De uma festa caseira no Bronx ao Príncipe Charles: a evolução e o poder unificador do breaking

Olympic Qualifier Series
7 minPor Lena Smirnova
Feeling the vibe of breaking 
(Getty)

Antes de Michael Jackson fazer o moonwalk ao som das batidas viciantes de “Billie Jean” e Missy Elliott mostrar ao mundo o “Work It” com uma série de movimentos excêntricos de hip-hop, houve uma festa em 1973 em um apartamento no Bronx onde as primeiras batidas do breaking foram ouvidas.

O DJ jamaicano Kool Herc, apelido de Clive Campbell, foi o MC daquela noite – uma cortesia à irmão que estava dando uma festa na Avenida Sedgwick, 1.520. Com dois toca-discos a sua frente, o homem agora chamado de padrinho do hip-hop descobriu que poderia inspirar os convidados a dançar ao estender os intervalos percussivos nas músicas e alternando entre os discos.

Nasceu uma nova técnica de DJ e, com ela, uma nova forma de dança que mais tarde ficaria conhecida como breaking.

Os movimentos do breaking se inspiram em fontes tradicionais, como a dança africana, bem como da cultura pop. Os Irmãos Nicholas, Fayard e Harold, estrearam alguns desses movimentos já na década de 1930, e “Soul Brother nº 1”, James Brown também é considerado uma grande inspiração.

Com o tempo, os movimentos ficaram mais fortes e os nomes mais curtos. Seguindo as tendências das gírias da época, o breakdance foi comprimido para breaking, e os breakdancers para B-Boys e B-Girls. A forma da dança alcançou o mainstream, reivindicando um papel de destaque na cultura hip-hop e um lugar nos Jogos Olímpicos.

Saiba mais sobre a evolução do esporte, do Flashdance ao Vin Diesel, enquanto B-Boys e B-Girls se preparam para ocupar o centro do palco na Série de Classificação Olímpica, transmitida ao vivo no Olympics.com e no app oficial Olimpíadas (sujeito a alterações).

Que sensação: a evolução dos movimentos de breaking

Embora a imagem do breaking hoje seja um B-Boy ou B-Girl girando no chão, inicialmente a dança era toda sobre “top rock” e movimento de pés.

A dupla do Bronx Keith e Kevin Smith, conhecidos como Os Gêmeos Lendários, foi quem levou os movimentos para o chão, celebrando o surgimento do “down rock” – uma mistura de movimentos poderosos como giros, piruetas e o icônico freeze (congelamento).

Quaisquer que fossem os movimentos que os dançarinos apresentassem, o elemento comum era a sensação de ir para batalha na pista de dança.

Alimentando essa competitividade, algumas equipes proeminentes começaram a surgir. Rock Steady Crew, Zulu Kings, Dynamic Rockers e New York City Breakers foram os primeiros a aderirem essa mentalidade de batalha.

Eles também expandiram o alcance da dança com movimentos nunca antes vistos, como giros de cabeça e deslizamentos de mãos.

As estrelas pop e Hollywood perceberam.

Em 1983 – mesmo ano em que Michael Jackson foi uma sensação global com o moonwalk – Rock Steady Crew apareceu nas telas do cinema com Flashdance – Em Ritmo de Embalo. Um dos membros da equipe, Crazy Legs, apelido de Richard Colon, até serviu como dublê de Jennifer Beals na cena em que sua personagem, soldadora durante o dia e dançarina à noite, faz um teste para um conservatório de balé.

Breaking nos anos 80: um mosaico de culturas e o prazer culposo da realeza

Um ano depois de Flashdance, outro filme de Hollywood de alto orçamento, A Loucura do Ritmo (Beat Street em inglês), chegou às telonas.

Contando a história de dois irmãos do Bronx, o filme não apenas apresentou batalhas dinâmicas, mas também popularizou outros aspectos da cultura hip-hop, incluindo o grafite e a moda. Lá se vão as polainas e collants pretos de Flashdance. A Loucura do Ritmo introduziu uma nova vibe hip-hop – tênis, jaquetas de couro, jaquetas com vários zíperes, óculos escuros envolventes e meias-calças de leopardo.

