Rebeca Andrade comenta 'quase aposentadoria': 'Tinha certeza de que seria minha última'
Ginasta é capa da revista Vogue Brasil neste mês de outubro. Com seis medalhas Olímpicas, suas conquistas são sinônimo de perseverança e representatividade. Após decidir continuar no esporte, já deixa um legado: ser inspiração para milhares de jovens brasileiros.
Rebeca Andrade vive o melhor ano da sua carreira. Aos 25 anos de idade, é a atleta do país com o maior número de medalhas Olímpicas: seis. Quatro delas obtidas em Paris 2024: ouro no solo, prata no salto e no individual, mais um bronze na disputa por equipes. Ícone da ginástica artística mundial, Rebeca leva consigo não só os resultados esportivos, em trajetória que transcende o esporte e que fez dela capa da edição brasileira da revista Vogue, especializada em moda.
Nas páginas da publicação, a ginasta fez uma reflexão sobre a carreira. Falou, sim, das vitórias, mas não só. Comentou sobre a responsabilidade que possui, representatividade e futuro. Celebrada por onde passa, relembrou histórica foto em que Simone Biles e Jordan Chiles fazem referência para a brasileira: “Uma surpresa que me deixou muito feliz, honrada e acho que concretizou algo gigantesco. Três mulheres, pretas, esportistas ocupando um espaço que antes era raro ver sequer uma pessoa preta, imagina três!”
Para Rebeca, uma foto que vai além. Em um país em que as oportunidades estão longe de serem as mesmas para todos, a imagem é representativa e permite sonhar: “Representa uma comunidade gigantesca que por muitas vezes foi impedida de sonhar. A gente mostrou que é possível.”
Sim, é possível sonhar. É por isso que a ginasta menciona frase que sua colega de equipe medalhista nos Jogos, Lorrane Oliveira, tem tatuada: “Está escrito que ‘nada é tão nosso quanto os nossos sonhos’. E eu acredito muito nisso. Para poder acreditar que alguma coisa pode acontecer, é preciso sonhar primeiro.” Resgata as origens humildes, a sua perseverança e complementa: “Olha de onde viemos e tudo que conquistamos!”
Rebeca Andrade e a importância da saúde mental
A rotina de todo atleta de rendimento requer muita disciplina e extrema dedicação à preparação e aos detalhes de finos movimentos que, na ginástica artística, fazem a diferença. Ainda existem pressão e cobranças, tanto externa quanto a interna do próprio atleta. Fatores que, somados, podem comprometer a saúde mental.
“Por muitos anos, ginastas de outras gerações foram tratados como robôs, não podiam chorar por dor ou nem desabafar sobre um problema familiar: era só ginástica, ginástica e ginástica. A partir do momento em que começamos a ser ouvidas, que entenderam que não adianta estar só bem por fora, que precisamos nos sentir seguras no nosso ambiente familiar e esportivo, mudanças aconteceram, e ficou claro que as coisas podem ser feitas de maneira diferente e de formas mais saudáveis”, explicou Rebeca para a Vogue Brasil.
O cuidado com a saúde mental, mais o respeito com o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal do atleta refletem nos resultados. As disputas estão cada vez mais acirradas e a excelência nas apresentações – que beira a perfeição - encanta os olhos de um público apaixonado que lota os ginásios de todo o planeta.
“Nossos resultados no tablado hoje são uma consequência disso.” A rivalidade é vista também com outro olhar, uma vez que cada uma conhece os desafios das colegas para competir em alto nível. “Sempre torci por todas as meninas porque sei o quão difícil foi o caminho para chegarmos até ali.”
Momento de escolhas e a quase aposentadoria
O zelo com uma preparação que concilia o pessoal com o profissional, permitem-na fazer escolhas importantes para a vida – dentro e fora do esporte. “Entendi que já estava em um momento em que poderia tomar minhas próprias decisões, a consciência de que o que eu quero para mim também é válido”, colocou a ginasta para a Vogue Brasil. “Foi um ano incrível profissionalmente, mas foi no meu pessoal que eu pude ver o quanto realmente amadureci”, acrescentou.
Uma dessas escolhas é não mais competir no solo, aparelho em que foi ouro na capital francesa: “Esse tipo de prova é muito desgastante para os membros inferiores, eu tenho muitas cirurgias (oito) e sinto dores. Para mim, chegou. É muito difícil abrir mão de um aparelho em que eu tenho chances, mas preciso colocar a minha saúde em primeiro lugar”, explicou.
Rebeca não esconde que pensou em parar após Paris 2024, tinha até uma carta de despedida preparada: “Sempre que termina uma Olimpíada, falo que não vou voltar na próxima. Este ano eu tinha certeza de que seria minha última.”
Por agora vai tirar umas férias, cuidar do corpo e da mente para voltar ainda melhor “...e pensando na possibilidade de ir para LA28”, completou.
Rebeca Andrade: “É bom você ter alguém em quem se inspirar”
Ao mesmo tempo em que coloca a aposentadoria de lado, ao ser perguntada pela revista sobre como quer ser lembrada, Rebeca não menciona os resultados. Quer deixar, antes de tudo, um exemplo positivo.
Quando começou na ginástica artística, ela teve isso de Daiane dos Santos. Hoje, ela inspira milhares de crianças e jovens, de mesmas origens e sonhos em comum: “Hoje eu sou referência, então poder olhar para outras meninas que querem ser como eu, já é legado. É muito bom você ter alguém em quem possa se inspirar para poder alcançar as coisas que você quer”, refletiu Rebeca.
Afinal, como ela disse parágrafos acima: “para poder acreditar que alguma coisa pode acontecer, é preciso sonhar primeiro.”