Auriol Dongmo confiante no Campeonato Mundial de Atletismo 2023: 'Não preciso provar nada'

Arremesso por arremesso, centímetro a centímetro, Auriol Dongmo (POR), do arremesso do peso, trabalha e ajuda a manter Portugal na vanguarda do atletismo internacional.

Em 2022 foi campeã mundial em pista coberta e prata no Campeonato Europeu. Em 2023 foram dois títulos de etapa na Diamond League (Rabat e Paris), mais o ouro nos Jogos Europeus, na Polônia. Resultados na pista que impressionam pela consistência e regularidade.

"Tornar-se tão consistente tem sido natural. Temos trabalhado para estarmos estáveis, não tendo grandes diferenças nas minhas performances, mas sendo regulares para estarmos entre as cinco primeiras em todas as competições. Tem sido importante para nós", argumenta Auriol Dongmo.

Premiada, ao lado de Pedro Pichardo, como melhor atleta portuguesa de 2022, é justamente isso que Auriol tem feito. Em todas as provas que disputou em 2023, não ficou abaixo do quinto lugar.

"Ser regular é útil para tentar alcançar grandes feitos nos maiores eventos", acrescenta Dongmo, ao se referir ao Campeonato Mundial de Atletismo Budapeste 2023, o próximo desses maiores eventos. Um retrospecto que a coloca entre um dos grandes nomes do torneio feminino do arremesso de peso, que acontece neste sábado (26 de agosto).

Desde a capital húngara, Auriol Dongmo falou com o Olympics.com sobre os recentes resultados e como chega a Budapeste, com a força da família e de olho em Paris 2024.

Portuguesa "graças" a Nossa Senhora de Fátima

Nascida na República dos Camarões, cresceu em uma família católica, ouvindo sobre as Aparições de Fátima. Atleta desde muito cedo, especializou-se no arremesso de peso e representou o país africano na Rio 2016 (com a marca de 16,99m).

No ano seguinte, em 2017, teve convite para treinar na França. No entanto, por conta da devoção por Nossa Senhora de Fátima, queria ir mesmo era para Portugal. Criou conta em rede social para contactar o Sporting Lisboa, clube que ela já tinha boas referências no trabalho com a sua disciplina.

Recebeu uma resposta positiva dos "Leoninos" e mudou-se de país.

"Sempre adorei Portugal por causa de Nossa Senhora de Fátima", revelou Auriol em entrevista para o jornal "Diário de Notícias".

Anos em Portugal e a adaptação à vida portuguesa tornaram-na cidadã do país. Nas pistas, a dedicação ao trabalho, o desenvolvimento do seu desempenho, mais os resultados pelo Sporting, consequentemente, fizeram com que ela pudesse integrar a seleção nacional e competir sob bandeira lusa, a partir de julho de 2020.

Um ano depois, competiu em Tóquio 2020 por Portugal. Ficou em quarto lugar, a cinco centímetros do pódio, com 19,57m.

"Tóquio 2020 é uma lembrança amarga", lembra-se a atleta. "A competição foi difícil para mim, não correu como eu esperava. Às vezes, as coisas não estão indo na sua direção. Mesmo que você sinta que está em boa forma, pode não vencer. Eu estava em boa forma, em muito boa forma e almejava o pódio. Foi doloroso, mas deixei isso para trás e continuei avançando", explica.

A evolução dos resultados de Auriol

Pouco mais de seis meses depois dos 19,57m Jogos na capital japonesa, Auriol colocou Portugal no topo do pódio com o ouro no Mundial Indoor, em Belgrado, ao fazer 20,43m, a melhor marca do planeta na prova em oito anos. Em agosto, mais um pódio, com a prata no Campeonato Europeu, realizado em Munique, com 19,82m, seu melhor resultado pessoal em pista descoberta (outdoor).

Em março de 2023 fez tocar "A Portuguesa" ao faturar a medalha de ouro no Europeu Indoor, em Istambul (Turquia), com 19,73m. Nos torneios outdoor deste ano, só fez abaixo dos 19 metros apenas em uma competição. Venceu a Diamond League de Rabat com 19,28m e a de Paris com 19,72m.

"Minha filosofia é manter a cabeça erguida, avançar independente dos desafios", pontuou Auriol.

Com tudo isso, ela se sente favorita para Budapeste?

"Todas [as competidoras] somos favoritas. Estamos começando do zero em todas as competições e a melhor vence. Estou confiante, minha preparação foi boa e vamos ver o que acontece no sábado", respondeu.

Força na família com foco em Budapeste e olhos em Paris 2024

Mesmo longe da sede do Sporting, em Lisboa, Auriol treina em Leiria, onde vive seu treinador. Curiosamente ela está bem próxima ao Santuário de Fátima. "Minha fé é importante para mim, me ajuda a ser forte em todas as situações", coloca.

Força que vem da fé, sim, mas em Leiria tem também mais tempo ao lado da família. É mãe de um menino de quatro anos, a quem dedica suas conquistas. Filho e toda a família são fontes de inspiração.

"Ser mãe dá uma força adicional. Antes era para mim e um pouco para deixar minha família orgulhosa. Agora é também para o meu filho, é um esforço duplo. Isso me dá mais força quando estou estressada ou com medo. Penso nele e tenho mais força para lutar porque é por ele e pelo meu marido também", diz.

O "começar do zero", na declaração em relação às competidoras e concorrentes, é sinal de que todas elas têm chances, ou seja, Auriol tem plena consciência de que nada está garantido e que é preciso trabalhar pelos resultados. O bom histórico recente não lhe garante nada.

"Eu não tenho que provar nada. Não é porque sou campeã mundial indoor que significa que sou a melhor", explica.

Auriol já tem o índice Olímpico para Paris 2024 e tem meta definida para os Jogos na capital francesa: "Ganhar uma medalha lá é o sonho de todo atleta, e vamos trabalhar para esse objetivo", revela.

No caminho para a França, uma "parada" para o maior compromisso, o Mundial, em Budapeste: "Ter um bom resultado lá [em Budapeste] é muito importante porque mostra como você está e naquilo que pode melhorar", explica.

"Como todo atleta, meu objetivo é subir ao pódio e realizar um bom desempenho", conclui Auriol.

Se o desempenho for de ouro, melhor. Fazendo jus ao seu nome, que vem do latim "dourado".

Auriol Dongmo no Mundial de Atletismo 2023: horário e onde assistir

Os horários são de Lisboa (+4:00 em relação a Brasília).

A atleta portuguesa compete na prova do arremesso do peso neste sábado (26 de agosto). As classificatórias começam às 9:25, com a final a partir das 19:15.

O evento tem a transmissão para Portugal através da RTP 2 e do aplicativo RTP Play.