Tati Weston-Webb, Tainá Hinckel e Luana Silva vivem 'sonho de uma vida' nos Jogos Olímpicos Paris 2024

Por Ashlee Tulloch e Virgílio Franceschi Neto
12 min|
Tatiana Weston-Webb of Brazil during training session in Tahiti for Paris 2024.
Foto por William Lucas/COB

O surfe nos Jogos Olímpicos Paris 2024 começa neste sábado (27 de julho), nas ondas de Teahupo'o, no Taiti, Polinésia Francesa. É a segunda edição da modalidade nos Jogos, depois da estreia em Tóquio 2020.

Nos últimos 15 anos o mundo viu um franco crescimento do surfe brasileiro, que colecionou incontáveis títulos e reconhecimento. Não à toa, o Brasil é o país que mais tem atletas em Paris 2024: seis (três em cada gênero). No feminino, Tatiana Weston-Webb, Tainá Hinckel e Luana Silva. Já entre os homens, Filipe Toledo, João Chianca, o "Chumbinho", e Gabriel Medina.

Entre as mulheres da equipe brasileira, Tatiana competiu na capital japonesa. Tainá e Luana estreiam nos Jogos. Enquanto esperam pelo início do surfe em Paris 2024, o Olympics.com conversou com as três surfistas, que compartilharam o que significa competir em palco Olímpico em um lugar tão icônico para o surfe como é Teahupo'o.

Veja abaixo.

Tati Weston-Webb, do Brasil

Foto por William Lucas/COB

Tatiana Weston-Webb com mente e corpo preparados

Olympics.com (OC): Diga o que significa e como você se sente em estar aqui.

Tatiana Weston-Webb: A alguns dias dos Jogos, me sinto em êxtase, nervosa, todos os bons sentimentos antes de uma grande competição, mas esta é "a" grande competição, obviamente. É um pouco mais de preparação mental, visualização, falando com a minha psicóloga, e obviamente minha preparação tem sido ao longo desses dois, três anos e estou aqui agora.

OC: Diga mais sobre a visualização e a preparação. O que isso significa para você? Você gasta mais tempo meditando e visualizando?

Tatiana Weston-Webb: Medito nas manhãs entre e cinco e 10 minutos. Faço muita vizualização, acho que isso cria uma conexão com a onda, me lembrando o quanto eu trabalhei para chegar até aqui e como que independente dos resultados eu só tenho que estar grata por tudo isso, por ser parte de algo tão gigante. Nós como seres humanos, somos emotivos, temos que conhecer as emoções, que nervosismo e ansiedade fazem parte e que sentir pressão é um privilégio.

OC: Quando você fala sobre visualização, não posso me esquecer da sua última participação aqui e o seu incrível 10. O quanto você ainda pensa nessa nota?

Tatiana Weston-Webb: Sim! Como atleta você sempre se critica, mas aí você olha para trás e vê tanta coisa bacana que você já fez. Eu me sinto muito orgulhosa de mim, porque não é fácil desempenhar, tirar uma nota daquele calibre sob um alto nível de pressão. Aquilo testou o meu trabalho duro e o quanto eu queria estar aqui hoje. Eu me parabenizo, sim. Eu olho sim para trás, acho que mereço isso, e acho que aquele foi um momento que eu posso me orgulhar.

OC: Você tem um desejo de repetir isso aqui?

Tatiana Weston-Webb: Eu acho que todo surfista quer fazer um 10 todos os dias, especialmente aqui em Teahupo'o. Aquele sentimento de pegar uma onda bacana e sair da água, ver os amigos e família, é como se fosse o melhor sentimento do mundo, então obviamente é algo que todos querem como surfistas. Claro que eu sonho em ter muitos 10!

OC: Os Jogos Olímpicos são diferentes de outros eventos, você pode falar como é diferente? Talvez você pense que não que existe diferença, você pode dizer o que existe de diferente em relação aos outros eventos?

Tatiana Weston-Webb: A diferença das Olimpíadas, comparando com um campeonato normal, por exemplo, é um sentimento muito diferente. Você sabe que você tem só uma chance de mostrar o seu talento e conseguir alcançar o teu sonho, que vem depois de quatro anos de trabalho... e fazer aquilo que você está sonhando pra ganhar uma medalha. Então realmente é bem difícil explicar a diferença, mas eu acho que, tipo assim, pra mim é 100% diferente. É um sentimento super diferente.

OC: O que é o sucesso para você?

