o 20º título sul-americano, em Saquarema.

A trajetória de uma bola de rugby é imprevisível depois que ela bate no chão. Tal como as coisas da vida, ela pode tanto ir para um lado quanto para o outro. Assim foi com Barth. Após um torneio nacional de categorias de base, foi convidada a viver em São Paulo, fazer parte de uma recém estabelecida equipe nacional juvenil. Há menos de seis meses, a rotina dela deu uma reviravolta e já vê a chance de estar em Paris 2024 não muito distante.

Em entrevista para o Olympics.com, a paranaense contou como tem sido toda essa experiência, ao deixar sua cidade para viver sonhos em um esporte que está muito longe de ser o mais popular do país.

Como uma garota brasileira encontra o rugby

O rugby foi apresentado a Giovanna Barth aos 14 anos, através de um projeto apresentado em seu colégio, a 'Escola Estadual João de Faria Pioli', em Maringá, norte do Paraná, em 2018. "Não me interessei, mas meus amigos sim. Como eu os acompanhava, passei a gostar", disse. A cidade já tinha uma equipe, o Hawks Maringá, campeão estadual em 2010 da variante de 15 jogadores, de onde saíram os instrutores que fizeram-na conhecer o esporte, em especial Lucas Viñas Vieira, o 'Bagé', sua principal referência até hoje.

"Com 14 anos a gente não conhece muitas coisas", comentou Barth sobre o porquê não ter se interessado pelo rugby em um primeiro momento. "Mas desde o primeiro treino me impressionou o respeito que se tem, o espírito coletivo e toda a paixão pela modalidade que os treinadores transmitiam". Com apenas dois meses de rugby foi para um campeonato e pôde perceber um companheirismo "jamais visto", segundo ela.

De Maringá para São Paulo

Com a espontaneidade de uma jovem, ela resume como foi tomar a decisão de deixar sua casa e a vida no interior do país, para mudar de estado e ir para uma grande metrópole viver do rugby: "Foi muito louco". Era dezembro de 2021, tinha 17 anos de idade e estava prestes a fazer o vestibular para o curso de agronomia. Lembra-se quando Margrith Weiss, da comissão técnica da seleção paranaense, foi comunicar-lhe que a treinadora das 'Yarinhas', Rafaela Turola, queria que fizesse parte da equipe nacional. Não titubeou e na hora respondeu: "Eu vou".

No entanto, era preciso viver em São Paulo. A mãe, Maristela, não se opôs. "Ela sempre me apoiou em tudo, mas não acreditou quando eu disse e foi conversar com a Mar (Margrith)." Afinal, é a decisão que pode definir toda uma vida. "No dia que fui embora, ela chorou...mas hoje está bem tranquila", completou Barth.

O rugby como propósito

Nova cidade, nova casa, novas pessoas em sua volta e uma nova rotina. Novidades fora de campo e dentro dele também. Acostumada na posição de abertura, a treinadora Turola experimentou a maringaense como scrum-half: "Melhor posição da vida, não quero trocar nunca", revelou Barth.

Ela e as colegas de seleção juvenil já fazem ideia de onde chegaram, o que representam e as reponsabilidades que têm: "Significa muito estar aqui (em São Paulo), treinando no NAR (Núcleo de Alto-Rendimento)", descreveu. Encara o dia-a-dia com naturalidade, faz e se dedica ao que gosta.

Aliás, dedicar-se de maneira profissional a um esporte longe de ser o mais popular, não é problema para ela. Com maturidade, não se concentra nos motivos de o rugby não ser conhecido. Pelo contrário, vê a sua jornada como uma oportunidade de levá-lo para mais pessoas. Faz disso um propósito.

(William Lucas/COB)

A campanha em Rosário

Os Jogos Sul-americanos Rosário 2022, entre os meses de abril e maio, acabaram por ser o primeiro compromisso oficial das Yarinhas no ano.

Pouco tempo desde a sua mudança para a capital paulista. Muito por conta disso, Barth demonstrava segurança e firmeza nas tomadas de decisão e espírito de liderança, algo que diz ter trazido desde a infância, por conta da criação. Tudo isso impressionou a comissão técnica das Yarinhas, que não teve dúvidas em escolhê-la como capitã da equipe. "É algo que trago do meu clube e não é um peso...gosto de liderar, de fazer todas se sentirem parte de um time", refletiu a paranaense.

Nos Jogos, a conquista da medalha de ouro aconteceu após seis vitórias. Na primeira partida, 40 a 0 sobre a Colômbia, depois um 42 a 0 no Chile, e 26 a 12 em cima da Argentina. Na semifinal, um sonoro 53 a 0 sobre as paraguaias e, na finalíssima, 21 a 10, em outro triunfo sobre as argentinas. Ao todo foram 235 pontos a favor e 22 contra.

"Fomos um time de verdade. Um time de família, com espírito coletivo. Em campo pensávamos a mesma coisa, tudo fluía naturalmente, pensávamos como uma só", avalia Barth sobre os fatores que levaram as Yarinhas para o título.

O sonho Olímpico

Barth quer que o rugby tenha mais reconhecimento. "Ele (o rugby) leva os valores para o ser humano, como disciplina e respeito. Me fez crescer muito, você cria responsabilidades e desenvolve maturidade", comentou. Ela percebe a paixão em cada um que se envolve com o esporte, toda a luta, trabalho e dedicação envolvidos. Nesse momento, Barth mencionou as Yaras, a seleção brasileira adulta: "elas dão a vida, elas merecem o reconhecimento".

Fazer parte das Yaras é um dos seus sonhos: "Não vejo a hora", comenta. Um sonho que poderá levá-la a outro, que é o de estar em Paris 2024. Durante Tóquio 2020 torceu pela seleção feminina na televisão e compartilhou: "Eu olhava aquilo e dizia 'preciso estar lá', sem nem imaginar que em menos de seis meses fosse viver em São Paulo e seria a capitã da seleção juvenil."

Barth antes de tudo quer que o rugby seja reconhecido. Com o tempo ela tem a certeza de que os resultados dentro e fora das quatro linhas virão, o que vai contribuir com a imagem do esporte. "O rugby é magnífico", comenta.

Ao som de Bon Jovi, antes dos treinos diários lembra da família e pouco a pouco entra nas atividades do cotidiano. Ao interagir com as amigas, dá as sua risadas, que a fazem se sentir leve para encarar a distância de casa e tudo aquilo que vier pela frente.

Nada pode ser impossível para essa jovem, que há não muito tempo viu pela TV as Yaras nos Jogos do Japão, e que não muito depois já liderava em campo a seleção juvenil para um título que tem tudo para ser o primeiro de muitos de uma promissora carreira.

Sem rodeios e certa do que quer, conclui: "Se você é dedicada, esforçada, você vai chegar onde quiser."

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