David Pina fica com o bronze inédito para Cabo Verde, após perder a semifinal do boxe em Paris 2024

Por Leandro Stein e Virgílio Franceschi Neto
5 min|
David Pina, de Cabo Verde
Foto por Richard Pelham/Getty Images

David Pina encerrou sua participação em Paris 2024, mas deixou um capítulo inédito à história de Cabo Verde. O pugilista se tornou o primeiro atleta de seu país a garantir uma medalha nos Jogos Olímpicos, ao avançar às semifinais da categoria masculina até 51kg no boxe. Porém, Pina não conseguiu ir além. Neste domingo, 4 de agosto, ele perdeu a luta contra o uzbeque Hasanboy Dusmatov, por decisão unânime. Ficará com o bronze.

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David Pina teve dificuldades contra Dusmatov desde o primeiro round, com a vitória do uzbeque segundo quatro árbitros. O segundo round foi ainda mais dominante do asiático, vencedor segundo os cinco juízes. Tal superioridade se repetiu no terceiro round. Ao final, quatro árbitros deram a vitória por 30 a 27 para Dusmatov e apenas um assinalou 29 a 28, com os 5-0 para o uzbeque.

David Pina estava em sua segunda participação nos Jogos Olímpicos. Em Tóquio 2020, o caboverdiano perdeu nas oitavas de final. Já em Paris 2024, venceu o tailandês Thitisan Panmot e o zambiano Patrick Chinyemba, campeão africano, para gravar seu nome na história. Outra pugilista de Cabo Verde nos Jogos Olímpicos Paris 2024, Ivanusa Moreira parou nas oitavas de final.

David Pina se tornou também o segundo atleta da África lusófona a garantir uma medalha Olímpica. Antes dele, apenas a moçambicana Maria Mutola tinha subido ao pódio, com um ouro e um bronze nos 800m rasos do atletismo.

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David Pina e o "fato que nunca mais vai ser apagado"

Depois da luta, David Pina conversou com exclusividade com o Olympics.com. O pugilista contou que seu foco ainda estava no ouro, mas, terminada sua participação, vai poder desfrutar de seu feito histórico:

"Eu ainda não caí na real para ver que eu consegui um fato histórico, brutal, que nunca mais vai ser apagado. Porque, após a minha conquista ontem do bronze, eu fui logo treinar. Eu estava com foco no ouro e ainda não tinha tempo para celebrar o meu bronze”, declarou Pina.

“Mas hoje, sim. Eu estou muito feliz, por conseguir algo que há 28 anos ninguém conseguiu e vai entrar na história de África. Nos lusófonos, vai ser a terceira medalha conseguida da história, de sempre. Eu estou muito feliz por esta conquista”.

Perguntado sobre quem motiva sua trajetória, Pina apontou “seus filhos e o seu país”. Deixa um grande exemplo de resiliência, para ser seguido por suas crianças, pelos compatriotas caboverdianos e muita gente além: "O legado é que tudo é capaz, basta lutar pelo vosso sonho. Os momentos difíceis existem, mas é para serem quebrados, para serem superados."

Cabo Verde nos Jogos Olímpicos Paris 2024

David Pina, de Cabo Verde

Foto por (Richard Pelham/Getty Images)

O apoio do treinador fez a diferença para Pina não desistir

Em dezembro, David Pina cogitou largar o boxe. O caboverdiano pretendia priorizar a necessidade de sustentar os dois filhos, se desdobrando em empregos paralelos em obras. Motivado por seu treinador, não desistiu do esporte e a vaga nos Jogos Olímpicos foi assegurada na última chance, durante o Pré-Olímpico de Bangcoc. Já em Paris 2024, Pina fez história.

"Muitas vezes até cheguei a desistir. Eu deixei de treinar para ir trabalhar, porque só a treinar eu não consigo pôr comida na mesa, não consigo pagar as minhas despesas. Eu deixei o treino. Graças a Deus o meu treinador sempre viu o potencial em mim”, contou Pina, com exclusividade ao Olympics.com.

O treinador mencionado por David Pina é Bruno Carvalho, do Privilégio Boxing Club, em Lisboa. Convenceu o caboverdiano de que é um “diamante” e que tinha potencial nos Jogos Olímpicos. Transformou-o em bronze eterno para Cabo Verde.

Os dois se conheceram quando David Pina se preparava aos Jogos Olímpicos Tóquio 2020. O caboverdiano gostou da metodologia de Carvalho e pediu para ser treinado por ele rumo a Paris 2024. Para tanto, Pina deixou Cabo Verde e se mudou para Lisboa. O pugilista precisou de sacrifícios, mas ganhou mais experiência nos ringues e um apoio incondicional. O orgulho de Carvalho é evidente por seu pupilo.

“O país dele nunca tinha tido nenhum combate ganho, nenhum diploma Olímpico, muito menos medalha. Tivemos um feito brutal”, comentou Carvalho, com exclusividade ao Olympics.com. “Tivemos que comer muita terra para chegar aqui e para nós foi um grande triunfo, um grande mérito. Eu não posso estar mais feliz.”

“Eu sonhava que ia acontecer, mas nós tivemos um processo muito difícil. Foi muita superação. E ainda bem que aconteceu, porque é mais que merecido. Aquele menino merece tudo. Se há alguém que merece, é aquele menino. Eu tenho só orgulho dele, é só orgulho.”