Tatiana Weston-Webb: Sucesso pra mim? Eu acho que eu sou... sei lá, eu não quero colocar alguma palavra que significa sucesso pra mim, porque é realmente o que está acontecendo aqui, eu já estou com bastante sucesso.

OC: O quanto você tem estudado sobre sorteio das baterias, quanto você tem prestado atenção nisso? Você foca nisso ou se concentra mais em si mesma?

Tatiana Weston-Webb: Eu, para falar de verdade, eu só olhei minha bateria quando eles lançaram-nas, daí depois eu nem olhei mais uma vez, eu até esqueço que bateria que eu sou, então eu não estou olhando isso, tenho certeza que não tem nada a ver com as minhas adversárias, mas tem tudo a ver comigo e a minha conexão com a onda.

Tainá Hinckel e a importância da família para o seu surfe

OC: Tainá, para você é muito bom estar aqui, parece surreal chegar neste ponto, nos Jogos Olímpicos, que estão para começar. Você consegue explicar como você está se sentindo este momento, que esperou bastante?

Tainá Hinckel: É um sentimento muito bom poder estar fazendo parte das Olimpíadas, porque é algo que você sonha uma vida inteira em fazer parte, e quando chega aqui tudo está acontecendo. Um sentimento muito diferente, de muita gratidão. Foi muito trabalho até aqui. Então ter conquistado essa vaga já foi algo muito especial para mim e poder estar aqui representando o meu país é algo incrível e também representando toda a minha família, toda a minha cidade, então é o maior evento que tem para o surfe. Isso é incrível para mim e eu me sinto muito feliz e honrada em poder estar aqui representando o meu país.

OC: Interessante e emocionante sentimento que se tem no Taiti, sobre espiritualidade e conexão. Vindo do Brasil, vocês são muito apaixonados pela sua cultura e comunidade. O quanto isso ajuda quando vocês estão longe de casa e você sente o apoio de toda a torcida brasileira?

Tainá Hinckel: É muito bom ter o suporte e o amor que a gente encontra aqui no Taiti. É um lugar muito receptivo, muito mágico e o Brasil realmente é um lugar com muita energia. As pessoas têm boa energia e sempre apoiando muito a todos nós. E aqui no Taiti não é diferente, então eu me sinto muito bem aqui, me sinto em casa praticamente. É um lugar realmente muito especial para mim, a minha segunda vez aqui. Eu já me sinto em casa e... enfim, o Taiti é um lugar que ganhou o meu coração.

OC: O estilo do seu surfe comparado com as condições aqui do Taiti. Mesmo as suas conexões que você faz com as emoções e medo, já que é uma única onda, como você lida com as emoções e sentimentos e dar a sua melhor versão, a do seu surfe, na sua maneira?

Tainá Hinckel: É difícil dizer porque esta onda é gera medo, uma onda diferente das demais, mas me sinto confortável aqui, me sinto em casa, as pessoas são receptivas, me sinto muito bem e é um lugar mágico para mim. Só quero mostrar o meu melhor e me conectar com a onda.

OC: O time brasileiro tem muita atenção, é a equipe com mais surfistas que a maioria dos países, mas o que significa estar em uma equipe tão competente e que te apoia tanto. Você sente este apoio?

Tainá Hinckel: Sinto o suporte do time brasileiro, eles são os melhores. É muito bom estar fazendo parte grande deste time aqui no Taiti e representando o nosso país. É muito bom para mim e eles são maravilhosos, é muito bom estar aqui com eles todos.

OC: O Gabriel Medina tem bons resultados aqui no Taiti, como você se sente diante de alguém como ele, você se sente confortável, pergunta sobre suas opiniões e sentimentos, como é o relacionamento entre vocês?

Tainá Hinckel: Estou aprendendo muito com todos os surfistas aqui, porque eles têm muito mais experiência aqui do que eu. Eles competem no Taiti há muito tempo, para mim tem sido uma grande experiência, tenho aprendido muito é muito bom para mim representar o mesmo país que eles.

OC: Você pode falar sobre a contrução deste momento, quanto de tempo e energia você dedicou a isso, ao momento que você tem hoje, e o seu sentimento de representar a sua família, mais que o seu país, uma família que é apaixonada pelo surfe, o quanto você sente isso no seu coração?

