Rebeca Andrade 'finge costume' com Nadia Comaneci e revela momento de maior nervosismo em Paris 2024
Rebeca Andrade falou sobre possível volta ao solo, o novo salto que pretende fazer, contou o que sentiu nas finais Olímpicas e ainda revelou o momento de maior nervosismo em Paris 2024.
Nadia Comaneci e Rebeca Andrade foram os destaques desta sexta-feira, 27, na COB Expo, feira de esportes Olímpicos que acontece em São Paulo. A maior medalhista brasileira da história dos Jogos Olímpicos se encontrou com a lenda romena, dona de nove medalhas Olímpicas, em um bate-papo que contou com perguntas do público e a presença de vários medalhistas na plateia.
Rebeca Andrade voltou a responder perguntas sobre um possível retorno ao solo, disse que pretende ainda fazer o 'Andrade' (salto que submeteu recentemente à Federação Internacional de Ginástica) e brincou que “a gente finge costume” ao estar do lado de Nadia Comaneci, antes de lembrar da maior emoção após os Jogos Olímpicos Paris 2024: “Eu sou a maior medalhista Olímpica do meu país, cara!”.
Nadia Comaneci relembra momento em que conheceu Rebeca Andrade em 2013
Rebeca Andrade foi só elogios à Nadia Comaneci ao subir no palco da COB Expo. “É uma honra de verdade. Quando eu conheci a Nadia, ela sempre foi muito gentil, falando coisas boas. É uma ícone do esporte, ídolo. Estar ao lado dela, tendo conquistado tudo o que eu conquistei, é maravilhoso, obrigada por ter vindo”, contou Rebeca, enquanto Comaneci fazia um gesto de surpresa exagerado.
Ela ainda foi perguntada por Marcelo Courrege, que serviu de mediador, sobre a primeira vez que viu algum vídeo de Nadia Comaneci. “Não tem como esquecer, mas minha técnica mostrava muito os vídeos. Era perfeito. Sua graciosidade, forma como se apresentava, elegância”, revelou, antes de se comparar com a vencedora de cinco ouros Olímpicos. “Eu acho que eu tenho uma ginástica muito diferente, mas o carisma é sempre o mesmo, o sorriso, estar feliz”, comentou.
Já Nadia Comaneci disse que viu Rebeca Andrade quando a brasileira tinha 13 anos de idade e venceu o Nadia Comaneci Invitational 2013. “Ela nunca parava, tinha muita energia, fazia muitos movimentos e tinha muita determinação, ia e voltava”, revelou Nadia, que perguntou à plateia quantas pessoas estavam orgulhosas do que Rebeca havia feito, recebendo uma grande ovação como resposta.
Nadia Comaneci e Rebeca Andrade falaram da torcida que cada ginasta tem pelas outras durante a competição. “A gente se admira bastante, a gente se apoia, ajuda a ser melhor. Com muita alegria, muita leveza, muito respeito. Óbvio que todo mundo quer vencer, mas foi legal mostrar isso”. Nadia Comaneci disse que, em sua época, ainda existia o respeito e a admiração, mas não podia mostrar, pois até para os juízes isso seria visto como uma falha.
Nadia Comaneci diz que Rebeca Andrade é diva e faz teatro no solo
Nadia Comaneci foi só elogios para Rebeca Andrade durante toda a noite. “Eu chamo ela de Diva porque ela vai para o solo e fica assim”, imitando a pose icônica. “É teatro, ela tem uma performance incrível. Nosso esporte é ginástica artística, e ela tem os dois, a ginástica e a arte”, elogiou.
A ginasta romena contou sua história desde que iniciou na ginástica, aos seis anos, até os dias atuais, em que ela coordena uma academia de ginástica em Oklahoma, EUA, ao lado de seu marido, Bart Conner, passando ainda pelas nove medalhas Olímpicas em sua carreira. Ela ficou famosa por ter sido a primeira atleta a conquistar um 10 durante os Jogos Olímpicos, um feito que foi repetido outras vezes - inclusive por ela - até a mudança do código de pontuação.
Campeã mundial na trave em 1978 e por equipes em 1979, além do vice-campeonato por equipes e no salto em 1978, Nadia Comaneci é dona de nove medalhas Olímpicas:
- Ouro no individual-geral em Montreal 1976
- Ouro na trave em Montreal 1976
- Ouro nas barras assimétricas em Montreal 1976
- Prata por equipes em Montreal 1976
- Bronze no solo em em Montreal 1976
- Ouro no solo em em Moscou 1980
- Ouro na trave em Moscou 1980
- Prata por equipes em Moscou 1980
- Prata no individual geral em Moscou 1980
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Rebeca Andrade relembra momento em que se sentiu mais nervosa durante os Jogos Olímpicos
Rebeca Andrade teve dois meses agitados desde as quatro medalhas Olímpicas conquistadas em Paris 2024. Na semana passada, ela voltou às competições durante o Campeonato Brasileiro, em João Pessoa, no qual ganhou o título nas barras assimétricas e ajudou o Flamengo a conquistar o título por equipes.
