Brasil faz jogo dos sonhos contra Espanha e está na final do futebol feminino em Paris 2024

Por Leandro Stein
9 min|
Tarciane comemora
Foto por (Photo by Alex Livesey/Getty Images)

Talvez nem o mais otimista torcedor do Brasil esperasse uma vitória tão contundente na semifinal do futebol feminino dos Jogos Olímpicos Paris 2024. A Seleção está de volta à decisão Olímpica após 16 anos, e sem deixar um pingo de dúvidas sobre seus méritos. Nesta terça-feira, 6 de agosto, as brasileiras viveram uma noite espetacular em Marselha: golearam a Espanha, campeã mundial, por 4 a 2. E olha que o placar ficou barato, apesar dos gols no fim das espanholas. A final será um reencontro com os Estados Unidos.

É fato que o Brasil vinha com os ânimos inflados depois da vitória emocionante sobre a anfitriã França nas quartas de final. Ainda assim, o time lidava com muitas lesões e desfalques importantes. A Espanha era uma adversária temível, por sua qualidade e pela vitória por 2 a 0 sobre as brasileiras na fase de grupos, com o time misto. Nada disso, porém, pintou no gramado em Marselha. O que se viu foi uma atuação dos sonhos para o Brasil. Está na final, marcada para o próximo sábado, 10 de agosto, às 12h (de Brasília).

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A postura do Brasil foi perfeita. O time pressionou muito sem a bola e foi veloz para atacar. Um erro da Espanha permitiu o primeiro gol brasileiro, mas o time perdeu ótimas chances de ampliar até fazer o segundo, nos acréscimos do primeiro tempo. O terceiro gol surgiu na segunda etapa, num contra-ataque. Já no final, a Espanha descontou, mas ainda coube o quarto gol no fim. Ludmila, Gabi Portilho e Tarciane fizeram jogos excepcionais, também com boas defesas da goleira Lorena.

O Brasil volta a garantir uma medalha Olímpica no futebol feminino, sua terceira, após conquistar a prata em Atenas 2004 e Beijing 2008. A chance do ouro vem contra as algozes das duas finais anteriores, a seleção dos Estados Unidos. Além disso, essa é a sexta edição Olímpica seguida com a seleção brasileira finalista no futebol – contando também as decisões masculinas de Londres 2012, Rio 2016 e Tóquio 2020.

Futebol em Paris 2024

A escalação do Brasil

O técnico Arthur Elias precisou quebrar a cabeça para montar a escalação. O Brasil tem uma série de desfalques por lesão. Além dos cortes de Tamires e Antônia, Rafaelle e Tainá também estavam indisponíveis por questões físicas. Já Marta pegou dois jogos de suspensão por sua expulsão contra a Espanha na fase de grupos, em gancho mantido mesmo após a tentativa de recurso da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

O Brasil foi escalado com Lorena no gol, enquanto a defesa reunia Lauren, Tarciane e Thaís. O meio-campo trazia Vitória Yaya e Angelina, além de Ludmila e Yasmim nas alas. Jhennifer apoiava Priscila e Gabi Portilho no ataque. O Brasil só tinha seis jogadoras no banco de reservas.

Já a Espanha vinha com força máxima, diferentemente do que aconteceu contra o Brasil na fase de grupos, quando poupou jogadoras após a classificação. Aitana Bonmati, Jennifer Hermoso Sara Paralluelo e Mariona Caldentey lideravam o time, com a opção de Alexia Putellas no banco.

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O primeiro tempo dos sonhos do Brasil

A partida começou muito favorável para o Brasil. Um erro da Espanha, afinal, garantiu o gol logo aos seis minutos. Numa bola recuada, a goleira Cata Coll era pressionada por Priscila e saiu no chutão. A espanhola carimbou Irene Paredes e a bola voltou ao gol vazio. Gol contra. As espanholas sentiram o lance, ainda mais diante da postura agressiva das brasileiras. Marcavam no campo de ataque e aceleravam com a bola.

Quase o segundo gol veio aos dez minutos. Ludmila era bastante acionada pelo lado direito e, num passe rasteiro, Cata Coll espalmou para o meio da área. Gabi Portilho finalizou, mas por cima da meta. Depois disso, a Espanha melhorou e passou a exercer um domínio mais claro da posse. Ainda assim, sem criar chances claras e vulnerável ao rápido ataque do Brasil. Num ótimo lançamento de Tarciane, Ludmila invadiu a área e chutou em cima de Coll. Depois, Yasmim acionou Gabi Portilho, mas a defesa travou o chute.

A Espanha só assustou o Brasil de verdade aos 29. Sem conseguir infiltrações, as espanholas precisavam arriscar de longe. Hermoso mirou o canto, mas Lorena fez mais uma ótima defesa, grande destaque da campanha brasileira até o momento. Apesar do susto, as jogadas da Seleção continuavam saindo. Faltava apenas caprichar um pouco o passe final. Os contra-ataques saíam e deixavam a Espanha em apuros.

Quando o Brasil acertou o passe, aos 37, Priscila desperdiçou uma grande chance de ampliar. Yaya deixou a atacante de frente para o gol, mas ela tentou tirar de Cata Cool e chutou para fora. E não que a Espanha respondesse. A marcação do Brasil fazia um trabalho excepcional para frear as trocas de passes espanholas no campo ofensivo. Resiliência que valeu o segundo gol antes do intervalo.