Tainá Hinckel: Eu me sinto muito feliz e grata pela oportunidade de estar aqui representando a minha família, principalmente que acredita em mim. Desde criança me introduziram no surfe quando eu tinha apenas seis anos de idade, Então minha família respira surfe e poder estar aqui representando eles, para mim é a maior alegria de todas e a maior satisfação. Então, realmente é o que eu sinto, assim, é muito louco porque tem muitas emoções envolvidas. É um evento muito especial e num lugar muito especial também, um lugar mágico. Então são muitas emoções diferentes que acontecem, mas representar a minha família aqui é o mais importante, é a minha maior alegria.

Luana Silva: 'Saber que fiz o meu melhor vai me fazer feliz'

OC: Isso era algo que não se dizia porque o surfe não estava nos Jogos Olímpicos. Agora, aqui, com esse momento sendo construído, você está aqui. Quão significante é este momento, prestes a fazer história?

Luana Silva: Espetacular. Quando eu era jovem eu jamais imaginava competir no principal cenário do esporte, que são os Jogos Olímpicos, porque o surfe não fazia parte do programa. Assim que estamos crescendo, desempenhando melhor, me sinto honrada em representar o meu país, minha família e levar a bandeira comigo.

OC: Você mencionou a família, vamos falar sobre o Brasil. Você está longe de casa, você pode falar sobre os costumes, o espírito, a cultura, a comunidade... o sentimento do seu país e da sua família aqui? Você sente isso? Amor e apoio à sua jornada?

Luana Silva: Eu me sinto sinto tão feliz, eu sinto tão emocionada que eu senti muito paixão. Então estou muito honrada de representar esse país lindo, os meus pais são de lá, estou representando eles também, não só o Brasil, que são muito importantes para mim, sempre me apoiaram muito. Estou muito feliz com isso.

OC: O Taiti é um lugar único. Como você tem passado os dias aqui, como você se sente diante de uma onda tão desafiadora? Fale mais sobre o significado deste lugar.

Luana Silva: Essa onda é um grande desafio para mim, é a segunda vez que eu estou aqui. Estou mesmo treinando muito para encaixar mais nessa onda. Não é uma onda fácil para aprender, então a gente está aprendendo cada vez mais e melhorando cada vez mais a cada sessão. Então me sinto feliz com isso, crescendo mais. Estou aprendendo muito aqui e fico feliz com as oportunidades que estão vindo.

OC: Você teve dois treinos hoje, duas oportunidades para estar na água, você se sentiu mais preparada, mais forte, percebe como isso tem crescido e que o "momento" está batendo à porta?

Luana Silva: Acho que agora nos treinos na água eu sinto meio que uma ansiedade, mas muito feliz de estar aqui, de estar sentindo essa vibe com todo mundo. E é isso. Estou tentando pegar cada onda, qualquer onda para eu melhorar o meu surfe, estou me sentindo bem.

OC: Sobre o time. Vocês são um grupo bem bacana. O que vocês fazem, brincam de futebol, se divertem, como vocês aproveitam quando não estão focados no surfe?

Luana Silva: É, bom... o nosso time é bem relaxado mesmo. A gente tem um time muito forte e a gente se diverte muito. A gente esquece um pouquinho da competição, a gente troca uma ideia, ou a gente joga um tênis de mesa, ou a gente joga uma altinha, conversa muito, brinca muito, um time de pessoas muito legais de comunicar, conversar e se divertir. Isso é muito importante no time.

OC: Sua conexão com o João, obviamente, é próxima, como você se sente nesta jornada ao lado dele, de ser possível de um ajudar o outro de certa maneira?

Luana Silva: É incrível viver isso ao lado do seu amor, é uma coisa que eu nunca ia pensar, que nunca ia acontecer, mas aconteceu. A gente está muito feliz, a gente está curtindo cada momento juntos e ele me ajuda bastante, né? Ele me inspira muito. Então isso, isso é muito importante. A gente está muito feliz em estar aqui junto.

OC: O que o sucesso é para você, o que te faz você feliz, o que vai te fazer feliz depois da competição?

Luana Silva: A felicidade para mim é pegar as melhores ondas da minha vida. Ir de cabeça e saber que fiz o meu melhor, isso é o que vai me fazer feliz. Não coloco muitas expectativas sobre mim, são os meus primeiros Jogos, ainda estou aprendendo. Cada onda tem sido melhor, tenho conquitado mais confiança, então eu acho que para mim, em uma bateria poder pegar uma onda mágica, isso vai me fazer feliz.

O surfe em Paris 2024 acontece de 27 a 30 de julho.

Assista a Paris 2024 ao vivo no Brasil.

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