“Passou as Olimpíadas e não parei. Não estou treinando, mas tenho outros trabalhos. Estou um pouco cansada, mas faz parte. Mas tenho curtido bastante cada fase que eu poderia aproveitar. Tendo uma outra visão. Estou muito feliz, isso é o mais importante. Entendo que LA28 está logo ali, mas prefiro pensar dia a dia”, contou Rebeca, dizendo que quer muito “voltar renovada”.
Rebeca Andrade ainda revelou que o dia que ela ficou mais nervosa foi na prova por equipes, na qual o Brasil conquistou o bronze. “Eu sei que as meninas precisam de mim. Eu entendo a importância que é a minha nota. Por isso a minha medalha favorita é a de bronze por equipes. O Brasil precisava dessa medalha. Então, o momento que eu fiquei mais nervosa foi no salto, que eu fui a última, mas aí eu pensei ‘respira gata, vamos lá'. Mas foi o único momento que eu fiquei nervosa”, comentou ela, que recebeu 15.100, a única nota acima de 15 da final por equipes.
Nadia Comaneci concordou que a medalha por equipes também tinha um caráter especial, ainda que, em sua época, seis atletas competiam e um resultado era descartado. Ela lembrou do momento em que Flávia Saraiva caiu no aquecimento.
Rebeca ainda respondeu uma pergunta sobre a trave. “Eu não estava nervosa. Eu fui a última. Eu errei… mas eu consegui assistir a todas as meninas, foi tranquilo de competir. Você precisa fazer tudo muito reto, tudo perfeito para ligar. Mas eu acho que eu fiz uma boa série, por isso que eu não fiquei triste. E ainda tinha o solo, então pensei ‘vai menina’”.
Nadia Comaneci brincou que gostaria que a trave fosse maior, comentando que, quando ela estava em pé nos Jogos Olímpicos, a perna tremia. Rebeca interveio: “Não, se fosse mais largo, ia ficar mais difícil a ginástica”, apontou. “Por isso é importante o trabalho de mente, controlar o corpo, controlar a mente, e por mais que tu tenha um erro consegue voltar ao eixo e competir”.
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Rebeca Andrade fala sobre retorno ao solo e novo salto
Para os próximos meses, Rebeca Andrade frisou que sua prioridade é o autocuidado: “A prioridade é minha saúde, física e mental. Preciso cuidar do meu corpo. Sinto que todo dia ele pede isso. Vou ter um ano mais tranquilo ano que vem, já conversei com o Chico (Porath, treinador)”.
Rebeca foi perguntada pelo público se já repensou a sua decisão de não competir mais no solo, aparelho no qual é campeã Olímpica: “No momento eu não quero. Talvez porque eu ainda estou muito cansada, sinto muita dor. Só o tempo vai dizer. Mas se for a minha escolha…"
"A Aline Wolff (psicóloga de Rebeca) me ensinou que eu aguento muitas coisas, às vezes eu passo do meu limite, mas às vezes eu tenho que respeitar meu limite. E eu já passei. Foi uma escolha minha ter feito solo nos Jogos Olímpicos. Você acha que eu vou perder uma Olimpíada, tou maluca?”, brincou Rebeca, antes de completar de forma mais séria.
“Mas eu ainda tenho mais quatro anos para treinar, eu posso em dois anos fazer apenas dois aparelhos, para depois, talvez, se precisar fazer, eu faça (todos). Eu espero que não precise, eu espero que venham outras meninas super talentosas que façam muito bem. Eu vou me sentir muito feliz e orgulhosa por fazer parte das histórias delas. Mas se eles precisarem e se na minha cabeça e com meu corpo eu consiga fazer, eu vou fazer, mas espero que não precise”, decretou a paulista.
Outro assunto que rendeu bastante durante os Jogos Olímpicos foi o salto Yurchenko com tripla pirueta (TTY), que ainda não foi executado em competição e poderia receber o nome de Andrade. Ela chegou a submeter o vídeo, mas não performou durante os Jogos. “Eu espero que sim (faça o salto). Vou continuar treinando, mas só vou fazer quando sentir que confiança. Eu queria ter feito em Paris, mas achei que não precisava ter feito".
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