20 anos de Atenas 2004: seleção masculina de vôlei do Brasil consagra geração que ganhou tudo 

Por Gustavo Longo
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Seleção masculina de vôlei do Brasil com o ouro nos Jogos Olímpicos Atenas 2004
Foto por Adam Pretty/Getty Images

Há 20 anos, a seleção masculina de vôlei do Brasil queria fazer história. Mais do que o ouro nos Jogos Olímpicos Atenas 2004, aquele grupo de 12 jogadores buscava a consagração. Era o único título que faltava para uma equipe que, nas três temporadas anteriores, conquistou a grande maioria dos torneios e venceu praticamente todos os adversários.

No dia 21 de agosto de 2004, a vitória de 3 a 1 sobre a Itália na final encerrava um dos capítulos mais vitoriosos do esporte brasileiro. Um feito que dificilmente será repetido e igualado por aqui. Raras vezes o país foi tão dominante em uma modalidade quanto o time masculino de vôlei no ciclo até Atenas 2004.

Foram nada menos do que 12 títulos em 15 torneios disputados, basicamente 80% de aproveitamento em troféus. A lista inclui três Ligas Mundiais (antecessora da Liga das Nações de Vôlei) e o até então inédito Mundial de Vôlei em 2002.

A campanha na capital grega foi a síntese do ciclo Olímpico para a seleção masculina de vôlei. Houve algumas surpresas e derrotas, mas no fim a equipe soube segurar a pressão para crescer nos momentos decisivos e, principalmente, derrotar fantasmas que atormentavam jogadores e comissão técnica.

Entre eles os EUA, que venceram a Geração de Prata (com Bernardinho no elenco) em LA 1984 e foram eliminados na semifinal em Atenas 2004. Ou então a Itália, superada na final em revanche pela semifinal do Mundial de 1998. E até mesmo a Rússia, vencida na fase de grupos e que era responsável pela derrota mais dolorida daquela geração: a final da Liga Mundial 2002 em Belo Horizonte.

Depois do ouro em Atenas 2004, o Brasil dominou o esporte por mais alguns anos. Alcançou o tricampeonato mundial em 2006 e 2010 e levou o ouro no Rio 2016 após as pratas em Beijing 2008 e Londres 2012. Conquistas que, atualmente, servem de esperança por dias melhores após o país ficar fora da semifinal Olímpica em Paris 2024 pela primeira vez desde Sydney 2000.

ATENAS 2004 | Relembre a campanha do Brasil

Jogadores celebram com o técnico Bernardinho a conquista do ouro da seleção masculina de vôlei do Brasil em Atenas 2004

Foto por Adam Pretty/Getty Images

Bernardinho trocou mulheres pelos homens para comandar geração vitoriosa

O caminho até o ouro na Grécia começou a ser trilhado justamente após os Jogos Olímpicos Sydney 2000. Com a eliminação nas quartas de final (a segunda consecutiva após o título em Barcelona 1992), o país alçou Bernardinho, então técnico da seleção feminina de vôlei (bronze em Atlanta 1996 e Sydney 2000) ao posto de comandante do time masculino a partir de 2001.

A mudança foi imediata. Aproveitando veteranos da conquista de 1992, como Giovane e Maurício, ele deu protagonismo a atletas já consolidados na seleção, como Giba, Gustavo e Nalbert, além de trabalhar com jovens que começavam a se destacar, como Rodrigão, Dante e André Nascimento, e fortalecer Serginho como líbero, posição que tinha sido criada três anos antes.

Logo no primeiro desafio, título da Liga Mundial de 2001 em cima da Itália – um torneio que o Brasil não vencia desde 1993. No ano seguinte, outro tabu foi quebrado: com uma campanha praticamente perfeita, alcançou o título do Campeonato Mundial – sempre com a característica de rodar o elenco entre jovens e veteranos para deixar todos prontos para os momentos mais decisivos.

