Copa do Mundo Feminina 2023: Marta se despede dos Mundiais após 20 anos de uma histórica trajetória

Aos 37 anos, a camisa 10 disputou seu último jogo em Copas do Mundo diante da Jamaica e deu adeus à competição da qual é a maior artilheira da história

4 minPor Fernanda Zalcman
Marta 
(Martin Rose/Getty Images)

Chegou ao fim uma das histórias mais vitoriosas e inspiradoras de todos os tempos. Nesta quarta-feira (2), aos 37 anos, a Rainha Marta disputou seu último jogo de Copa do Mundo Feminina, quando o Brasil empatou com a Jamaica e acabou eliminado do Mundial de 2023. Foram 20 anos de uma trajetória histórica e que nunca será esquecida.

Nascida na cidade de Dois Riachos, no estado de Alagoas, não demorou muito para Marta abrir as asas e conquistar o mundo. Com apenas 17 anos de idade, a jovem nordestina ganhou a chance de disputar sua primeira Copa do Mundo Feminina, em 2003.

A primeira convocação veio em uma época em que o futebol feminino era pouco falado, como ela mesma relembrou, emocionada, em coletiva de imprensa durante a Copa de 2023:

"Sabe o que é legal? Eu não tinha uma ídola no futebol feminino. Vocês (imprensa) não mostravam o futebol feminino. Como eu ia entender que eu poderia ser uma jogadora, chegar à seleção, sem ter uma referência? Hoje a gente sai na rua e os pais falam: ‘minha filha quer ser igual a você’. Hoje temos nossas próprias referências. Não teria acontecido isso sem superar os obstáculos. É uma persistência contínua. Há 20 anos, em 2003, ninguém conhecia a Marta. Em 2022, viramos referência para o mundo inteiro".

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Marta é a maior artilheira da história das Copas do Mundo

(Buda Mendes/Getty Images)

Marta: seis Copas do Mundo Feminina e 17 gols marcados

Logo na estreia na maior competição do planeta, Marta mostrou seu cartão de visitas: marcou três gols em quatro jogos, quando tinha apenas 17 anos. E esse seria só o começo dessa história.

Quatro anos depois, a alagoana chegou à Copa do Mundo de 2007 já como a melhor jogadora do mundo. Embalada pela histórica medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, a camisa 10 comandou a também histórica campanha do Brasil no Mundial, que terminou com o vice-campeonato. Marta foi brilhante e balançou as redes sete vezes em seis jogos, já entrando para a lista de maiores goleadoras da história do torneio.

Nos anos seguintes, ela foi eleita a melhor do mundo mais quatro vezes. Na Copa do Mundo de 2011, entrou em campo já como uma lenda da modalidade e anotou mais quatro gols. No Mundial seguinte, deixou mais um no fundo da rede.

Mas foi em 2019, em sua quinta Copa do Mundo Feminina, que a camisa 10 marcou dois gols e se tornou a maior artilheira da histórias dos Mundiais, masculino e feminino, com 17 gols em 20 jogos.

Esta edição também foi marcada pelos protestos contundentes de Marta pela igualdade, fato que também entrou para a história. A seis vezes melhor jogadora do mundo entrou em campo sem patrocínio na chuteira. No lugar, um símbolo da igualdade de gênero. Após a eliminação do Brasil nas oitavas, a brasileira deu uma emocionada entrevista, que também ficou marcada na memória.

A gente pede tanto, pede apoio, mas a gente também precisa valorizar. A gente está sorrindo aqui e acho que é esse o primordial, ter que chorar no começo para sorrir no fim. Quando digo isso é querer mais, treinar mais, estar pronta para jogar 90 e mais 30 minutos e mais quantos minutos forem necessários. É isso que peço para as meninas. Não vai ter uma Formiga para sempre, uma Marta, uma Cristiane. O futebol feminino depende de vocês para sobreviver. Pensem nisso, valorizem mais. Chorem no começo para sorrir no fim.

Chuteira de Marta na Copa do Mundo Feminina de 2019 com sinal de igualdade

(Alex Grimm/Getty Images)

Marta se despede da Copa do Mundo Feminina em 2023

Vinte anos se passaram desde a estreia em Copas do Mundo. Anos de muitas conquistas, que colocam Marta como uma das maiores esportistas de todos os tempos, para além do futebol.

Em 2023, ela retornou aos gramados após uma grave lesão sofrida no ano anterior, e foi para o Mundial da Austrália e da Nova Zelândia ao lado de jovens atletas, que a têm como inspiração. Foi reserva nos dois primeiros jogos da fase de grupos e titular no último jogo contra a Jamaica. 

Assim como dentro de campo, Marta foi a maestra do time, mas desta vez, à beira do gramado também. Foi ovacionada pela torcida, arrastou jornalistas do mundo inteiro para sua entrevista coletiva e até arrancou olhares apaixonados da quarta árbitra na partida de estreia. O título - merecido - não veio, mas isso não diminui em nada o seu tamanho.

Porque essa é Marta: a rainha do futebol e o orgulho de um país. Mais do que uma jogadora, é símbolo de uma luta e uma referência mundial. Por enquanto, ela vai seguir jogando e encantando por aí - quem sabe no Brasil. Mas fato é que ela já deixa saudade.

Marta se despede das Copas do Mundo aos 37 anos

(Buda Mendes/Getty Images)
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