Com 17 presenças no Mundial de Handebol Feminino, oito seguidas nos Jogos Olímpicos e 15 títulos africanos, é difícil não dizer que Angola domina a modalidade na África. Mas qual a razão para um desempenho de tanto destaque?
Quem tem a resposta é um treinador bastante conhecido do Brasil: o dinamarquês Morten Soubak, que comandou a equipe feminina brasileira entre 2009 e 2016, levando o país ao inédito título do Mundial Feminino em 2013, e que esteve no comando das "Pérolas" entre 2017 e 2021.
"Angola tem conseguido produzir novas jogadoras e estar no topo da África o tempo todo," comentou o treinador ao Olympics.com.
"Além do futebol masculino, o que há de mais importante em Angola é o handebol feminino," acrescentou.
Sua experiência no handebol angolano também inclui treinar o clube Primeiro de Agosto, uma das principais forças do país ao lado do rival Petro de Luanda. Ambas as equipes são responsáveis por esse movimento de captar, desenvolver e revelar atletas.
“O Primeiro de Agosto e o Petro de Luanda começam muito cedo a encontrar crianças por meio de contatos com escolas e outros pequenos clubes em Angola. Eles podem escolher os melhores de forma consistente e continuar a desenvolver jogadores desde o início, e essa é uma das razões pelas quais continuam dominando”, apontou Soubak.
'Queridinhas' do país, de acordo com Soubak
Com base nos Jogos Olímpicos, o handebol é um dos esportes mais importantes em Angola. Em outubro, as "Pérolas" venceram o Pré-Olímpico Africano, realizado em Luanda, e asseguraram vaga em Paris 2024.
Esta será a oitava participação seguida das "Pérolas" no torneio Olímpico, uma tradição que vem desde Atlanta 1996, quando a equipe disputou pela primeira vez e ficou em sétimo lugar, a melhor colocação de sua história até hoje. Em Tóquio 2020, elas terminaram em décimo.
Da delegação de 20 atletas que foi aos Jogos da capital japonesa, 14 eram do time de handebol feminino - o que mostra como são enormes o status e a popularidade da modalidade no país.
“É acompanhado de perto”, disse Soubak. “A seleção feminina é a queridinha do país. Quando vencem o campeonato africano, percorrem Luanda em carro aberto com gente do governo e são recebidas pelo presidente. Elas são muito populares.”
“Se olharmos para as últimas quatro ou cinco Olimpíadas, há alguns outros atletas que representam Angola, mas as expectativas estão na seleção feminina de handebol. São elas que têm condições de vencer o campeonato africano. Portanto, elas têm um status elevado no país.”
Desenvolvimento do handebol em Angola
O melhor resultado da nação africana no Mundial Feminino foi um sétimo lugar na edição de 2007.
Depois de ter sido eliminada na fase preliminar dos três últimos Mundiais, Angola avançou à segunda fase em 2023 graças ao seu empate em 26 a 26 com a Islândia. Três de cada grupo passavam, e as angolanas superaram as islandesas nos critérios de desempate, atrás da líder França e da Eslovênia no grupo D.
Desde que Soubak deixou o cargo de treinador, várias jogadoras deixaram Angola rumo às ligas mais competitivas da Europa. As condições em Angola estão longe dos padrões europeus, razão pela qual ter cinco jogadoras do elenco atual atuando no Velho Continente é um grande passo.
“Acho que é muito bom para a seleção nacional que mais alguns jogadores possam se testar em um nível superior. Agora, algumas estão realmente atuando pela Liga dos Campeões. É claro que espero que a equipe se beneficie com isso”, disse Soubak.
“Não tenho dúvidas de que o talento é enorme. Algumas das jogadoras que estão agora no Mundial eram juvenis quando eu estava no Primeiro de Agosto. Elas já entraram na seleção principal e há mais a caminho. As jogadoras mais jovens estão prontas para substituir as mais experientes, como Isabel Guialo e Azenaide Carlos.”
O futuro do handebol feminino angolano na África
Três países africanos garantiram vaga na segunda fase do Mundial: além de Angola, Senegal e Camarões avançaram. No entanto, Soubak acredita que as angolanas manterão sua posição como a melhor seleção feminina africana pelo menos por algum tempo.
“As bases e as condições estão criadas; Assim, imagino que elas têm uma vantagem em relação aos demais países africanos. A menos que comecem a investir mais nas federações, penso que Angola dominará o handebol feminino na África por algum tempo ainda”, comentou Soubak.
As "Pérolas" terão como adversárias agora a Noruega - uma das anfitriãs, ao lado de Dinamarca e Suécia -, Áustria e República da Coreia. A final será no dia 17 de dezembro em Herning (Dinamarca).
CONFIRA | Programação e onde assistir à segunda fase do Mundial de handebol