Rebeca Andrade vai a Paris 2024 como principal estrela do Brasil e quer brilhar ainda mais

Por Mateus Nagime
8 min|
Rebeca Andrade
Foto por 2023 Getty Images

Rebeca Andrade chega aos Jogos Olímpicos Paris 2024 como o grande nome da delegação brasileira. Depois de conquistar a prata no individual geral e o ouro no salto em Tóquio 2020, ela fez um ciclo Olímpico brilhante, se sagrando campeã do individual geral no Campeonato Mundial Liverpool 2022 e conquistando cinco medalhas no Mundial Antuérpia 2023. Ela chega, portanto, a Paris 2024 com possibilidades de se tornar a atleta com mais medalhas na história Olímpica do Brasil.

A vida de Rebeca Andrade mudou completamente após sua participação nos Jogos Olímpicos Tóquio 2020. Mas não é exagero dizer que o inverso também aconteceu. O esporte brasileiro e mundial se rendeu completamente ao brilho de Rebeca desde seus feitos em Tóquio 2020. Nos Jogos Olímpicos que aconteceram em 2021, ela fez história e é até difícil acreditar que a sua participação esteve em dúvida até poucas semanas antes dos Jogos.

Rebeca Andrade, uma nova estrela na constelação Olímpica

Seu impacto no universo Olímpico é tão grande e recente, que ainda é difícil mensurar seu impacto. Por muitos anos, a trajetória de Rebeca foi observada de perto, mas as notícias giravam em torno principalmente de suas lesões e cirurgias do que de resultados. Portanto, não é exagero falar que Tóquio 2020 foi um salto para glória.

Em agosto de 2021, na capital japonesa, ela se tornou a primeira mulher e apenas quinta atleta brasileira multi-medalhista em uma mesma edição de Jogos Olímpicos. Desde então, a carreira deslanchou nestes três anos.

É uma das 11 mulheres a ter conquistado medalha em todos os eventos do Campeonato Mundial de Ginástica Artística, com três títulos mundiais, quatro pratas e dois bronzes. Nos Jogos Pan-Americanos Santiago 2023 foram dois ouros, e duas pratas. Além disso, ela venceu por três vezes consecutivas o Prêmio de Atleta Feminina do Ano outorgado pelo Comitê Olímpico do Brasil. É a única atleta na história do prêmio, em qualquer gênero, a conseguir esse feito.

Um diamante que sofreu com três LCA ainda na adolescência

Nascida em 8 de maio de 1999 em Guarulhos, Rebeca Rodrigues de Andrade iniciou na ginástica aos seis anos. Foi uma infância difícil, na qual a ginasta caminhava 1h30 aos treinos e se alimentava no ginásio. Ao lado do treinador Francisco Porath, Rebeca se mudou para Curitiba aos 10 anos. Lá integrou a seleção brasileira, passando a competir em 2012, ano em que ganhou na Colômbia cinco medalhas no Pan-Americano Juvenil, incluindo o ouro no individual geral, solo e salto.

Foi o início de um período com mais lutas do que glórias. Rebeca encantava o público por onde passava, mas uma fratura no dedão do pé significou que ela não pôde participar dos Jogos Olímpicos da Juventude Nanquim 2014, sendo substituída por Flávia Saraiva.

Na estreia pela seleção adulta, ela fez uma belíssima prova de barras assimétricas na Copa do Mundo de Liubljana. Passando em primeiro lugar nas eliminatórias, conquistou o bronze mesmo com dois erros. Portanto, já estreou em nível internacional subindo ao pódio. Porém, rompeu pela primeira vez o ligamento cruzado anterior em 2015, ficando de fora dos Jogos Pan-Americanos Toronto 2015.

2016 foi o ano de consolidação da atleta que voltou de sua primeira cirurgia com ótimas apresentações no circuito internacional. Foi o ano em que a joia de então 16 anos conseguiu fazer a festa do público brasileiro. Primeiro, na Copa do Mundo de São Paulo, com a prata no salto. E poucos meses depois, ela passou em terceiro nas classificatórias dos Jogos Olímpicos Rio 2016, mas terminou em 11º na final do individual geral e participou da equipe brasileira que terminou em oitavo.

Em 2017, Rebeca rompeu novamente o LCA, se submetendo a uma segunda cirurgia. Finalmente, em 2018, ela conseguiu participar de um Mundial de Ginástica Artística, em Doha, competindo nas barras, salto e trave, ficando de fora do solo. Em 2019, novo baque quando rompeu o LCA pela terceira vez em junho, durante o Campeonato Brasileiro.