Equipe ‘campeã de tudo’ em Atenas 2004 também foi moldada com derrotas inesperadas

Não há dúvidas de que ouvir o Hino Nacional na final dos Jogos Olímpicos Atenas 2004 foi emocionante para a seleção masculina de vôlei do Brasil. Entretanto, não dá para afirmar que foi um sentimento único. Naquele ciclo Olímpico o que mais se ouvia na premiação da modalidade era o Hino Nacional.

Foram doze títulos em 15 torneios disputados – 80% do total. Uma doce rotina que permeou o grupo e que não se viu nada parecido na história recente do esporte brasileiro. A lista inclui, por exemplo, três títulos da Liga Mundial (2001, 2003 e 2004), o Mundial de 2002, a Copa do Mundo 2003 (que deu vaga em Atenas 2004), além de torneios continentais como o Sul-Americano (2001 e 2003) e a Copa América (2001).

Entretanto, não foram as vitórias que moldaram a preparação daquele grupo até o ouro Olímpico, mas os três tropeços considerados surpreendentes. O primeiro deles com uma equipe mista na extinta Copa dos Campeões em 2001. Mesmo com a base campeã da Liga Mundial 2001, o país perdeu para Cuba no tie-break.

Depois, na final da Liga Mundial 2002, uma derrota para a Rússia diante das arquibancadas lotadas do ginásio Mineirinho, em Belo Horizonte. Por fim, nos Jogos Pan-Americanos 2003, uma incrível derrota para a Venezuela na semifinal que colocou o país na disputa do bronze – única vez no ciclo que a equipe não chegou à decisão.

Seleção masculina de vôlei teve que superar lesões para alcançar medalha de ouro

Com um domínio impressionante, a seleção masculina de vôlei do Brasil era considerada favorita ao ouro nos Jogos Olímpicos Atenas 2004. Mesmo assim, o país teve que superar duas lesões de jogadores do grupo nas semanas e meses que antecederam a competição para chegar ao título.

O caso mais ‘simples’ foi de Rodrigão, um dos três centrais ao lado da Gustavo Endres e André Heller. Ele sofreu um edema ósseo na perna direita durante a fase final da Liga Mundial. Havia a expectativa se ele se recuperaria a tempo, mas antes mesmo de embarcar à Grécia já estava à disposição da comissão técnica para os amistosos preparatórios.

Porém, nada se compara ao drama vivido por Nalbert, então capitão da equipe e um dos rostos mais famosos daquela geração. Em março, durante partida na Liga Italiana, ele rompeu o tendão do ombro esquerdo e precisou passar por cirurgia. A recuperação prevista era de seis a oito meses – e os Jogos Olímpicos aconteceriam dali quatro meses e meio.

Com um forte trabalho de recuperação e fisioterapia, em quatro meses ele estava recuperado e ficou à disposição de Bernardinho já para a segunda partida na fase de grupos.

Relembre a campanha da seleção masculina de vôlei do Brasil em Atenas 2004

Ao todo, o Brasil fez sete jogos, com seis vitórias e apenas uma derrota na fase de grupos (quando já estava classificado). Confira todos os jogos da campanha da seleção masculina de vôlei nos Jogos Olímpicos Atenas 2004:

Fase de grupos

  • Brasil 3 x 1 Austrália (23/25, 25/19, 25/12 e 25/21)
  • Brasil 3 x 2 Itália (25/21, 15/25, 25/16, 21/25 e 33/31)
  • Brasil 3 x 1 Países Baixos (25/22, 24/26, 25/21 e 25/19)
  • Brasil 3 x 0 Rússia (25/19, 25/13 e 25/23)
  • Brasil 1 x 3 EUA (22/25, 23/25, 25/18 e 22/25)

Quartas de final

  • Brasil 3 x 0 Polônia (25/22, 27/25 e 25/18)

Semifinal

  • Brasil 3 x 0 EUA (25/16, 25/17 e 25/23)

Final

  • Brasil 3 x 1 Itália (25/15, 24/26, 25/20 e 25/22)