Mais um contragolpe deixou o Brasil em excelentes condições de marcar. Se os melhores lances do primeiro tempo surgiam pelo lado direito, desta vez a brecha pintou na esquerda. Yasmim avançou pela lateral e deu um cruzamento cirúrgico para Gabi Portilho, aproveitando a linha de impedimento. A heroína da classificação sobre a França recebeu livre e, de primeira, chapou no canto, desta vez sem perdoar.

A fase de grupos do Brasil

Brasil comemora o primeiro gol

Foto por (Photo by Clive Mason/Getty Images)

Com muita luta, a história se cumpre no segundo tempo

A Espanha voltou para o segundo tempo com duas alterações: Oihane Hernández e Athenea del Castillo entraram nos lugares de Olga Carmona e Eva Navarro. Nada que tenha resolvido os problemas das espanholas. O terceiro gol do Brasil poderia ter vindo aos quatro minutos. A defesa bateu cabeça e Gabi Portilho apareceu sozinha. Tentou tirar de Cata Coll e Ludmila não alcançou a bola para finalizar. Irene Paredes saiu na sequência e Laia Alexandri entrou.

Ludmila fazia uma partida fenomenal. Quase a ponta anotou um golaço aos sete minutos. Soltou um chutaço de canhota da intermediária e Cata Coll espalmou por cima. Na cobrança de escanteio desviada, Jhennifer ainda ficou a um triz de completar na pequena área e fazer o terceiro. Quando a Espanha chegou, as brasileiras não brincaram na defesa e rifaram o perigo. Já aos dez minutos, as primeiras alterações trouxeram Adriana e Duda Sampaio, nos postos de Ludmila e Angelina, antes de Ana Vitória substituir Jhennifer.

A partida perdeu ritmo na sequência, com atendimentos médicos. A goleira Lorena voltou a sentir dores no joelho, como em outros jogos, mas se agigantou mais uma vez contra Hermoso aos 25, num chute de longe que a goleira foi buscar. E o lance foi decisivo porque, após o escanteio espanhol, um contra-ataque fatal do Brasil rendeu o terceiro gol. Priscila arrancou pela esquerda e rolou para Adriana. A substituta carimbou o travessão, mas o rebote ficou vivo e Gabi Portilho ajeitou para a própria Adriana concluir.

Gabi Nunes e Kerolin foram as últimas trocas do Brasil, aos 32. O desafio neste momento era evitar uma reação da Espanha, tendo em vista a reação na fase anterior contra a Colômbia. Uma arma foi a entrada da craque Alexia Putellas, na vaga da zagueira Laia Codina. Neste momento, a Roja tinha mais profundidade e acionava a linha de fundo. Os cruzamentos eram mais frequentes. Aos 40, as espanholas descontaram a partir de um escanteio. Na bola escorada, Salma Paralluelo definiu de cabeça. Logo depois, Putellas apareceu. Parou em Lorena. Primeiro deu um leve desvio em bola no travessão e depois pegou outra pancada de longe.

O gás do Brasil, porém, não tinha acabado. O que poderia ser um sufoco virou alívio, com o quarto gol. Quando o relógio acabava de passar dos 45, Kerolin forçou mais um erro. Roubou a bola na intermediária, disparou e bateu por baixo de Cata Coll. A festa era concreta. Os acréscimos de 15 minutos, porém, exigiam concentração. A Espanha não deixou de lutar e descontou de novo aos 57, com mais um de Paralluelo após escanteio. Apesar disso, a vitória estava nas mãos. Não houve receio que impedisse o Brasil finalista.

EUA voltam à final após 12 anos

A seleção dos Estados Unidos foi a primeira a se classificar para a final dos Jogos Olímpicos Paris 2024. No duelo entre duas potências históricas do futebol feminino, as americanas derrotaram a Alemanha por 1 a 0, na prorrogação. O desempenho dos EUA é animador, especialmente pela maneira como a treinadora Emma Haynes cria uma identidade de jogo em meio ao processo de renovação.

O primeiro tempo não teve muitas emoções. Os EUA tiveram mais volume ofensivo, mas sem dificultar à goleira Ann Katrin Berger. A chegada mais perigosa foi da Alemanha, num chute cruzado de Jule Brand aos 24 minutos, que a goleira Alyssa Naeher espalmou. As alemãs até melhoraram para o segundo tempo, mas as americanas conseguiram ser mais agressivas. Mallory Swanson chegou a driblar a goleira aos 16, mas, pressionada, chutou para fora. A atacante também teve um gol anulado por impedimento aos 40.

Os Estados Unidos conseguiram o gol no primeiro tempo extra. Aos cinco minutos, Swanson esticou o passe e Sophie Smith definiu na saída da goleira Ann Katrin Berger. Smith e Trinity Rodman ainda tiveram chances de ampliar antes do intervalo. Já no segundo tempo extra, a Alemanha partiu para a pressão. A goleira Naeher fez milagre para evitar o empate, numa cabeçada livre de Laura Freigang já aos 14 minutos. Sophie Smith também perdeu uma chance clara de ampliar, mas o erro não evitou a classificação.

Os EUA disputarão sua sexta final no futebol feminino nos Jogos Olímpicos, a primeira desde Londres 2012. A seleção americana possui quatro medalhas de ouro. Mais recentemente, foi bronze em Tóquio 2020. A Alemanha tentará a quinta medalha, com três bronzes e o ouro na Rio 2016.