Dúvidas e apreensão marcaram meses antes de Tóquio

O Campeonato Mundial de Stuttgart 2019 era um importante evento pré-Olímpico. Sem Rebeca Andrade e com Jade Barbosa se machucando no primeiro aparelho, o Brasil terminou apenas em 14º lugar. Após quatro participações nos Jogos Olímpicos, o país não conseguiu classificar para a prova por equipes e a participação de Rebeca Andrade ficava cada vez mais em dúvida.

É curioso lembrar que Rebeca Andrade foi o grande nome do Brasil nos Jogos Olímpicos Tóquio 2020, mas até abril de 2021, sua participação não estava garantida.

Depois de sua terceira lesão do ligamento cruzado anterior (LCA), Rebeca retornou na Copa do Mundo de Baku em março de 2020, quando tentava pontos suficientes para a classificação Olímpica. Porém, a competição foi cancelada no meio pelas medidas anti-covid, e os resultados das eliminatórias foram considerados finais, decretando o fim matemático de suas chances através do qualificatório mundial. Restava uma das vagas continentais.

Os primeiros 12 meses de pandemia de covid-19 foram de muito treino e cuidado para Rebeca Andrade e outras ginastas do Brasil. Ela foi para Portugal como parte da Missão Europa do Comitê Olímpico do Brasil (COB) para manter os atletas em atividade. Chegou a contrair a covid-19 em dezembro, mas ficou assintomática.

Nos primeiros meses de 2021, as competições voltavam pouco a pouco, mas existiam dúvidas se o Campeonato Pan-Americano aconteceria. De acordo com as regras da Federação Internacional de Ginástica (FIG), em caso de cancelamento, as vagas restantes seriam nominais e distribuídas pelo Mundial de 2019, aquele que Rebeca não participou.

A Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) então organizou o Campeonato Pan-Americano daquele ano. Mesmo sem torcida, mas competindo em casa, Rebeca brilhou e conquistou o ouro, e mais importante, a vaga Olímpica para Tóquio 2020. Mesmo no Japão, poucos dias antes da prova, Rebeca Andrade ainda mantinha mistério se iria de fato fazer o segundo salto, e disputar medalha na prova.

De lá, o resto é história: uma prata no individual geral, que se tornou a primeira medalha da ginástica artística feminina do Brasil na história. Poucos dias depois, um ouro no salto. Ela se tornou a primeira mulher a conquistar mais de uma medalha para o Brasil nos mesmos Jogos Olímpicos.

Ciclo Olímpico com muitas conquistas que levam a Paris

O ciclo de Paris foi repleto de conquistas para "Rebe": ainda em 2021 ela voltou ao Japão para ser campeã mundial no salto e levar a prata nas barras assimétricas em Kitakyushu. Em Liverpool 2022, a consagração completa: campeã mundial do individual geral, além de ter sido bronze no solo. E em 2023, ela conquistou seu segundo título no salto; foi prata no individual-geral, solo; bronze na trave. Além disso, ela integrou o time brasileiro que conquistou uma prata histórica por equipes.

Ela saiu de Antuérpia com cinco medalhas, um ouro, três pratas e quatro bronzes, e com a vaga Olímpica encaminhada para Paris 2024. Depois disso, começou a esconder mais o jogo. Seu rosto e corpo eram visíveis pelas ruas e metrôs de Santiago, onde foi uma das embaixadoras dos Jogos Pan-Americanos Santiago 2023. Quebrou um jejum de 16 anos sem ouro da ginástica artística feminina do Brasil, com os títulos no saldo e na trave. Sem competir no solo, ela ainda foi prata por equipes e barras assimétricas.

Depois de um período de festas, que envolveu muitos prêmios no Brasil, Américas e mundo, ela se escondeu no Centro de Treinamento da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) e estreou apenas em março de 2024, tirando seus merecidos dias de folga, mas focando cada vez mais em treinos para fazer mais história ainda em Paris.

2024 com poucos torneios e muitas expectativas

Na Challenge Cup de Antália, só competiu nas barras assimétricas, ficando com a prata. No mês seguinte, ela disputou o Troféu Cidade de Jesolo de Ginástica Artística 2024, onde ficou com o ouro no mesmo elemento, além da prata na trave e ajudou o Brasil a ficar com a prata.

Sua terceira competição no ano foi o Troféu Brasil de Ginástica, competição de clubes do Brasil. Competindo pelo Flamengo, ela levou ouro nas barras e na trave. Sem competir no solo desde o Mundial de 2023, ela também está escondendo suas cartas no salto, onde é a atual campeã Olímpica e mundial. Ela espantou os presentes em Santiago com um Cheng que está entre seus melhores já apresentados. Porém, desde então está deixando os fãs de ginástica em polvorosa buscando qualquer indício do que ela pode apresentar em Paris 2024, para o esperado duelo com Simone Biles.