Era um visual fluido que encorajava a individualidade – assim como a própria forma de dança

Outras comunidades juntaram-se às batalhas, os dançarinos misturavam sua própria origem nos movimentos. Os dançarinos chineses davam chutes de kung fu, os brasileiros entraram com a ginga suave da capoeira. Ginastas aumentaram a complexidade dos movimentos acrobáticos, enquanto dançarinos de outros estilos inseriram trechos de Lindy Hop e do disco.

A cena do breaking se orgulhava de ser acolhedora com todos. Uma lenda ainda afirma que gangues de rua rivais, que devastavam a cidade de Nova York na época, começaram a travar batalhas de breking para resolverem suas disputas.

A atração do breaking se espalhou para além dos bairros mais violentos de Nova York.

Escapando ao rugido dourado do centro financeiro dos EUA, Michael Holman deixou seu emprego em Wall Street e lançou um show popular de hip-hop em um clube de Manhattan. O Rocky Steady Crew foi um dos primeiros a se apresentarem lá. Mais tarde, eles se apresentariam diante da Rainha Elizabeth II.

O filho da rainha, hoje o Rei Charles III, também não resistiu à misteriosa atração do breaking.

Vestido em um terno formal, o então Príncipe Charles estava visitando o curso Youth Meets Industry em 1985 quando foi convidado para a pista de dança. Seguindo o exemplo do B-Boy Dwayne Smith, o futuro rei se soltou com alguns movimentos de pés e depois ficou de joelhos para um pouco de “down rock”.

Guia 101 de Vin Diesel

O breaking atingiu o auge de sua popularidade na década de 1980 com diversas celebridades, hoje conhecidas por outras iniciativas, aderindo ao movimento.

Lionel Richie encerrou os Jogos Olímpicos de 1984 em Los Angeles com seu clássico “All Night Long”, apresentando uma equipe de breaking como parte de seus dançarinos.

Antes de dirigir carros na franquia Velozes & Furiosos, Vin Diesel mostrava aos aspirantes da dança como executar o worm (minhoca) e outros movimentos em um vídeo tutorial “Breakin’ in the USA”.

Também estrela em filmes de ação, Jean-Claude Van Damme dançou na primeira aparição de sua carreira no cinema vestindo uma camisa preta no filme Breakdance (Breakin’ em inglês), e mais tarde lamentou que seus movimentos não tenham sido incluídos na versão final.

O renascimento do breaking: Britney, Madonna e Vaticano

Pensava-se que o breaking estivesse em declínio nos últimos anos, mas seguidores leais garantiram que a dança não desaparecesse. A primeira grande competição de breaking, a Batalha do Ano, foi criada em 1990, quando vários B-Boys originais saíram da aposentadoria para rejuvenescer a cena.

A cultura pop também aproveitou o poder do breaking, com grandes estrelas como Britney Spears e Usher apresentando B-Boys e B-Girls em shows ao vivo.

A Rainha do Pop e principal inspiração de Britney Spears, Madonna, também se contagiou graças a seu filho Rocco Richie, que exibiu seu estilo B-Boy no palco em um show na Arena New Orleans aos 12 anos – e supostamente ensinou à mãe famosa alguns desses movimentos.

Em 2004, o breaking capturou um público ainda mais amplo quando o Papa João Paulo II assistiu a um show no Vaticano.

A estreia Olímpica do breaking e a Olympic Qualifier Series

A Federação Mundial de Dança Esportiva realizou o primeiro Mundial de Breaking em 2013, colocando-o no caminho para se tornar um esporte Olímpico.

O breaking foi apresentado nos Jogos Olímpicos da Juventude de 2018 em Buenos Aires e oficialmente incluído no programa Olímpico de Paris 2024.

Um total de 33 B-Boys e B-Girls competirão em Paris 2024, com quase metade das cotas já distribuídas. As próximas 14 vagas, sete para B-Boys e sete para B-Girls, serão disputadas na Série de Classificação Olímpica, começando em Xangai, na República Popular da China, em 16 de maio, e continuando em Budapeste, na Hungria, em 20 de junho.

Não perca este momento histórico na evolução do breaking. Assista a todos os eventos ao vivo no Olympics.com e no aplicativo oficial Olimpíadas (sujeito a alterações).

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