Simone Biles, de Tóquio a Paris: a diferença de três anos e a importância da saúde mental

Há três anos, Simone Biles, superestrela da ginástica artística, desencadeou um debate global sobre saúde mental nos esportes quando decidiu se retirar da final feminina por equipes nos Jogos Olímpicos Tóquio 2020 e das quatro finais individuais subsequentes para priorizar sua saúde mental enquanto lidava com os agoras infames ‘twisties’.

Não foi uma decisão fácil.

Biles foi direta sobre a dor que sentiu por ter que deixar de lado seus sonhos e todo o trabalho realizado nisso. “Trabalhar cinco anos por um sonho e simplesmente ter que desistir dele não foi nada fácil”, comentou a Hoda Kotb na NBC à época.

Olhando para trás, Simone Biles admite que até mesmo dar os primeiros passos em sua jornada de saúde mental, que se tornou grande parte do seu caminho até as três medalhas de ouro e uma de prata em Paris 2024, foi uma luta.

“No começo, acho que a parte mais difícil era começar as minhas sessões de terapia e me convencer a ir”, comentou Biles ao Olympics.com em entrevista exclusiva no mês passado. “Mas assim que vejo meu terapeuta e começamos a conversar, é como se eu estivesse tagarelando o tempo todo. Sou muito grata por isso”.

O impacto de Biles sobre os outros

Então, há muitos outros com a mesma dificuldade, incluindo a medalhista de ouro Olímpica Jade Carey.

“Acho que após Tóquio e Simone usar sua voz sobre saúde mental e como precisamos cuidar de nós mesmas, isso realmente nos fez dar um passo para trás e perceber que não somos apenas robôs na ginástica”, ela comentou. “Temos mentes das quais precisamos cuidar também”.

“Ela não apenas me inspirou”, continuou Carey, “mas sei que ela inspirou muitos outros a buscar ajuda, conversar com alguém, porque não é fácil fazer isso sozinho”.

Presente em quatro edições dos Jogos Olímpicos, a canadense Ellie Black concordou.

“Ter Simone se apresentando e usando sua própria plataforma em Tóquio, acho que foi muito poderoso”, disse. “Como atletas, acho que somos vistos como máquinas ou como alguém que pode lidar com qualquer coisa, ou ser capaz de lidar com qualquer coisa, não importa o que você faça, você vai superar isso. E trabalhamos muito, muito duro, mas somos humanos e precisamos cuidar de nós mesmas antes de tudo”.

“Acho que estamos vendo isso vir mais à tona no esporte”, concluiu Black.

Carey e Chiles colocam em prática

Uma temporada frustrante em 2023 para Carey, que a fez perder o Mundial de 2023, a fez se inclinar para o que Simone Biles, sua colega de equipe, estava falando.

“Tive um ano muito difícil antes dos Jogos Olímpicos”, explicou Carey. “Então, apenas poder falar com alguém e descobrir, ter uma pessoa a mais do meu lado para me apoiar foi realmente útil”.

A campeão Olímpica por equipes em Tóquio 2020 e Paris 2024 diz que seu instinto natural sempre foi manter muitas de suas emoções dentro de si, mas nos últimos anos ela viu os benefícios de colocar a saúde mental como prioridade.

Da mesma forma, Jordan Chiles, sua colega de equipe campeã Olímpica, afirmou que, quando jovem, a psicologia esportiva não funcionou muito bem.

“Eu tentei um psicólogo esportivo quando era mais jovem, mas quando você tem essa mentalidade mais nova, você fica ‘não, eu posso fazer tudo sozinho, estou bem’”, comentou Chiles. “[Agora], eu digo, ‘encontre alguém com quem você possa conversar... alguém em quem você possa se apoiar”.

É parte de uma evolução que Simone Biles também experimentou nos últimos anos.

“Eu queria saber antes de Tóquio que a jornada de saúde mental de cada um é diferente; a sua pode não se parecer com a dos seus amigos ou do seu companheiro ou o que quer que seja”, afirmou. “A jornada de saúde mental de cada um é diferente e única”.

Graças a Biles e companhia, todos os outros também podem saber disso.