Com tanta tradição e títulos, a seleção brasileira masculina de vôlei costuma ter jogadores mais experientes como líderes. No entanto, a fase do oposto Darlan Souza é tão boa, que ele está assumindo essa posição aos 21 anos nos Jogos Pan-Americanos Santiago 2023.
Na estreia do Brasil, com 3x0 diante da Colômbia, Darlan anotou 16 pontos, liderando as estatísticas brasileiras, da mesma maneira que fez no Pré-Olímpico no Rio de Janeiro, em que a equipe obteve uma vaga para Paris 2024.
Ao Olympics.com, Darlan disse que ainda está assimilando o peso da camisa amarela com seu novo status.
"Ainda não caiu a ficha. Tenho um pouco de noção, sim, mas sempre brinco que sou muito desligado com essas coisas. Eu falo que 'só fui lá e joguei!'. Eu me sinto muito leve, então acaba que não sinto tanto isso."
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O lema de Darlan: 'Não precisamos de memórias'
Nos diversos momentos em que o Brasil esteve em apuros no Pré-Olímpico, Darlan chamou a torcida para jogar junto e correspondeu com bolas decisivas. O mais importante, segundo o oposto, é não se abalar com os erros.
"Sei que não vou rodar bola toda hora, não vou fazer ponto 100% das vezes. Sei que o pessoal do outro lado [da quadra] também é bom, são os melhores dos países. Tem que ter noção de que... 'errei, paciência', focar sempre na próxima, esquecer as coisas ruins e pensar adiante sempre", afirmou.
Darlan aprendeu essa filosofia com o esporte, mas também com os animes. O jogador tem tatuado no braço em japonês o lema "Não precisamos de memórias", de "Haikyuu!!", cujo tema é o vôlei.
"Acho que [a frase] encaixa muito no voleibol. Em certas situações, tem que esquecer. Se errou uma bola, se fez algo de errado, esquece. Foca nas coisas boas que você fez, foca nas coisas que você acertou. Ajuda bastante dependendo da situação."
A alusão mais conhecida de Darlan aos animes é o 'jutsu', sequência de gestos de "Naruto" que ele realiza antes de seus saques para ativar seu poder pessoal. "Tem alguns ensinamentos de animes que me ajudaram bastante."
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Darlan: disputa fraterna com Alan puxa os dois para cima
Darlan foi "uma criança que não socializava muito" e seus pais queriam que ele praticasse um esporte, assim como Alan, seu irmão mais velho, que também é oposto na seleção brasileira. O caçula chegou a tentar o futebol, mas se encontrou na quadra.
Mesmo assim, era difícil competir com Alan... até agora. "É uma diferença de idade de oito anos, então não tinha dessa de eu ganhar, porque o físico dele era melhor, a mentalidade. A distância era muito grande e ele tinha capacidade de muitas coisas que eu não tinha", afirmou.
"Agora eu posso bater de frente com ele, vamos colocar assim. Nossa irmandade é muito boa por conta disso, porque se eu estiver de titular, ele vai estar orgulhoso de mim. Tenho certeza de que, quando olho para o banco, ele está com aquele olhar de admiração e é a mesma coisa quando ele está jogando. Eu saía, ele entrava e eu vibrava do mesmo jeito, porque é um orgulho para a nossa família", comentou Darlan, sobre a alternância de posição que ocorreu entre os irmãos no Pré-Olímpico.
"É uma disputa muito boa, porque no treino eu grito na cara dele, ele olha para mim e fala que vai bater por cima na próxima, 'você não vai passar por mim'. É muito saudável, porque puxa os dois para cima, de um sempre querer superar o outro", acrescentou.
Darlan: 'Gosto de jogar com torcida contra'
O duelo fraterno é bom para a seleção brasileira, mas causa um certo sofrimento à Dona Aparecida, mãe dos jogadores.
"Ela não sabe para quem torcer. Óbvio que ela quer que os dois filhos estejam dentro de quadra, mas ela tem noção de que isso não pode acontecer. Mas eu acho que ela torce um pouco mais pra mim... caçula, né? Eu sou o caçula, então isso acaba que eu sou o favorito", brincou Darlan.
Acima de tudo, Alan é um espelho para Darlan, por ter aberto as portas do esporte para o irmão.
"Eu sei o que ele passou, de onde ele veio, o que ele fez. Nossa condição antes de tudo acontecer não era muito boa. Ele catou latinha, trabalhava meio período para arranjar um dinheiro a mais para poder treinar, porque a gente morava longe. Eu aprendi isso com ele: se você quer algo, vá e faça, porque ninguém vai fazer por você. Se realmente quer, vai dar um jeito", elogiou.
Alan não está em Santiago, mas Darlan tentará ajudar o Brasil a chegar ao ouro com seu jogo e sua própria personalidade.
"Eu gosto de jogar com torcida contra. Vou tentar chamar os brasileiros que estão aqui, mas se não tiver, vou do meu jeitinho extravasar para ver se o pessoal do Chile abraça o Brasil", prometeu.
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